Subia, algo subia, ali, do chão,
quieto, no caule calmo, algo subia,
até que se fez flama em floração
clara e calou sua harmonia.
Floresceu, sem cessar, todo um verão
na árvore obstinada, noite e dia,
e se soube futura doação
diante do espaço que o acolhia.
E quando, enfim, se arredondou, oval,
na plenitude de sua alegria,
dentro da mesma casca que o encobria
volveu ao centro original.
...
E nós somos como frutos. Estamos
suspensos lá no alto, em ramos singularmente
emaranhados, fustigados por muitos
ventos. O que possuímos é a nossa
maturidade, doçura e beleza. Mas a força
que produz tudo isso corre em um único
tronco a partir de uma raiz que se tornou
vasta e se estende por mundos em todos
nós. E, se quisermos dar testemunho da
sua força, cada um de nós tem de a utilizar
no sentido mais solitário. Quanto mais
solitário, mais solene, pungente e poderosa é
a sua comunalidade.
Rainer Maria Rilke
in,“Quatro Poemas Esparsos”
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