segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Dicionário Machista


Em meio às actuais discussões e gritos contra a sociedade patriarcal e seus resquícios, Salma Ferraz (que é doutora em Literatura Portuguesa, professora associada de Literatura Portuguesa da Universidade Federal de Santa Catarina e autora de mais de vinte livros de crítica literária e ficção) agrupa frases e citações sexistas no livro “Dicionário Machista – Três mil anos de frases cretinas contras as mulheres”, que mistura humor e erudição.
As declarações que compõem a obra são de escritores, celebridades, pensadores, músicos e anónimos. Entre eles estão: Nietzsche, Machado de Assis, Vinicius de Moraes, Marilyn Monroe e até mesmo Jesus Cristo.

Desta forma, Salma tenta mostrar como a sociedade patriarcal influencia nos pensamentos e na moral tanto de homens, quanto de mulheres através de milénios. “Eu ouvia uma coisa ali, outra aqui, e aí fui juntando tudo e guardando. Achei que reunindo num dicionário as frases poderíamos ter uma ideia mais selectiva de que como e o que os homens pensavam sobre as mulheres e até mesmo e o que as mulheres pensavam sobra elas mesmas”, conta a autora.

Salma afirma que, durante a construção do livro, conseguiu perceber os avanços da sociedade na questão e que, mesmo assim, “a conquista deve ser levada adiante”. Ela deixa claro que o objectivo do livro é expor a estupidez e a irracionalidade das quais o machismo é feito, “deixar registado isto, para que sigamos em direcção a um mundo melhor. Demorou 2 mil anos para que as mulheres conquistassem seu espaço no Ocidente. Sempre digo que a iluminação não tem volta. Temos que caminhar para a frente. Homens não são superiores às mulheres e vice-versa.”, completa.

A autora também não deixa passar o “machismo velado” – que é o mais comum actualmente na sociedade Ocidental – e diz que é necessário ter cuidado para não se deixar cair nesses termos. “Existe ainda um ranço de machismo suave, aquele que transforma a mulher num mero objecto sexual descartável. No Brasil, há outro tipo de escravidão, a da Bunda, na qual a mulher dança com o rosto voltado para a parede. Não importa seu nome, só sua bunda que fica voltada para o público masculino, é o que eu denomino de a hiperbunda midiática”, finaliza de forma cómica.

Algumas citações presentes no livro são:

Chamar uma mulher de galinha é uma ofensa. Coitada da galinha, que vive à disposição do galo, na hora que ele quiser, como uma odalisca num harém. (Carmen Miranda, cantora e actriz)

“Vais ver mulheres? Não esqueças o açoite”. (Nietzsche)

Não digo que toda mulher goste de apanhar; só as normais. (Nelson Rodrigues)

Existem umas feias potáveis. Mas a maioria só serve mesmo para fazer sabão. (Vinicius de Moraes)

Pouquíssimas são as mulheres capazes de abrigar dois conceitos ao mesmo tempo. (Woody Allen)

Professora não é mal paga, é mal casada. (Paulo Maluf)

“Fraqueza, teu nome é mulher”. (Shakespeare, em Hamlet)

“A mulher, quando pensa, pensa mal”. (Publílio Siro)


Ana Martins


Não nos devemos esquecer, que o ódio, desprezo ou repulsa à mulher e às características que lhe são associadas, é chamado de “misoginia”. 
E que o termo “machismo” e suas variações referem-se ao patriarcalismo da América Latina, é um termo, portanto, latino.

“A misoginia é um aspecto central do preconceito sexista e ideológico, e, como tal, é uma base importante para a opressão de mulheres em sociedades dominadas pelo homem (patriarcais). 
A misoginia é manifesta em várias formas diferentes: de piadas, pornografia e violência ao autodesprezo que as mulheres são ensinadas a sentir pelos seus corpos.”, segundo Michael Flood. 

Por este ponto de vista, é fácil perceber o sexismo nas entrelinhas do nosso quotidiano.

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