quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Amo-te e não é a brincar





Não há nada mais transparente do que o amor
Deitado como morto na sua ilusão
Tenso e erecto na sua verdade.

Nascer estando a olhar cada entardecer
Dormir surdo encostado ao mal
Sonhar sem se colocar em causa.

O caminhar plúmbeo das lágrimas
Sobre as grandes pedras e o nosso júbilo
Pelas folhas verdes que vemos no bosque.

Eu sou um animal estranho
Falo-te com as orelhas que tenho
Com a voz que falo escuto e te entendo.

Corredor do evidente-opaco
Ser ou sonhar que se é
Sobreviver a si mesmo ou voltar a nascer.

Na primeira vez que te vejo dou-te um beijo
Na vez seguinte tratas-me por tu
E para sempre dou-te a minha fé.

Nada tenho a ganhar
Amo-te demasiado para te perder
Amo-te e não é a brincar.


Paul Éluard




Sem comentários:

Enviar um comentário