Stanley Milgram (1933 - 1984) foi um psicólogo norte-americano graduado da Universidade de Yale que conduziu a experiência dos pequemos mundos (a fonte do conceito dos seis graus de separação) e a Experiência de Milgram sobre a obediência à autoridade.
Judeu e de família afetada pelo holocausto, Milgram foi influenciado pelos eventos e efeitos violentos da 2º Grande Guerra Mundial e também pelo processo de julgamento de Aldolf Eichmann – um dos mais altos militares da polícia nazista SS, responsável pela secção IVB4, cuja função exclusiva era a de capturar os judeus nos seus lugares de origem e transportá-los para os campos de extermínio – para idealizar a sua experiência.
A fim de contextualizar, segue um trecho do testemunho de Eichmman em tribunal:
“There is a need to draw a line between the leaders responsible and the people like me forced to serve as mere instruments in the hands of the leaders” e “I was not a responsible leader, and as such do not feel myself guilty”.Adolf Eichmann, durante o processo de seu julgamento, em 1961
Ou seja, não era responsável, estava apenas a cumprir ordens, empenhado num procedimento que lhe tinha sido ordenado para fazer, sem saber para quê.
Esta experiência tinha como objectivo o estudo das reacções individuais face a indicações concretas de outros. A obediência era medida através das acções manifestas e implicava comportamentos fonte de sofrimento para outros.
E também, responder à questão de como é que os participantes observados tendem a obedecer às autoridades, mesmo que as suas ordens contradigam o bom-senso individual.
A experiência pretendia inicialmente explicar os crimes bárbaros do tempo do Nazismo.
Em 1964, Milgram recebeu por este trabalho o prémio anual em psicologia social, atribuído pela American Association for the Advancement of Science.
Os resultados da experiência foram apresentados no artigo Behavioral Study of Obedience no Journal of Abnormal and Social Psychology (Vol. 67, 1963 Pág. 371-378) e, posteriormente, no seu livro "Obedience to Authority: An Experimental View", em 1974.
No final da Segunda Guerra Mundial, emergiu a questão de como pessoas aparentemente saudáveis e socialmente bem-ajustadas puderam cometer assassinato, tortura e outros abusos contra civis durante o Holocausto, e outros crimes contra a humanidade. O objetivo da experiência de Milgram foi verificar a obediência e o efeito da autoridade na capacidade do sujeito prejudicar outro ser humano.
As experiências começaram em julho de 1961, três meses após o julgamento de Adolf Eichmann começar em Jerusalém. A experiência foi realizada para responder à pergunta:
- "Será possível que Eichmann e milhões de seus cúmplices estivessem apenas a seguir ordens?
- Será que devemos chamar cúmplices a todos eles ?"
Depois, Milgram resume a experiência:
"Os aspectos jurídicos e filosóficos da obediência têm enorme significado, mas dizem muito pouco sobre como as pessoas realmente se comportam numa situação concreta e particular. Eu projetei uma experiência simples em Yale, para testar quanta dor um cidadão comum estaria disposto a infligir a outra pessoa somente por um simples cientista ter dado a ordem. Foi imposta autoridade total à cobaia [ao participante] para testar as suas crenças morais de que não deveria prejudicar os outros, e, com os gritos de dor da vítima ainda zumbindo nas orelhas das cobaias [dos participantes], a autoridade falou mais alto na maior parte das vezes. A extrema disposição para seguir cegamente o comando de uma autoridade mostrada por adultos foi o resultado principal da experiência, e que ainda necessita de explicação."
Procedimento:
Os voluntários foram recrutados para uma experiência de laboratório.
Os participantes foram 40 homens, com idades entre 20 e 50 anos, cujos postos de trabalho variava entre não qualificados a profissionais. Eles receberam US$ 4,50. No início da experiência, eles foram apresentados para outro participante, que na verdade era um cúmplice do experimentador (Milgram). Eles sorteavam quais papéis exercerem (o de aluno ou o de professor), embora o cúmplice acabava sempre sendo o aluno. Havia também um "pesquisador" vestido com uma bata cinza, interpretado por um ator. Duas salas do Laboratório de Interação na Universidade de Yale foram usadas - um para o aluno (com uma cadeira elétrica) e outro para o professor e pesquisador com um gerador de choque elétrico. O "aprendiz" (o cúmplice) foi amarrado a uma cadeira com electrodos. Depois que ele tivesse aprendido uma lista de pares de palavras que lhes foram dadas para aprender, o "professor" testá-lo-ia, falando o nome de uma palavra e pedindo para o aluno se lembrar qual era o seu par de uma lista de quatro possíveis escolhas.
