quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

As Guerras Mentem




 

Nenhuma guerra tem a honestidade de confessar: eu mato para roubar.
As guerras sempre invocam motivos nobres, matam em nome da paz, em nome de Deus, em nome da civilização, em nome do progresso, em nome da democracia e se por via das dúvidas, se não bastassem tantas mentiras, há os grandes meios de comunicação de massa dispostos a inventar inimigos imaginários para justificar a conversão do mundo em um grande hospício e um enorme matadouro. 
Em Rei Lear, Shakespeare havia escrito que neste mundo os loucos guiam os cegos e quatro séculos depois, os donos do mundo são loucos apaixonados pela morte, que fizeram do mundo um lugar onde a cada minuto morrem de fome ou de doença curável dez crianças e são gastos três milhões de dólares por minuto na indústria militar, que é fábrica de morte.
Armas requerem guerras e guerras requerem armas e os cinco países que administram as Nações Unidas, aqueles que têm direito de veto nas Nações Unidas, são os cinco principais produtores de armas. 
Alguém se pergunta quanto tempo? Por quanto tempo a paz mundial estará nas mãos daqueles que se ocupam da guerra? 
Por quanto tempo continuaremos acreditando que nascemos para o extermínio mútuo e que o extermínio mútuo é nosso destino? 
Até quando?


Eduardo Galeano




A NATO, North Atlantic Treaty Organization, formada em 1947 com 12 Estados Membros, tem hoje 30 países membros e está em expansão na Europa Oriental e Balcãs, incluindo ex-membros do Pacto de Varsóvia. A Rússia continua a opor-se a uma maior expansão da organização junto das suas fronteiras, e exigiu recentemente que a NATO não fizesse mais admissões de Estados Membros novos, exigência essa que foi recusada pelos EUA e pelos países europeus. A Rússia vê essa expansão da NATO como uma continuação de uma Guerra Fria e uma tentativa de cercar e isolar a Rússia.

O Estado-Membro mais recente é o Montenegro e a NATO reconhece a Bósnia e Herzegovina, a Geórgia, a Macedónia e a Ucrânia como membros aspirantes.

A Rússia, como protesto, apoia inimigos dos Estados Unidos e da NATO, como a Síria, Irão e a Coreia do Norte.

Atualmente, a NATO atua com uma ação expansionista, com principal objectivo os interesses políticos e comerciais dos seus países membros.

Esses interesses envolvem, por exemplo, o acesso a recursos naturais e a importantes mercados consumidores. Dessa forma, nos últimos anos, a NATO tem organizado intervenções militares armadas em diversos países, tendo atuado na Bósnia e Herzegovina em 1992; no Kosovo em 1998; invasão do Afeganistão em 2001; na Guerra do Iraque, em 2003 e na Guerra Civil da Líbia, em 2011.


Os 5 Estados Membros Permanentes da United Nations Security Council com Poder de Veto são:
China, França, Rússia, Reino Unido, e os EUA.
OS 5 PRINCIPAIS FABRICANTES DE ARMAS.
O poder de veto do Conselho de Segurança das Nações Unidas refere-se ao poder de veto exercido exclusivamente pelos cinco membros permanentes, permitindo-lhes evitar a adoção de qualquer projeto "adicional" pela Resolução do Conselho, independentemente do apoio internacional para o projeto. Quase metade dos vetos na história do Conselho de Segurança foram lançados pela União Soviética, usando o seu primeiro veto em 1946, a Rússia é a nação que mais usou o veto.


Após 4 meses de negociações entre a Rússia, os EUA e a Europa, Putin decide invadir hoje, dia 24 de Fevereiro, militarmente a Ucrânia, como forma de “proteger a população de Donbass”. No local, ficam duas repúblicas separatistas pró-Rússia (Donetsk e Luhansk), que foram reconhecidas como independentes pelo chefe do Kremlin nesta semana, numa cerimónia de assinatura exibida pela televisão estatal.

Desde 2014, com a anexação da Crimeia pela Rússia, que as relações entre a Rússia e a Ucrânia se têm vindo a agravar, e a Rússia tem vindo a apoiar os movimentos separatistas na Ucrânia como forma de a enfraquecer, visto que a região de Donbass é uma das maiores produtoras de carvão.

Os anos passaram e a situação parecia controlada, até que os debates envolvendo a entrada da Ucrânia na NATO voltaram a ganhar força após a eleição de Zelenski, atual presidente ucraniano, também bastante próximo dos Estados Unidos e da Europa.

Com a economia fragilizada pela pandemia e a política em crise, o enfraquecimento do Reino Unido, acompanhada de um avanço sistemático da NATO sobre a Ucrânia, Putin viu incentivos internos e externos para tentar aumentar a popularidade de seu governo retomando uma área que ele entende que sempre foi bastante próxima da Rússia.
Putin disse, na última segunda-feira (21), que enviaria tropas “em missão de paz” para garantir a segurança das áreas separatistas. Na mídia local, os russos receberam a informação de que havia um “genocídio” contra a população russa nessas áreas realizado por tropas ucranianas.
  
