Deixar que a chuva grite no meu grito
se bem que longe o tiro mais que certo
deixar que o sangue apague no deserto
todas as letras do nome em que acredito
deixar que pela noite o fogo cresça
e murche o rosto onde era outrora um rio
deixar que as mãos se esqueçam sob o frio
e o coração de rastos apodreça
deixar que o vento espalhe estes retratos
e a memória dos lábios pelo outono
deixar que o vinho amargo traga o sono
e afogue o medo dentro dos regatos
deixar deixar depois que a morte venha
sem que ninguém ou nada me retenha.
MANUEL ALBERTO VALENTE
in, POESIA REUNIDA
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