sábado, 8 de agosto de 2020

Vigílias do terceiro dia






Meu Deus, como compreendo a tua hora, 
quando tu, para que ela no espaço se arredondasse, 
a voz à tua frente colocaste outrora; 
para ti o nada era como uma ferida que não sarasse, 
e tu refrescaste-a com o mundo. 

Agora sara baixinho entre nós. 

Pois os passados bebiam 
as muitas febres que no doente apareciam, 
nós já sentíamos, em suaves oscilações que se abriam, 
o pulso calmo do fundo. 

Sobre o nada descansamos como abrigo 
e cobrimos todas as rupturas; 
mas tu cresces para o desconhecido 
à sombra do teu rosto sem fissuras.


Rainer Maria Rilke





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