domingo, 3 de abril de 2022

A mendiga e o samurai







Conta-se que um bravo samurai viveu na ilha de Hokaido, no norte do Japão. 
Ele era um senhor feudal que possuía grandes áreas de terra, tendo, assim, muitos súbditos. 
Tudo adquiriu após diversas batalhas, no comandando das tropas do Imperador.

Após uma guerra, voltou para a sua terra natal e decidiu que iria casar-se. 
Tratava-se de um homem forte e belo e, quando a notícia de que o Samurai desejava casar-se se espalhou, por toda a ilha as mulheres ansiavam por desposá-lo. As mulheres mais bonitas da ilha e de outras ilhas mais distantes o visitavam em seu palácio, sendo que muitas delas lhe ofereceram, além de sua beleza e encantos, muitas riquezas. 
Nenhuma, contudo,  o satisfez o suficiente para se tornar sua esposa.

Um dia, uma jovem maltrapilha e simples  chegou ao palácio do samurai e, com muita luta, conseguiu uma audiência:
“Eu não tenho nada material para lhe oferecer, só posso lhe dar o grande amor que sinto por você”. Como prova, complementou: “Se você me permitir, eu posso fazer algo para lhe mostrar esse amor”.

Isso despertou a curiosidade do samurai, que lhe pediu para dizer o que poderia fazer.

“Vou passar 100 dias em sua varanda, sem comer ou beber nada, exposta à chuva, sol e, frio à noite. Se eu aguentar esses 100 dias, você me fará a sua esposa”, afirmou a jovem.

O samurai, surpreso (embora não comovido), aceitou o desafio. 
Ele disse: 
“Eu aceito. Se uma mulher pode fazer tudo isso por mim, ela é digna de ser minha esposa”.

Dito isto, a mulher começou seu sacrifício.

Os dias começaram a passar e a mulher suportou bravamente as piores tempestades. Muitas vezes ela sentia que desmaiava de fome e frio, mas encorajou-se por imaginar que finalmente estaria ao lado do seu grande amor.

De tempos em tempos, o samurai mostrava seu rosto do conforto de seu quarto para vê-la e acenava com o polegar.

À noite a temperatura caiu para muitos graus negativos e isso por si só deveria ser de um grande sofrimento, porque ela não tinha um único cobertor.

Foi assim que o tempo passou: 20 dias, 50 dias… 
As pessoas da ilha ficaram felizes porque pensaram: 
Finalmente teremos uma esposa para o nosso senhor!

90 dias … O samurai continuou a mostrar a cabeça de vez em quando para ver como estava o sacrifício da sua pretendente: 
“Esta mulher é incrível”, ele pensou consigo mesmo, e lhe deu encorajamento novamente.

O dia 99 finalmente chegou e todos os habitantes da ilha começaram a se reunir nos arredores do palácio para ver o momento em que aquela mulher se tornaria a esposa do samurai. 
Eles estavam contando as horas, às 12 horas daquele dia, eles teriam um casamento.

A pobre mulher, em sua grande simplicidade, foi ainda acometida por extrema fraqueza e por doenças… Então algo inesperado aconteceu: às 11 da noite do centésimo dia, a mulher corajosa se rendeu e decidiu se retirar daquele palácio. Deu uma olhada triste no samurai que o fitava surpreso e saiu sem dizer uma palavra.

As pessoas ficaram chocadas! 
Ninguém conseguia entender por que aquela mulher corajosa desistira de apenas uma hora a mais para ver seus sonhos se tornarem realidade. 
Ela já havia suportado tanto!

Ao chegar em sua casa, seu pai já sabia da sua desistência e perguntou: 
“Por que você desistiu de ser a esposa do grande samurai?”

E, para seu espanto, ela respondeu: 
“Eu estive 99 dias e 23 horas na sua varanda, suportando todos os tipos de calamidades e ele foi incapaz de me liberar desse sacrifício. Ele me viu a sofrer e só me encorajou a continuar, sem mostrar nem um pouco de compaixão pelo meu sofrimento. Eu esperei todo esse tempo por um vislumbre de bondade e consideração que nunca veio. Então eu entendi: uma pessoa tão egoísta, imprudente e cega, que só pensa em si mesma, não merece meu amor!



MORAL DO CONTO: 
Quando amas alguém e sentes que para manter essa pessoa ao teu lado tens que sofrer, sacrificar a tua essência e até implorar... mesmo que doa, retira-te. E não tanto porque as coisas ficam difíceis, mas porque quem não te faz sentir valorizada, quem não é capaz de te doar o melhor de si mesmo, será incapaz de retribuir o compromisso e a entrega que lhe dedicas, e DEFINITIVAMENTE, tu mereces um amor maior.


Quem és tu nesta história?
Aquele que faz os sacrifícios, e se doa por amor?
Ou és o egoísta, que só pensa em si mesmo?
Ou nenhum dos dois?




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