Quero ser amada só por mim
E não por andar enfeitada
Ser adorada mesmo assim,
Careca, nua, descarnada
Engano de alma ledo e cego
Ó linda Inês posta em sossego,
Imortal, diz adeus
Com perfumes a presa é fácil
Com jóias, casacos de peles,
Gosto do amor quando é difícil
E cheira ao meu hálito reles
Quero ser amada à flor da pele
Não quero peles de vison
Amada pelo sabor a mel
E não pela côr do baton
Engano de alma ledo e cego
Ó linda Inês posta em sossego
Imortal, diz adeus
Com cabeleira a presa é fácil
Há quem se esconda atrás dos pelos
Gosto do amor quando é difícil
De ser amada sem cabelos.
Quero que me beijem a caveira
E o meu ossinho parietal
Que se afoguem na banheira
Pelo meu belo oxipital
Engano de alma ledo e cego
Ó linda Inês posta em sossego
Imortal, diz adeus
Com carne viva a presa é fácil
É ordinário e obsoleto
Gosto do amor quando é difícil
Quando me aquecem o esqueleto
Quero ser amada pela morte
Pelos meus ossos de luar
Quero que os cães da minha corte
Passem as noites a ladrar
Engano de alma ledo e cego,
Ó linda Inês posta em sossego,
Imortal, diz adeus, sobe aos céus.
Regina Guimarães
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