terça-feira, 23 de abril de 2024

O PERVERTIDO






Durante a noite, ou à hora da sesta,
quando estávamos os dois juntos, via-me 
obrigada a contar umas histórias 
cínicas e mórbidas, sem qualquer 
decência, e sendo eu a protagonista.
Nunca pensei que acreditasse nelas,
pois ele mesmo pedia outro relato,
outra aventura sádica, excitante,
descarada, em que eu fosse sedutora
e seduzida por diferentes homens.
Pensei que era feliz com as mentiras 
que para ele engendrei com tanto esmero.
Mas começou a crer que as minhas palavras
eram memórias, e não fantasias,
e abandonou-me, com a desculpa 
de que o diabo estava entre as minhas pernas 
e ele não tinha nada de exorcista.


Amalia Bautista

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