domingo, 16 de agosto de 2020

Dois tipos de saber





Um erudito perguntou a um sábio como as coisas individuais se integram num todo, e qual é a diferença entre conhecer muitas coisas e conhecer a plenitude:

O sábio respondeu:
“O que está muito disperso se converte num todo quando se dispõe em torno de um centro e, assim centrado, atua. Pois só através de um centro o múltiplo se torna essencial e real, e sua plenitude nos aparece então como simples e até modesta, como uma força tranquila que visa ao imediato e fica na base, e próxima daquilo que ela sustenta.
Assim, para experimentar ou comunicar uma plenitude, não preciso conhecer, dizer, ter, fazer todas as coisas individualmente.
Quem entra numa cidade atravessa um único portal. Quem bate um sino uma vez faz ressoar em uníssono muitos outros sons, e quem colhe a maçã madura não precisa investigar a sua origem: ele a toma na mão e come."

“Quem busca a verdade" — objetou o erudito — , “precisa também conhecer as particularidades."

Mas o sábio contestou:
 “Só sobre as verdades velhas é que sabemos muitas coisas; a verdade que nos faz progredir é ousada e nova, pois oculta o seu fim, como a semente oculta a árvore. Assim, quem hesita em agir, querendo saber mais do que o próximo passo lhe permite, deixa escapar o que atua.
Ele toma a moeda pela mercadoria e de uma árvore faz lenha.”

O erudito achou que isso era apenas uma parte da resposta e pediu ao sábio que explicasse um pouco mais. Mas ele recusou com um gesto, pois a plenitude começa como um barril de mosto, doce e turvo, que precisa fermentar bastante até tornar -se límpido.
Quem tenta bebê -lo, em vez de prová -lo, facilmente cambaleia.



Bert Hellinger




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