sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Soprónia Insuflávia





Soprónia Insuflávia, ó minha noiva cauchutada,

minha câmara-de-ar nupcial,

coito do coitado, coutada do solitário

cervo que nos galhos trazia à dependura

o retrato da que diziam verdadeira…

Verdadeira és tu, Soprónia! Machucada,

logo repões a glória da tua carne

na opulência das tuas formas,

as mesmas que, pelo catálogo, escolhi.

Porque fui eu que, à velha maneira, te escolhi

e a teus pais te paguei para poder trazer-te

a este quarto onde, dando novos sentidos à estafada canção,

o amor é uma coisa maravilhosa!

Que obediência devemos a práticas que não sejam as mais antigas?

Nós não fazemos amor, como diz a de hoje tão dessorada gente;

nós, está bem de ver, FORNICAMOS!

Não precisamos de Kahn, Egas Moniz ou Freud,

sequer de Reich, pensador orgasmático,

nem dessa trupe que dá pelo nome de As Femininistas

e que ao homem, quando quer, fecha obscenamente as pernas,

como santola que, já no prato, se recusasse.

Tão-pouco necessitamos de dar as nossas mãos

e fazer rodas infantis em casa de senhores idosos

para que a língua-de-sogra neles se desenrole

e eles digam:”- Te adoro!”

Somos absolutamente pela moral.

… … … … … … … … … … … … … … … … … … …

Ao Algarve, Soprónia, que o tempo tástupendo!

Desinflada, meto-te na mala.

Em Albufeira, recobro a forma do meu amor

e, naquele mar que nasceu para estar deitado,

deitamo-nos perdidamente a amar!




Alexandre O’Neill





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