O professor (o voluntário) é instruído a administrar um choque elétrico cada vez que o aluno erra, aumentando o nível de choque a cada vez. Havia 30 chaves no gerador de choque, que variava de 15 volts (ligeiro choque) a 450 (choque grave). O aluno errava a resposta propositalmente na maioria das vezes, e, em cada vez, o professor deu-lhe um choque elétrico. Quando o professor se recusava a administrar um choque, o experimentador (o ator) lhe repetia uma série de frases de estímulo para garantir que eles continuassem.
Havia quatro frases, e se a primeira frase de estímulo não fosse seguida, o experimentador lia a segunda frase, e assim por diante:
Estímulo 1: Por favor, continue.Estímulo 2: O experimento requer que você continue.Estímulo 3: É absolutamente essencial que você continue.Estímulo 4: Você não tem outra escolha a não ser continuar.
Caso o participante se negasse a fazê-lo depois da quarta frase, a experiência era interrompida. Caso contrário, só era interrompido ao chegar na voltagem mais alta.
No final da experiência, Milgram era chamado na sala como um auxiliar do "pesquisador" para fazer algumas perguntas ao professor (participante), como o porquê de ter continuado mesmo quando escutava os gritos de dor do outro ou quando o outro não emitia mais nenhum ruído ou respondia as questões.
Resultados:
Segundo o próprio Milgram:
“pessoas comuns, simplesmente fazendo seu trabalho, e sem qualquer animosidade pessoal, podem tornar-se agentes de processos terrivelmente destrutivos. Além disso, mesmo quando os efeitos nocivos de seu trabalho se tornam claros e eles são orientados a continuar ações incompatíveis com seus padrões fundamentais de moralidade, relativamente poucas pessoas têm os recursos necessários para resistir à autoridade”.
Resumidamente, todos os participantes chegaram ao choque de 300V e cerca de 2/3 (65%) deram o choque final de 450V. O estudo sugere que a maioria das pessoas vai seguir as instruções de uma figura de autoridade, desde que considere esta uma autoridade legítima.
Sente-se tranquilo, é para um bem maior, a responsabilidade não é sua e será recompensado.
Começa a vê-lo sofrer, a ouvi-lo gritar, a implorar-lhe para parar.
Se não continuar, não será recompensado.
Não faz ideia do propósito de tudo isto, mas continua a obedecer em troca da recompensa.
Continuaria a obedecer?
Será que todos nós, Seres Humanos, agimos desta forma?
Antepomos uma ordem que entendemos ser de autoridade legítima à nossa consciência moral?
O procedimento imposto faz-nos esquecer o seu objectivo final?
O sou um "pau mandado" iliba-nos de qualquer responsabilidade do que fazemos?
Organizar o procedimento, ordenando tarefas concretas e parciais a alguém que não vê o Todo, é uma metodologia muito eficaz, dissolvendo a responsabilidade individual, de modo que, de bom grado e pacificamente, percamos a noção da nossa responsabilidade e contribuição para o que se faz.
É uma estrutura criada de IDIOTICE!
Em que se olha apenas para o benefício pessoal em relação ao que se faz, sem se preocupar com as consequências...
Não se questiona o mandante, nem se assume responsabilidade pública.
A falta de responsabilidade e a idiotice andam sempre de mãos dadas.
Obedecer sem questionar, em troca de uma recompensa.
É uma forma de organizar e operar no mundo, que afecta todas as esferas sociais, culturais, económicas e políticas.
Forças de inércia que se descontrolaram e são agora destino da sociedade.
Quem ousa questionar e criticar a idiotice do comando?
Aldolf Eichmann poderia ter questionado, recusado, e não o fez.
Foi uma escolha sua...
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