quinta-feira, 17 de agosto de 2017
O Amante de Porfíria
Chegou ligeira a chuva à noite,
E alçou-se logo o triste vento,
Que os olmos pune em seu açoite
E vexa o lago com contento:
Eu escutava em desalento.
Foi quando entrou Porfíria; logo
Botando fora a chuva e o frio,
Aquece o chalé com o fogo
Que aviva, ajoelhada e gentil;
Depois, pondo-se em pé, despiu
As luvas sujas, a sua capa
E o xale então encharcado;
Do chapéu seu cabelo escapa,
E enfim sentou-se ao meu lado
E me chamou. Quando o chamado
Não respondi, meu braço pôs
Em seu quadril, o ombro nu em pelo,
E a loura coma ela dispôs,
E ali me pôs, como um apelo,
E espalhou seu louro cabelo,
Murmurando que me amava —
Tão fraca, queria somente
Livrar do peito, que lutava,
Do vão orgulho que se sente,
E dar-se a mim eternamente.
E às vezes a paixão domina,
E o festim desta noite bela
Não freia a ideia repentina
De alguém palente de amor: ela,
Pois,viera sob vento e procela.
Certo é que em seu olho eu olhava
Feliz e orgulhoso; pois vi
Que Porfíria me idolatrava:
Co’o choque, o coração, senti,
Crescia, e eu me decidi.
Perfeita e pura: no momento,
Pois, ela era minha, minha,
E o seu cabelo, em meu intento
Passei em uma áurea linha
Três vezes por sua gargantinha,
E a estrangulei. Foi indolor;
Foi indolor, disso estou certo.
Como uma abelha presa em flor,
Abri os olhos azuis de perto:
E riram, puros e abertos.
Soltei do pescoço a trança
E a face outra vez corava,
Rubente ao meu beijo em ânsia:
Eu a ergui como costumava,
Só que meu ombro segurava
Sua cabecinha ainda pendente:
Feliz co’o desejo cumprido,
A fronte rósea e sorridente,
Que o que desprezava é fugido,
E eu, seu amor, possuído!
O amor de Porfíria: insciente
De sua vontade realizada.
E assim sentamos juntos, rente,
E eis-nos quietos na madrugada,
E ainda Deus não disse nada!
(tradução de Adriano Scandolara)
Porphyria’s Lover
The rain set early in to-night,
The sullen wind was soon awake,
It tore the elm-tops down for spite,
And did its worst to vex the lake:
I listened with heart fit to break.
When glided in Porphyria; straight
She shut the cold out and the storm,
And kneeled and made the cheerless grate
Blaze up, and all the cottage warm;
Which done, she rose, and from her form
Withdrew the dripping cloak and shawl,
And laid her soiled gloves by, untied
Her hat and let the damp hair fall,
And, last, she sat down by my side
And called me. When no voice replied,
She put my arm about her waist,
And made her smooth white shoulder bare,
And all her yellow hair displaced,
And, stooping, made my cheek lie there,
And spread, o’er all, her yellow hair,
Murmuring how she loved me — she
Too weak, for all her heart’s endeavour,
To set its struggling passion free
From pride, and vainer ties dissever,
And give herself to me for ever.
But passion sometimes would prevail,
Nor could to-night’s gay feast restrain
A sudden thought of one so pale
For love of her, and all in vain:
So, she was come through wind and rain.
Be sure I looked up at her eyes
Happy and proud; at last I knew
Porphyria worshipped me; surprise
Made my heart swell, and still it grew
While I debated what to do.
That moment she was mine, mine, fair,
Perfectly pure and good: I found
A thing to do, and all her hair
In one long yellow string I wound
Three times her little throat around,
And strangled her. No pain felt she;
I am quite sure she felt no pain.
As a shut bud that holds a bee,
I warily oped her lids: again
Laughed the blue eyes without a stain.
And I untightened next the tress
About her neck; her cheek once more
Blushed bright beneath my burning kiss:
I propped her head up as before,
Only, this time my shoulder bore
Her head, which droops upon it still:
The smiling rosy little head,
So glad it has its utmost will,
That all it scorned at once is fled,
And I, its love, am gained instead!
Porphyria’s love: she guessed not how
Her darling one wish would be heard.
And thus we sit together now,
And all night long we have not stirred,
And yet God has not said a word!
Robert Browning
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