segunda-feira, 13 de julho de 2020

A Cura de Schopenhauer






O livro conta a história de um psiquiatra que, ao receber o diagnóstico de um melanoma incurável, com uma previsão de um ano de vida, revê os arquivos dos seus antigos pacientes para descobrir se o seu trabalho fez alguma diferença na vida dessas pessoas. O cancro de pele força o renomado psiquiatra Julius Hertzfeld a fazer um balanço de vida.
A depressão e a tristeza dão lugar à vontade de rever pacientes antigos e à pergunta: será que o trabalho dele fez alguma diferença na vida das pessoas?
Julius resolve procurar Philip Slate, um ex-viciado em sexo, que considera seu maior fracasso como terapeuta. Ao encontrá-lo, Hertzfeld descobre que Philip curou-se a si próprio seguindo a filosofia pessimista de Arthur Schopenhauer e tornou-se um orientador filosófico. Para obter a licença que o habilitaria a atender pacientes e a ser terapeuta, Philip propõe a Julius que o supervisione e, em troca, ensinará ao psiquiatra o pensamento do filósofo alemão — segundo ele, a cura para as suas angústias em relação à morte iminente. Julius decide ser seu supervisor, mas em troca exige que Philip participe das suas sessões de terapia em grupo, rejeitando os ensinamentos sobre o filósofo alemão. 

Arthur Schopenhauer (Danzig, 22 de Fevereiro de 1788 — Frankfurt, 21 de Setembro de 1860) foi um filósofo alemão do século XIX. Ele é mais conhecido pela sua obra principal "O mundo como vontade e representação" (1818), em que ele caracteriza o mundo fenomenal como o produto de uma cega, insaciável e maligna vontade metafísica. A partir do idealismo transcendental de Imannuel Kant, Schopenhauer desenvolveu um sistema metafísico ateu e ético que tem sido descrito como uma manifestação exemplar de pessimismo filosófico.
Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos budistas na metafísica alemã. Foi fortemente influenciado pela leitura dos Upanishads.

É conhecido pelas suas ideias pessimistas sobre o sentido da vida, os relacionamentos e os desejos só levam à dor e ao tédio. A salvação para o sofrimento humano, causado pela existência, é renunciar ao mundo, tornando-se assim verdadeiramente livre. Schopenhauer acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ele tivesse algo a ver com a felicidade. Era apenas a vontade cega e irracional que todos os seres têm de se reproduzirem, dando assim continuidade à vida e, por conseguinte, ao sofrimento. A sensação de felicidade que o amor traz é apenas o canselamento temporário do querer, a fuga de uma dor imposta pela vontade.

Para Schopenhauer, somente o sofrimento é positivo, pois se faz sentir com facilidade, enquanto que aquilo ao qual chamamos felicidade é negativo, pois é a mera interrupção momentânea da dor ou tédio, sendo estes últimos a condição inerente à existência. Considerava esse impulso de reprodução, esse "génio da espécie", tão forte como o medo da morte, daí que muitos amantes arriscam a vida e a perdem obedecendo a este desejo.

Apesar de ser, nos tempos contemporâneos, mais conhecido pela sua obra magna (O Mundo como Vontade e Representação), foi apenas com a publicação de "Parerga e Paralipomena", no final de 1851, que ficou amplamente conhecido e famoso ainda em vida. Nesta obra o filósofo discorre sobre uma multitude de assuntos que vão desde temas relacionados ao ensino universitário, à escrita, à sociedade em que vive, revê conceitos que outrora defendia e providencia inúmeros conselhos aos leitores sobre como levar uma vida o mais isente de sofrimento possível.

As ideias de Schopenhauer consistem numa colectânea de pensamentos ditos pessimistas que dizem respeito à vida humana. Segundo o filósofo, esta é regida pela vontade e, sendo a vontade, uma espécie de Deus presente em todos os humanos sem excepção, a qual necessita de sobreviver valendo-se do desejo sexual para se reproduzir e multiplicar, e devido ao desejo de sempre querer mais, a vontade acaba por levar ao sofrimento humano, pois o homem nunca será satisfeito com uma única coisa. Uma vez que a Vontade é tida como a coisa-em-si/essência do ser humano, e o homem ser, do ponto de vista cósmico, não mais que um tipo de ser no meio de vários outros tipos de seres, Schopenhauer, valendo-se de uma razão analógica, sente-se autorizado a estender essa substância primordial (a Vontade) a todos os seres, concebendo-a, assim, como essência não só do homem, mas do mundo. Schopenhauer procura uma forma de libertação dessa vontade baseando-se em escritos budistas e na filosofia oriental, que diz que a única forma de se libertar da vontade é a total renúncia de todos os desejos, a qual resulta no Nirvana. 

