quinta-feira, 25 de julho de 2024

Vida Imaginada

 




Na minha juventude estava convencido 
de que a serenidade ajuda a imaginar. 
Agora sei que na vida imaginada 
o pior de mim já está nos alicerces. 
Já me esqueci de tantas versões históricas: 
as mentiras dos clássicos e dos românticos. 
E, ao mesmo tempo, quão aborrecido 
o actual labirinto, quão complexo e sujo, 
e, envolvendo tudo, uma noite estrelada 
que em caso algum serei capaz de compreender. 
Hoje só uma voz me fala 
surgida da dureza que há na própria vida, 
a única na qual vejo ainda alguma verdade: 
a música a cobrir o nada de beleza, 
os meus poemas, a força do amor 
e da palavra juntas. Tu e eu. 
Os que os lerem na sua própria solidão.


Joan Margarit





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