terça-feira, 5 de junho de 2012

A história de um livro proscrito




Foi em 1973, num país atrasado chamado Portugal, que apareceu um livro chamado "Novas Cartas Portuguesas".
Na capa, assinavam Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa.

Para a edição, uma outra grande mulher se lhes junta.
Natália Correia, poeta, romancista, ensaísta e directora do conselho de leitura da Estúdios Côr é a única que se arrisca a dar o nome pelas escritoras que passariam a ser conhecidas como As Três Marias.

O livro, cedo detectado e apreendido pela pide, daria origem a um longo processo judicial, que incluia acusações de pornografia e ofensa à moral pública. Com a sentença pronta a ser dada em Abril de 1974, as Marias acabaram por ver o assunto resolvido pela Revolução.

Mas há que referir que, ao longo do processo, as Novas Cartas juntaram os mais variados movimentos feministas internacionais, a apoiar as escritoras, com vigílias, marchas e manifestações, em que estiveram incluidas verdadeiras figuras históricas como Marguerite Duras e Simone de Bouvoir.

É uma obra escrita em prosa e poesia, que vai buscar a sua génese às "Cartas Portuguesas" atribuidas a Soror Marianna Alcoforado, freira que, após escrever cinco cartas ao seu amado Marquês de Chamilly, terá morrido de amor. 
Rainer Maria Rilke, que descobriu as cartas, descreve-as como testemunhos de um amor "grande demais para caber numa pessoa só". 

Ao longo do livro das três Marias, perde relevância Marianna e ganha-a Maria, enquanto nome que poderia representar o comum da mulher portuguesa, essa sim, verdadeiro objecto de análise deste livro.

O estereótipo da mulher abandonada, suplicante e submissa, alternando entre a adoração e o ódio, praticando um discurso de paixão avassaladora por aquele (o cavaleiro) que se apaixonara também, mas partira depois, para não mais, regressar. É esta relação de amor e devoção, de subserviência  e autovitimização que as três autoras, três séculos depois os contornos mais gerais, vão desmontar e re-montar, estilhaçando  fronteiras e limites, quer das temáticas, quer da própria linguagem.

 Encontrei nova edição de 2010, a quinta, da Dom Quixote, aqui por terras brasileiras...
Quem diria...as coisas que se encontram por este mundo fora...

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