sexta-feira, 16 de abril de 2021

NA HORA CERTA





Já se falou que um romance, para vingar, precisa acontecer entre pessoas que tenham muitas afinidades.
Outros defendem que os temperamentos é que têm que combinar. 
Outros, ainda, dizem que não pode haver tanta diferença de idade, ou situação financeira discrepante. Amor à distância? Ele em Rondônia e você em Floripa? É dar muito crédito ao cupido, melhor esquecer e procurar algo mais perto do seu quintal.

Falam, falam, falam. E quanto mais se fala, menos escutamos.
Mergulhamos fundo em relações caóticas, o que quase todas são, pois dificilmente dois seres humanos se reconhecerão como almas gémeas, esse troço que dizem que existe, mas que aqui nunca bateu a campainha.

O jeito é virarmos experts no gerenciamento do caos.
E lá vamos nós amar, sofrer, viver em êxtase, viver aos prantos, apaixonados e desapaixonados, tontos pelos altos e baixos dos nossos desejos, os explícitos e os secretos. 
É isso ou sair do jogo, resignando-se à única relação que pode durar para sempre: você com sua (bendita ou maldita) solidão.

Todo esse preâmbulo não é para desanimar ninguém.
Sou da turma que diz: vá! Tenta com o bonitão e com o feioso, com o surfista e com o tiozão, com o socialista e com o neoliberal (quer tentar com a bancada evangélica, sorte aí). Vá ao encontro dos seus iguais, e também diga sim para os que você pressente que, após duas semanas, nunca mais. O amor pode estar escondido onde você nunca imaginou encontrá-lo, então use as ferramentas que te deram e boa sorte na extração. Não conheço outra aventura na vida mais educadora e mais estimulante – muitas vezes, mais frustrante também, mas qual é a alternativa?

Desistir de amar não é uma alternativa, é apenas uma estratégia para se proteger de futuras decepções. 
O amor dá certo até quando dá errado, pelo simples fato de ter acontecido.
Mas se você pleiteia a eternidade conjugal, lembre que ficha corrida ("inteligente, bonito, divertido") não garante nada. O sucesso depende apenas de algo que em bom português se chama timing: surgir na hora certa.

Os dois se encontram quando programaram os mesmos filmes para assistir até o fim dos dias. 
Os dois se encontram quando têm problemas parecidos que nunca serão resolvidos e tudo bem. 
Os dois se encontram quando a libido continua tão valorizada quanto o cérebro. 
Os dois se encontram quando ambos já abriram mão de suas idealizações, mas ainda gostam de conversar sobre elas.


Esses dois abençoados estão aptos para o amor eterno pela simples razão de terem se conhecido quando desejavam a mesma coisa da vida.
Querer o mesmo é que dá match.



Martha Medeiros





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