O ponto de partida do pensamento de Schopenhauer encontra-se na filosofia kantiana. 
Immanuel Kant (1724 – 1804) fez a distinção entre os fenómenos e a coisa em si (que chamou noumenon), isto é, entre o que nos aparece e o que existiria em si mesmo. A coisa-em-si (noumenon) não poderia, segundo Kant, ser objecto de conhecimento científico, como até então pretendera a metafísica clássica. A ciência restringir-se-ia, assim, ao mundo dos fenómenos, e seria constituída pelas formas a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e pelas categorias do entendimento (a exemplo da categoria da causalidade). Dessas distinções, Schopenhauer concluiu que o mundo não seria mais do que representações, entendidas por ele, num primeiro momento, como sínteses entre o subjectivo e o objectivo, entre a realidade exterior e a consciência humana.

O título do livro é uma referencia a Arthur Schopenhauer, chamado de filósofo do pessimismo.
Ele entrou para a história com a imagem carrancuda de velho rezingão, mal-amado e invejoso.
Schopenhauer nasceu numa família rica, em Danzig, no ano de 1788. A mãe era escritora e defendia uma postura considerada liberal para a época. Após o suicídio do marido, sentiu-se livre para ser quem era e viver a vida que sempre quis, mudou de cidade, começou a escrever livros e passou a viver com um jovem amante. O filósofo reprovava abertamente essa conduta.
Somado ao seu desapontamento com a figura materna, tinha um apetite sexual voraz mas as suas decepções amorosas transformaram-no num misógino convicto. Carregou, por toda a vida, um grande rancor por todas as mulheres.
Contudo, a sua vida não foi feita apenas de frustrações.
Numa fase tardia da sua vida, os seus textos passaram a atrair a atenção de escritores e de outros intelectuais. Ele exerceu influência em Friedrich Nietzsche (1844-1900), Sigmund Freud (1856-1939) e Machado de Assis (1839-1908). 

Deste livro, escrito por Yalom, retiramos tudo o que tem a ver com o nosso carácter, perspectiva de vida, a forma como nela estamos e interagimos com os outros, anseios, medos, alegrias pelo que, cada um à sua maneira, interpretará como este livro pode ou não ajudar à busca da sua própria e peculiar forma de felicidade. Por isso, quanto mais nos identificamos com a história, com as personagens, reais ou imaginárias, com as situações criadas pela criatividade do autor, maior é a nossa fascinação pelo livro! É um livro que, como já nos habituou Yalom, apresenta-nos uma nova postura, que questiona as nossas ideias e a nossa forma de ser e estar que, até agora, considerávamos intangíveis. Ensina-nos que somos fruto de permanentes evoluções mentais, emocionais, espirituais e até físicas, com as quais temos de saber lidar.

Para Julius Hertzfeld, psiquiatra renomado e defensor da terapia em grupo, a salvação só é atingida quando se constroem relacionamentos sólidos, baseados na compreensão das diferenças. É a vontade de ajudar as pessoas a encontrar esse caminho que o leva a continuar a trabalhar, mesmo fragilizado com a notícia de que tem um cancro de pele incurável.
Neste livro, Irvin D. Yalom consegue como ninguém juntar psicanálise, filosofia e ficção, debatendo as fragilidades do ser humano e a sua difícil busca pelo autoconhecimento. Alterna as discussões, as conclusões do grupo de terapia, com excertos da vida de Schopenhauer o que nos ajuda a conhecer a beleza e a profundidade do seu pensamento filosófico.
Não é um livro pessimista, muito pelo contrário!
Trata das questões reais e profundas da condição humana.

Em relação à misantropia de Schopenhauer! 
A necessidade intelectual isolada em oposição à construção social do ser, aqui entendida como elemento gregário.
A ideia do livro é desmontar, desconstruir a ideia de que não nos bastamos a nós próprios, de que precisamos dos outros para encontrar a tão desejada felicidade!
Através de um grupo de psicanálise, orientado pelo psiquiatra Julius Hertzfeld, e do qual fazem parte personagens que, ou têm dificuldade de lidar com a sua vida emocional, ou consigo próprias e a sua aparência, reunindo-se uma vez por semana altura em que, através de uma espécie de catarse colectiva, tentam derrubar os seus fantasmas, os seus medos, o passado, o presente ou o futuro.
O facto de Julius Hertzfeld, recentemente diagnosticado com um melanoma com uma esperança de vida extremamente curta de apenas um ano, proporcionará ao grupo posicionar-se face à morte, tema esse que, faz tão parte da condição humana como rir, comer, respirar, conviver.



"Viver é sofrer." É o modo como Arthur Schopenhauer filósofo do século XIX conhecido por suas ideias pessimistas em relação ao sentido da vida, encontrou para dizer que os relacionamentos e os desejos só levam à dor e ao tédio. A salvação para o sofrimento humano, causado pela existência, é renunciar ao mundo,isolar-se dos outros, tornando-se assim verdadeiramente livre.

Para a personagem Julius Hertzfeld, psiquiatra renomado e grande defensor da terapia em grupo, a salvação só pode ser atingida quando se constrói relacionamentos sólidos, baseados no amor e na compreensão das diferenças e dos limites de cada um.






Sem comentários:

Enviar um comentário