Luriko Yamaguchi
Ficar velho deve ser,
presumimos,
ficar preso a noções e ambições
que constituíram a aposta
do tempo da juventude.
Mas as pessoas esquecem que,
enquanto vão aplicando essas noções
e ambições, outras pessoas nascem
e se fazem homens,
tendo do mundo uma visão diferente.
E é a visão mais recente - até que outra mais nova ainda a venha substituir - que garante a sobrevivência espiritual e material do homem no mundo.
Assim, aos que se não encontram em estado de vigilante disponibilidade será recusada a compreensão sempre refeita da realidade.
É essa mesma massa humana que se torna um peso para o próprio desejo humano de progressão, que se faz obstáculo ao dinamismo natural da vida.
Por mais argumentos que julgue encontrar, a velhice nunca tem razão.
Não há plano de realidade, nem tipo de actividade, onde isto não seja assim.
(…)
O mal das sociedades que se orgulham de uma grande tradição cultural é que supõem haver encontrado a forma definitiva de resolver os problemas todos.
Passa-lhes desapercebida a qualidade dinâmica da realidade e a exigência que esse mesmo dinamismo tem de instrumento, que da tradição apenas aproveitem aquilo que não morreu e que normalmente é muito menos do que se pensa.
Em todos os domínios, há Velhos do Restelo, que ficam à borda de água meneando sabichonamente a cabeça e falando da loucura do mundo.
Dizem eles: no meu tempo não era assim.
Pois não era, senhores cadáveres.
Herberto Helder
in, 'Em Minúsculas
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