Luisa Azevedo
Tinha receio da morte até que a vida me cansou.
Até que maldisse a sorte e a vida me desgastou
ao ponto de sofrer
Este candelabro, corpo físico da minha dor,
já não sustenta a vela a arder, Alma flamejante.
E se nada se reinventa, tudo é sem cor doravante
e ante o nada, nada a fazer,
que dor não é futuro,
que a dor não é viver.
E se nada é o que já foi, nada é, e nada resta,
o que nos prende? que vida é esta?
- Esta vida já findou.
Que a chama desta vela suba aos céus e se liberte,
que fuja no desacerto do que fui e do que sou,
que se liberte do corpo que a cercou
que desperte, a bendita Alma, que desperte,
desta massa falida que restou.
Que me liberte então o apego mundano do que fui,
os laços daqueles que tanto me amam,
dos tantos que me odeiam
dos tantos que me esqueceram,
dos tantos que venci,
dos nem tantos que me venceram.
Que seja egoísta por um dia, um dia derradeiro,
um dia que seja o último e na fé se torne o primeiro
Se só chega quem parte,
que o medo de ficar vença o medo de partir
Por vontade, deixem que a minha Alma,
a minha Alma parta a sorrir!
JOÃO MORGADO
in, CONTINUUM - ANTOLOGIA POÉTICA
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