quarta-feira, 10 de junho de 2020

Virás, Hoje?






Desejaria estender tapetes de púrpura
E desejaria, em toda a região
Encher de bálsamo extraído de pichéis de ouro
As lâmpadas das flores até acima.

E que todas ardessem o tempo suficiente
Para que, cegos pelo dia vermelho,
Nos reconhecêssemos na noite pálida
E a nossa alma se transformasse em estrela.

Ó generosa, tu dás sonhos às minhas noites, 
cânticos às minhas manhãs, 
objectivos aos meus dias e 
desejos solares aos meus crepúsculos vermelhos. 
Tu dás sem fim. 
E eu ajoelho-me e estendo os braços 
para receber a tua graça. Ó generosa! 
Sou tudo aquilo que queres. 
E serei escravo ou rei conforme ralhes ou sorrias. 
Mas és tu que me fazes ser.

Isto, dir-to-ei muitas vezes, muitas vezes. 
A minha confissão amadurecerá, 
cada vez mais simples e nua. 
E o dia em que tiver conseguido torná-la 
perfeitamente simples e em que a compreendas
perfeitamente, será o primeiro dia 
do nosso Verão. Que durará mesmo para além 
dos dias do teu René.

Virás, hoje?



Rainer Maria Rilke




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