quarta-feira, 17 de maio de 2023

ÉDIPO



François Xavier Fabre



 O que o homem procura não se encontra
nas linhas em que a eternidade se cruza com o
instante. Ele pensa que o acaso desenhou esse
limite; e engana-se quando desvia a linha para
junto do seu desejo, desafiando os deuses. Mas
o que o futuro lhe propõe não é o que
ele vê: só as sibilas o adivinharam, e a chave
da sua linguagem perdeu-se num fundo
de nuvem, por entre aves enlouquecidas e
ventos contrários. O homem insiste, porém;
e as suas mãos cavam a terra, abrindo caminho
até às raízes secas de um século antigo, onde
ele procura a solução do enigma que,
se lhe perguntarem, não sabe enunciar: «Quem
sou? Ou antes, quem imagino que sou, agora
que nenhuma resposta me é dada?» E volta
a tapar o buraco que abriu, escondendo as
pedras onde teria lido o seu destino, se
ainda tivesse a luz do dia para reconhecer
os sinais. No entanto, à noite, os passos
conduzem-no para o lugar de onde partiu,
como se fosse o único caminho que
lhe resta. E ao chegar a esse princípio,
descobre que é o seu fim, para não ter de
voltar a partir, nem de fazer a pergunta
para que não encontrará, nunca, a resposta.



Nuno Júdice
in, Fórmulas de uma Luz Inexplicável 




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