segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Conheço o sal da tua pele






Conheço o sal da tua pele seca

depois que o estio se volveu inverno

da carne repousando em suor nocturno.

Conheço o sal do leite que bebemos

quando das bocas se estreitavam lábios

e o coração no sexo palpitava.

Conheço o sal dos teus cabelos negros

ou louros ou cinzentos que se enrolam

neste dormir de brilhos azulados.

Conheço o sal que resta em minha mãos

como nas praias o perfume fica

quando a maré desceu e se retrai.

Conheço o sal da tua boca, o sal

da tua língua, o sal de teus mamilos,

e o da cintura se encurvando de ancas.

A todo o sal conheço que é só teu,

ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,

um cristalino pó de amantes enlaçados.



Jorge de Sena





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