DA SERVIDÃO CONSENTIDA
E da desumanidade consequente à tirania de nós mesmos.
É certo que ser livre não é necessariamente ser mais feliz porque exige responsabilidade, traz inquietação e, tantas vezes, dor.
Mas ser livre é uma escolha, e a Liberdade uma planta linda, apesar de frágil se descurada.
É a Liberdade que, aliada ao Amor, dá sentido ao Ser-se humano.
Por isso não importa se dói e não importa quem julga, pois o Ser Humano só o É quando ama sem limite; quando é livre como o vento; quando ousa aprender; quando se dignifica pelo trabalho e quando é recordado pela excelência.
Sempre foi pelo sonho, pela liberdade, pela ousadia e pela competência que o mundo pulou e a avançou.
Não importa a pequenez, o preconceito tampouco a perseguição, porque Ser, Sentir e saber Existir Livre é um privilégio e um acto de coragem que devia ser de todos mas que só alguns compreendem.
Consentir na servidão em nada enobrece a humanidade e deixa sequelas na posteridade.
Um cavalo selvagem, quando lhe põem o freio revolta-se e luta.
Mas a tirania do domador vai moldando a sua vontade e a sua percepção até que a submissão à albarda o faça ostentar, com garbo, os arreios que o apertam. Assim se resigna, um nobre animal, gerando potros já acomodados, obedientes, servis e ilusoriamente felizes.
E eis que nos tornámos, qual cavalo amestrado, nesta sociedade subjugada e contente que, cruel e estupidamente, coarcta à descendência o instinto de ser livre, a sensação de imortalidade e a magia da descoberta enquanto amordaça o seu sorriso.
Somos a sociedade que vem desaprendendo o conquistado, comprometendo a aptidão relacional, os afectos, a saúde física e psíquica, o desenvolvimento, a segurança e o bem-estar das crianças.
E, com a conivência da humanidade sociopata e receosa da incontornável finitude, se hipoteca a felicidade e a prosperidade daqueles que são a continuidade.
Os mais vulneráveis permanecem os mais maltratados nesta crise sanitária, que de sanitária pouco tem. E, sob uma preocupação hipócrita, parecem condenados ao sofrimento silencioso.
- O que andamos a fazer?
- Aonde ficaram a argúcia, a curiosidade, o sentido crítico e o bom senso?
- Aonde ficou a Beleza de sabermos ser Livres?
- Aonde ficou o Amor?
- Poderá a cegueira ser tal e o medo tão insano ao ponto de nos fazerem regredir séculos na civilidade e nos tornarem servos voluntários da tirania que, por segurança, decidimos nutrir?
- Será que nos acomodámos à ignorância e ainda não percebemos que as crianças constituem a barreira imunológica da comunidade e que, no que à doença vip concerne, praticamente não adoecem tampouco são o principal foco de transmissão?
- E quando iremos realizar que a testagem massiva de assintomáticos não traz mais valia ao controlo desta como doutras epidemias, dado o efeito de baixa prevalência, antes gera trauma, estigmatização para além das repercussões sociais do inevitável isolamento dos positivos, muito provavelmente falsos, comprometendo ciclicamente a aprendizagem dos miúdos e o direito ao trabalho dos progenitores?
- Quem são e quais as credenciais dos especialistas que, negando toda a prova científica no que aos testes e à transmissão por assintomáticos concerne, continuam a recomendar medidas obsessivas, germofóbicas, incoerentes, ilógicas mas nada inconsequentes?
- Será que a perversidade e a crendice se tornaram tão hegemónicas que, leviana e infundadamente, reincidem no erro incutindo culpa e preocupação em crianças e adolescentes que deveriam estar a correr, a arriscar, a abraçar, a socializar, a namorar e a sorrir sem restrições e sem remorsos?
Desafortunadamente muitos adoeceram e, infelizmente, muitos sucumbiram à doença da moda. Mas continuam a ser muitos mais os que a superaram sem sequelas.
E são ainda mais os que padecem doutras doenças e delas falecem para não falar dos que, em consequência da estratégia centralizada numa só afecção, vêem o seu prognóstico agravado por falta de assistência.
A nossa saúde está doente, não por culpa do povo, muito menos dos infantes, tampouco dos adolescentes, mas consequência do desinvestimento do costume, da má gestão crónica, de complexos ideológicos sem sentido e ainda da corrupção e da incapacidade de planeamento endémicas.
Não existe nobreza, nem altruísmo tampouco solidariedade, em nada do que se preconiza e acata desde há mais de um ano. Antes existe desrespeito para com as nossas crianças ao privá-las da aprendizagem descontraída e do convívio livre e descomplexado.
E não existe nobreza nem altruísmo tampouco solidariedade, antes uma fobia obsessiva, egoísta e opressiva que deveria envergonhar-nos.
O que andamos a fazer? Ainda não vale tudo!
Estamos a tornar-nos abusivos em vez de proteger e cuidar.
O nosso Futuro demanda a nossa reflexão: encontramo-nos numa encruzilhada aonde nos é dado escolher se somos de Esparta ou de Atenas, se queremos ser servos ou construtores...
Atrevamo-nos a ser livres.
Não consintamos na servidão voluntária a que nos queremos condenar.
“A primeira razão da servidão voluntária é o hábito (...) É o povo que se escraviza, que se decapita, que podendo escolher (...) prefere o jugo. Uma coisa é certa porém: os homens, enquanto neles houver algo de humano, só se deixam subjugar se forem forçados ou enganados”Etienne de La Boétie (1530-1563)
Margarida Gomes de Oliveira
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