e aprendi a ver nas trevas
e a ler nas trevas.
Venho das noites escuras
e sei o grande soluço das sombras
e os cânticos impotentes dos peregrinos.
Venho das noites escuras
daí o meu amor imenso pela luz!
Quanto mais treva era a treva
melhor eu aprendia a amar a luz do sol
e dos meus olhos sempre mais e mais abertos
a luz interior irradiando aniquilava as sombras...
E sendo sempre noite já a pouco e pouco era mais manhã.
E cada vez mais enorme e definitiva a manhã subia
apesar da treva apesar do silêncio apesar de tudo!
O negrume da noite era uma incandescência prenhe.
A flor romântica da treva esfolhou-se-me nos dedos.
E então nasci.
E então vi que estava nu
e alegrei-me por estar nu
enfim!
Sorvi os frutos da terra
e já não me souberam a papel impresso!
Sacudi a poeira do que me tinham ensinado
e comecei a saber.
Sob as palavras surgiu enfim a voz
e a canção ardente da vida já não encontrou algodão
nos meus ouvidos.
Ah! Só quem veio das trevas e das noites escuras
pode amar assim o imenso mundo do sol!
Adolfo Casais Monteiro
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