Fecha-me os olhos devagar, com um beijo leve,
com três palavras apenas:
dorme, parte, adeus.
Assim tenho de me despedir.
Deixo uma buganvília à entrada da porta branca,
um bairro de sombras floridas,
um cão a quem dei o meu nome.
Deixo a casa amarela,
o limoeiro, as hortênsias, duas estrelícias na
jarra vermelha,
translúcida,
sobre a mesa de mogno.
Deixo alguns livros,
algumas paisagens de litorais desvanecidos,
alguns naufrágios que desenhei com o lápis das
tempestades.
Por favor,
não digam que fui feliz, se não me viram
caminhar pelas ruas desertas,
esmagando a serpente dos dias,
construindo muralhas,
que pouco depois se desmoronavam.
Eles também se despediram, os amigos.
Quando me lembro deles,
há um cântico negro,
com labaredas altivas, um eco de metal que vibra.
Não está certo que assim seja, que se soltem do
nosso peito, um após outro,
os delicados fios de ouro da ternura.
Deixo-vos as maçãs verdes sobre a mesa.
Com o tempo, tudo há-de amadurecer.
JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA
in, Esta voz é quase o vento
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