quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Quando me invade a preguiça, é fácil





Uma cor que se desfaz ao pé da nuvem com terebentina
até ficar de um vermelho ineficaz, numa varanda onde eu, aos 42,
estou imóvel à medida que as luzes se acendem saudando
e temendo a noite, gente que passa, um zumbido leve de automóveis, 
o céu imediato como uma girândola de lâmpadas e um escuro-chuva.
O que te diz o horizonte?, é significativo ou portátil?
Uma paisagem de tinta mal emendada com um trapo.

Aos 42, em vez de solidão augúrios, e a sabedoria trocada
por pressentimentos. Ilusões apenas o "eu" onde tudo acontece,
ou a figura subjectiva que garante o crepúsculo.
A tarde é que existe e decai, sem mais, em rumores e semáforos,
o eu é coisa indistinta, apagável como uma mancha.
Escrevo, mas tudo o que escreva está submerso pelo queixume
dos pássaros que enchem as árvores e se ouvem no futuro.


Pedro Mexia





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