durante meses vi amanhecer quando as aves brancas
chegavam em silêncio.
quantas madrugadas surgiram quando as luzes se apagavam
no porto
quantas gerações de poetas obscuros se sentaram nessas
pedras cinzentas!
eu sempre amei os continentes longínquos
lugares estrangeiros e puros, a extrema desolação das
aldeias adormecidas, a nostalgia dos dias atlânticos.
mas já a minha vida fixara a mudança dos ventos
o ciclo das estações
a rigorosa inutilidade de tudo.
foi nesse tempo de meditação que li rilke e eliot e
sobretudo
os viajantes do cognac e da morfina.
incessantemente procurei um sentido para os dias e para
as noites
interroguei-me sobre as civilizações antigas
entreguei-me a surpreendentes ofícios.
eu guardara a desmedida fascinação dos planaltos
a clara alegria de algumas cidades marítimas
velhas canções do mundo imensas revoluções.
durante meses vi amanhecer quando as luzes se apagavam
no porto
e as aves brancas chegavam em silêncio;
incessantemente procurei um sentido para os dias e para
as noites
interroguei-me sobre as civilizações antigas,
entreguei-me a surpreendentes ofícios,
a rigorosa inutilidade de tudo.
José Agostinho Baptista
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