domingo, 9 de outubro de 2016

Ódio?





Ódio por Ele? Não... Se o amei tanto, 
Se tanto bem lhe quis no meu passado, 
Se o encontrei depois de o ter sonhado, 
Se à vida assim roubei todo o encanto, 

Que importa se mentiu? E se hoje o pranto 
Turva o meu triste olhar, marmorizado, 
Olhar de monja, trágico, gelado 
Com um soturno e enorme Campo Santo! 

Nunca mais o amar já é bastante! 
Quero senti-lo doutra, bem distante, 
Como se fora meu, calma e serena! 

Ódio seria em mim saudade infinda, 
Mágoa de o ter perdido, amor ainda! 
Ódio por Ele? Não... não vale a pena... 


Florbela Espanca
in, "Livro de Sóror Saudade"


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