Os incêndios devoram, o mundo é uma pira.
Perguntam-se os homens pelas razões do destino
e responde a morte, directa, erudita,
consagrada pelo fogo.
Ciudad Juárez, Gaza, Afeganistão,
e tantos outros nomes de sangue incendiado
são hoje as jóias mais resplandecentes
no corpo do planeta.
Amorosos, os crânios dos senhores da guerra
estilhaçam crânios infantis,
mulheres prestes a parir
e afogam no fogo a condição
humana.
Temos a paz apócrifa, as inovações na alma,
o calor das salas de concertos,
a mobilidade dos media,
os patenteados apertos-de-mão
dos embaixadores.
Que portentoso abraço se estende
sobre o mundo.
Um manto que se diz babélico cobre de silêncio
a maravilha do crime organizado.
O céu tem ainda a penúltima
palavra.
Torna-se difícil perceber o timbre
da marfinada dor,
penhor tão delicado dos poetas áureos,
prata dos cientes cínicos, antigo camafeu
de primeiras damas.
O amor é um forno que arde,
visível ou invisível,
segundo a irradiação dos corações sensíveis,
do gesto das panorâmicas,
da demência erótica dos domadores
da luz.
Armando Silva Carvalho
in, De Amore
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