sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

A Fonte de Sangue






Parece-me, por vezes, que o meu sangue escorre
Em ritmados soluços, tal como uma fonte.
Oiço-o tão bem escorrer com um murmúrio infinito,
Mas apalpo-me em vão para encontrar a ferida.

Através da cidade, como num baldio,
Lá vai ele, transformando as calçadas em ilhas,
Satisfazendo a cada criatura a sede
E avermelhando em todo o lado a natureza.

Pedi já várias vezes a capciosos vinhos
Que acalmem por um dia o terror que me mina;
O vinho aclara a vista e afina o ouvido!

Procurei no amor um sono e um olvido;
Mas o amor é um colchão de agulhas, para mim,
Só pra dar de beber às cruéis raparigas!



Charles Baudelaire
in, As Flores do Mal





Sem comentários:

Enviar um comentário