terça-feira, 6 de agosto de 2019
Baba Aziz O Príncipe que Contemplava sua Alma
O filme inicia-se com a história de um dervixe chamado Baba Aziz e sua neta, Ishtar.
Juntos, percorrem o deserto para uma grande reunião de dervixes que ocorre uma vez a cada 30 anos. Tendo a fé como único guia, os dois viajam por vários dias pela imensidão.
Para ajudar a suportar a viagem, Baba Aziz passa a contar a história do príncipe que deixou o seu reino para contemplar a sua alma ao lado de um pequeno lago no deserto.
No decorrer da narrativa, os viajantes encontram outros que também contam suas histórias.
Baba Aziz (Parviz Shahinkhou), é um velho sufista cego que, junto com sua neta espiritual Ishtar (Maryam Hamid), uma menina com cerca de dez anos, percorre durante dias um oceano de areia em direção a uma reunião de dervixes (monges e mendicantes maometanos) que ocorre a cada 30 anos.
O sábio homem conhece a natureza em que está, suas belezas e adversidades e, é escutando o silêncio do deserto e a sua intuição, que descobre qual a direção correta a seguir. A todo tempo ele procura estabelecer contato com Deus por meio de práticas espirituais. O caminho que trilha vai ao encontro de uma vida interior rica, incluindo o respeito ao próximo, o amor, a cortesia e a doçura.
Ao longo do filme ele passa seus ensinamentos à jovem Ishtar que, como ele próprio a descreve, “é uma criança, mas tem espírito velho”. A menina, como tantas outras da sua idade, é curiosa, sonhadora, apaixonada por histórias e pela música, se deslumbra por tudo aquilo que anima a sua imaginação. Ansiosa e sem saber exatamente para onde caminha, a menina questiona o avô sobre o local do encontro. Sem a resposta e com medo do incerto, pede a Baba Aziz que não prossigam, pois certamente irão se perder. Mas o velho afirma seguramente que “quem tem fé nunca se perde”, lição que logo será comprovada pela pequena.
A dado momento, Ishitar se depara com um grupo de peregrinos indo em certa direção e quer segui-los, mas seu avô a alerta que cada um deve achar seu próprio caminho para o encontro.
Para a entreter durante a longa viagem, Baba Aziz conta-lhe a história de um príncipe que segue uma gazela através do deserto, deixando para trás a sua vida de luxúria. Após alguns dias ausente, ele é encontrado olhando a sua imagem num pequeno lago. Um dervixe que o observa garante que o príncipe está a contemplar a sua alma.
O conto permeia todo o filme e no final revela uma relação surpreendente com a neta e o avô.
Nesta jornada, a dupla encontra outros personagens que carregam histórias curiosas e ilustram os anseios do sufismo. Este é o caso de Osman (Mohamed Grayaa), que salta para um poço para tentar voltar ao palácio onde encontrou a sua amada, e Zaid (Nessim Kahioul), que anda em busca da bela Noor, mulher que fugiu com as suas roupas, documentos e seu coração após uma noite de amor.
Repleto de imagens maravilhosas e belíssima música, Nacer Khemir criou uma fábula inédita e encantadora, filmada nas areias da Tunísia e do Irão.
O roteiro deste filme foi escrito pelo próprio Khemir, em parceria com Tonino Guerra.
Baba Aziz tem forte influência do formato narrativo das Mil e uma noites, no qual Khemir cultua e cultiva ainda mais profundamente a cultura árabe clássica. Ao mesmo tempo, permite-se uma transposição para o novo e estabelece uma porta para a compreensão – e para a falta dessa – em torno do árabe contemporâneo, essencialmente após os acontecimentos de 11 de setembro de 2001.
Em diferentes entrevistas dadas por Khemir por ocasião do lançamento do filme, ele deixa claro o seu desejo de mostrar a beleza da cultura árabe, sua riqueza de características muito viva e presente.
Além disso, salienta de forma subtil que a cultura árabe islâmica é uma cultura de paz e de encontro, podendo o sufismo ser um elo que une ainda outras culturas e línguas.
Como bem descreveu o professor Michel Sleiman ao comentar o filme Baba Aziz, tal “inova no tratamento dos temas do sufismo, explorando de maneira fresca a relação mestre-discípulo, ao colocar um velho e uma menina criança, afirmando ser a menina ‘antiga de espírito’, embora tão nova na idade. Inova também por incluir o feminino na busca da sabedoria e da união com o divino, descerrando a cortina do machismo histórico”.
Embora tenha sido finalizado em 2004, Baba Aziz foi lançado somente em 2008, tendo atingido um número bastante elevado de exibições em diferentes salas de cidades dos EUA e da Europa, fato inédito para uma produção independente. Nesse sentido, há que se salientar o excelente trabalho do TypeCast, um distribuidor especial de filmes independentes que representam culturas que normalmente encontram pouca visibilidade e são pouco exploradas pelo cinema moderno.
Com cenários exuberantes, cheios de cores e sabores, Baba Aziz traz a possibilidade da vida na morte e do renascimento em todos os momentos.
Quem escuta o silêncio e o próprio coração encontra o caminho certo a seguir e para isto é necessário estabelecer um contato direto com a Fonte por meio do auto-conhecimento, da valorização do ser humano, do amor, da beleza interior, do desenvolvimento das virtudes espirituais, do sentimento puro e do desapego material.
Esta é a mensagem na qual se apoia o filme Baba Aziz, do diretor tunisiano Nacer Khemir.
O enredo da produção desenrola-se nas estonteantes paisagens dos desertos da Tunísia e do Irão, com belíssimas representações da tradição árabe e a arte que este povo desenvolveu de contar histórias.
A banda sonora dá ritmo e ainda mais emoção às cenas.
É um filme que nos instiga a saber mais e compreender o que os personagens tanto caminham para encontrar. Quase um conto de fadas, é uma expressão mística do Islão.
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