domingo, 2 de dezembro de 2018

A PAISAGEM





Essa foi a paisagem, nada abstracta,
aos poucos revelada a uma luz
crescente insinuada dentro da
casa depois na rotação
das asas sempre as aves expandindo
designações perpétuas no momento
de cobrir com a fala o céu
aí se debruçaram corpos desconhecidos
sobre a cara, esperando
por começar; então a porta tornava-se
mais clara e já não se sabia
se existia porque o exterior
perdia a forma ou era realmente
a casa que a perdia e o rosto do
pai já vinha para morrer
embora continuasse a regressar
a casa muitos dias sempre que no jardim
ao fim do dia começava aquele
bater de asas semelhante ao,
talvez menos abstracto, do início
Sempre as aves voltando me ensinavam
alguma coisa mais do que viria,
um pouco como sempre acontecia
com o bater do mar quando se ouvia
durante a noite ou ao nascer do dia
esse ruído certo entre as dispersas
palavras que no sono se partiam
dos que em barcos chegavam pela ria
Para tudo haveria uma razão
audível ou visível mesmo que
nem sempre o entendimento fosse além
das razões da poesia Era essa
a paisagem onde tudo

caberia uma existência
gravada só no esquecimento que
nela baixará, cenário da memória
por começar quando nomes houver
que possam designar
as caras sobre a cara debruçadas


Gastão Cruz





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