A Rússia tem mais condições de suportar as medidas anunciadas, do que o Ocidente de ficar sem recursos.

A Europa é fortemente dependente do gás natural e do petróleo produzidos pela Rússia. 
Nesse sentido, a União Europeia deverá avaliar o risco que corre de ficar sem fornecimento – especialmente de gás natural, muito utilizado no aquecimento das casas. 


Religião. Política. Resquícios da Guerra Fria...e Gás Natural
Estas são as verdadeiras razões das tensões entre a Rússia e a Ucrânia.

A Gazprom é uma empresa estatal russa que produz petróleo e gás natural. 
Ela fornece 30% de todo o gás consumido na Europa. 
Aproximadamente 39 milhões de lares europeus dependem do gás russo para  alimentar os seus aquecedores – e não congelar durante o inverno. Acontece que a maior parte desse combustível tem de passar por gasodutos na Ucrânia. A Rússia é dona do gás, mas os ucranianos têm muito poder sobre ele. Quando a Rússia e a Ucrânia se desentendem, os gasodutos são fechados – e a Europa fica sem gás. E isso tem acontecido com certa frequência. 
A Europa construiu reservatórios de gás, investiu em energia renovável e criou os gasodutos Nord Stream e South Stream, que passam pelo Mar Báltico e pelo Mar Negro. Mas ainda não são suficientes. 

Em 2008, os EUA descobriram no seu território enormes reservas de gás de xisto. 
Os americanos passaram a ter a maior reserva mundial de gás, colocando a Rússia em segundo lugar. 
E isso mudou o jogo. Agora, os EUA querem exportar gás para a Europa. 
Mas, para fazer isso, eles têm de minar a Rússia. 
Como? Controlando o corredor que fornece gás à Europa. No caso, a Ucrânia. 

Desde 2008, Washington já investiu mais de US$ 5 bilhões na Ucrânia. 
Oficialmente, o objetivo é promover o livre mercado e manter o país “seguro, próspero e democrático”. Mas também é uma tentativa de exercer poder político. 
Se os EUA controlarem a Ucrânia, os russos estarão perdidos – pois os americanos farão de tudo para atrapalhar os gasodutos. 

Uma possível “Guerra do Gás” não tira o sono dos russos, visto que o continente europeu só trocará o gás natural pelo de xisto daqui a 50 anos, no mínimo,  porque para ser transportado, o gás de xisto – abundante em solo americano – precisa ser liquefeito, enviado de navio, e convertido em estado gasoso novamente para o consumo. Isso tudo exige uma infraestrutura que ainda não existe. 
E, mesmo quando existir, tornará o gás americano bem mais caro que o da Gazprom. 

A Rússia tem esta carta na manga porque a Europa, e especialmente a Alemanha, não tem substituto para o gás natural russo. Vira uma chantagem do ponto de vista económico, o acesso a recursos naturais é considerado estratégico, conforme diz a Organização Mundial do Comércio (OMC). 
Logo, se o fornecimento de gás natural for interrompido, isso não afetaria apenas a economia europeia, mas seria considerado uma questão de estratégia regional.

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), de que a Rússia faz parte e tem direito de Veto, não deve conseguir aprovar nenhuma resolução que condene a atitude russa.

As próximas sanções devem seguir mais na linha de afetar dirigentes de empresas russas e depois algo em torno de restrições de exportação e de importação, especialmente de commodities, o que pode afetar bastante a economia da Rússia.
Com as relações entre a Rússia e o Ocidente postas em causa, os russos devem aproveitar o momento para intensificar a estratégia de se aproximar mais dos chineses.
A China é uma potência militar, do ponto de vista prático. Pode ser bem interessante para a Rússia.
  
Não é à toa, que a China tem evitado tomar lados e não fez qualquer tipo de movimentação mais intensa diante do conflito. Eles têm a questão da província de Taiwan, que também tem um caráter separatista. Será difícil a China posicionar-se neste caso... 
  
Esta Guerra vem, mais uma vez, mostrar a irrelevância da União Europeia. 
Subjugou-se com a imposição do sistema de unanimidade para as decisões estratégicas, e auto limitou-se, reduzindo-se a uma união que nem sequer é económica, mas apenas monetária. 
Dos princípios humanistas, solidários, que estiveram na sua origem, já pouco existe.

À Ucrania foi-lhe acenado com a entrada na União Europeia e na NATO. 
Foi apoiada para se opor ao despotismo russo. 
Agora é deixada só perante um gigante bélico e determinado.



Teu Deus é judeu, 
a tua música é negra, 
o teu carro é japonês, 
a tua pizza é italiana, 
o teu gás é argelino, 
o teu café é brasileiro, 
a tua democracia é grega, 
os teus números são árabes, 
as tuas letras são latinas.⁣
Eu sou teu vizinho. 
E ainda me chamas estrangeiro?⁣
Eduardo Galeano
in, "O Caçador de Histórias"⁣





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