quinta-feira, 24 de setembro de 2020

A Mulher Andina

 





- Como era a Mulher Andina, antes dos espanhóis cá chegarem?

- A Mulher Andina participava activamente com o seu trabalho na formação e na organização da sociedade. Para além de ter acesso a outras actividades, o seu papel fundamental era o de educar e de formar as gerações futuras. Podia ocupar-se de muitas outras coisas, mas a sua verdadeira realização consistia em ser mãe e esposa. A mulher andina vivia com um homem como sua companheira, amiga e mestra. O seu universo não se circunscrevia à casa, mas contemplava também o  mundo exterior; tomava parte não apenas nas festividades e no trabalho, mas também participava nas eleições dos representantes da comunidade. Levava uma vida activa, conforme o seu engenho e argúcia, e exprimia a sua opinião sobre qualquer tema. A mulher Andina, desconhecia o conceito do "Eu", e exprimia-se nos termos da integridade do ser, nos termos do "Nós". 
Era ela própria, e não o que os pais queriam que ela fosse. 
Era livre, trabalhava como qualquer outro membro da sociedade e as suas opiniões eram respeitadas. Nalgumas zonas, as mulheres alcançaram posições de chefia, resolviam os problemas quotidianos e geriam a distribuição do trabalho.

O único guia que tinham era o amor.
Antes de aceitarem um homem como companheiro de vida, tinham de o conhecer durante um período de convivência; só assim podiam aceitar a pessoa tal como ela era, com todos os seus defeitos e virtudes, sabendo que se poderiam enriquecer reciprocamente.

Nos Andes, a mãe biológica nunca era dona dos seus filhos; partilhava a sua condição de mãe com todas as outras mães. O recém-nascido era considerado filho de todas as mulheres da comunidade; todas eram mães dele e até as mulheres estéreis tinham o direito de o acariciar e mimar. Não existiam vocábulos que designassem a posse materna; a criança era considerada um ser que encorporava os princípios da maternidade e do crescimento humano. A educação dos filhos também era uma tarefa comum; a nova criatura tinha necessidades biológicas e psicológicas que só a mãe natural podia satisfazer, mas a educação e a instrução tanto lhe eram dadas pela mãe como pelas outras mulheres do grupo. Todas juntas ensinavam à criança os valores fundamentais:
Em primeiro lugar, ensinavam-na a ser ela própria, a respeitar-se e a amar-se a si própria. Se não aprendemos a amar-nos, não podemos ensinar aos outros a amar. Não podemos dar o que não temos, e não podemos sequer ensinar o que não aprendemos nem experimentámos. Depois, ensinavam-lhe que o primeiro dever de um índio era o de amar todos os seus semelhantes, caso contrário corria o risco de viver condenado à solidão, ao desespero, à destruição.
Foi um tempo de progreso e de desenvolvimento, porque se respeitavam as diferenças entre os homens e as mulheres, e cultivava-se um modo de pensar e de agir de tipo colectivo.




Hernán Huarache Mamani
in, A Profecia da Curandeira






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