quinta-feira, 12 de novembro de 2020

שואה







A mansidão de Deus, não das vítimas,
Seria o que havíamos colhido das cinzas da história.

Um sopro de destruições e as feridas sem sutura:
Tudo isso era demasiado humano

Para pertencer a Deus, para O dizer.
Na Sua casa, Ele permanecia

Enrolado sobre si mesmo, criança aterrorizada
Que só pode esperar, impotente, a violência

Que cairá em breve sobre Si.
E o remorso dos humanos, onde estará

Esse dispêndio, essa dor atenuada?
Pensei que a mansidão era só ausência, depois.

Que as vítimas eram os mansos,
Cordeiros narcotizados para o abate, balindo o desespero,

Chorando o só pressentido, a orfandade dos anónimos.
A lâmina desceria inapelável

Sobre a cabeça dos mansos,
Porque Deus era só mutismo, erro sem correcção,

Fogo de devorações, hálito da metáfora demoníaca.
Um outro legado vem ter comigo, hoje.

Deus é expropriado da salvação por profissionais,
Luciferinos algozes, funcionários zelosos da condenação.

De todos os lados, as almas, se de almas se trata, são laceradas.
Deus é humilhado sem deixar de salvar os que pode.



 LUÍS QUINTAIS





Sem comentários:

Enviar um comentário