sábado, 22 de agosto de 2020

Deus e a Filosofia






KANT
(1724-1804)

Immanuel Kant, filósofo prussiano, disse que não há nada mais repugnante do que ver alguém ajoelhado a rezar a Deus.
Nós não queremos ser crianças. Queremos ser adultos, e tomar as nossas próprias decisões.
Abandonemos o infantário e entremos no mundo dos adultos, onde podemos, de uma vez por todas, deixar os deuses para trás.
O que ele não conseguia suportar era a serviência a uma autoridade superior.
O grande objectivo de Kant era dotar a metafísica de um fundamento sólido.
Metafísica vem do grego, e significa o que foi escrito depois da Física. E na altura, a Física era uma compilação de textos de Aristóteles sobre a Natureza. Na sua origem, a metafísica não era um assunto. Apenas os escritos que surgiram depois dos textos da Física de Aristóteles.
Kant usou a palavra Metafísica para designar um corpo de verdades necessárias e universais, não derivadas da experiência inatas à mente humana. Essas verdades existiam tanto na Física como na Moral.
Os seres humanos são agentes morais e racionais, possuem autonomia, capacidade de determinar  e decidir os seus próprios caminhos, de agir segundo princípios que eles próprios determinam, e é nisso que reside a sua dignidade. Libertos das grilhetas da religião e da superstição, evoluindo através da Educação e do Conhecimento.
Disse que, no Ser Humano, há uma predisposição para o Mal, e que apenas a Graça Divina poderá remediar a situação. Mas, nega qualquer genuína experiência de graça. Temos que ter esperança  na sua existência mas, nunca a iremos experienciar, nunca teremos nenhuma experiência de Deus.
Encontramos a nossa dignidade fazendo o que está certo sem esperar nada em troca.
E assim, contribuímos para a Ordem Moral do Universo.






KIERKEGAARD
(1813-1855)

Soren Kierkegaard, filósofo dinamarquês, rejeitou a metafísica especulativa e dizia que a fé religiosa é algo que requer um compromisso absoluto sem questionar. A fé em Deus não se baseia na quantidade de provas recolhidas de que ele responde às nossas súplicas. É uma incerteza objectiva adquirida num processo de interiorização.
Distingue a Verdade Objectiva, que é a correspondência de crenças e factos, da Verdade Subjectiva, que é a verdade do que é existir enquanto pessoa individual, finita, emocional, em evolução ou decadência.
Sabermos a verdade sobre nós mesmos é extremamente difícil.
Descobrir motivos, desejos, ideais e atitudes que se encontram profundamente ocultos. E o processo pelo qual são descobertos, muda a pessoa que somos. A observação e a forma como observamos, molda o que observamos e o que somos.
Uma pessoa com auto-conhecimento é completamente diferente da que vive na ignorância de si mesmo. Por isso, o processo que nos faz saber o que somos muda completamente o que somos. Este tipo de conhecimento, de subjectividade, é um conhecimento criativo, e não apenas descritivo. E é emocional, porque o que descobrimos quando entramos dentro de nós próprios, são reacções e respostas que expressam, escondem e perturbam o meu Ser mais íntimo, a minha interioridade, que com toda a certeza que chocam, horrorizam e me sobressaltam. É preciso a aprender a lidar com o nosso lado mais oculto. E os resultados dessa aprendizagem determinarão a minha forma de ser no futuro.
A condição humana é de medo e ansiedade perante o conhecimento dos nossos desejos, ódios, temor da morte inevitável.
Conseguir compreender isto, é conseguir conhecer a minha própria individualidade pessoal, a minha subjectividade.
A fé em Deus é uma questão de probabilidades e especulação apenas.






SARTRE
(1905-1980)

Para Jean-Paul Sartre, foi um alívio libertar-se de Deus.
Deus era o vigilante oculto, sempre a observar o que fazemos, e seria sempre impossível escapar ao olhar de censura do todo-poderoso. Deus, o Grande Ditador, aquele que estabelece o que temos de ser, como devemos pensar e como devemos agir. Toda a nossa vida não passa de uma viagem sobre carris dos quais nunca conseguimos escapar.
Sartre, só depois de se livrar de Deus, pode ser realmente livre.
Só poderemos ser verdadeiramente livres, quando formos capazes de nos tornarmos naquilo que escolhermos, libertos das convenções da religião, da fé, e sobretudo de Deus, que é o supremo moralista burguês.
A Existência precede a Essência.
Não existe um ideal que devemos seguir, estabelecido na mente divina.
Podemos ser aquilo que escolhermos.
Cabe-nos a nós darmos significado à vida. Da forma que fizer mais sentido para nós.
Para Sartre, conhecermo-nos a nós próprios, é sabermos que, na verdade, não estamos agrilhoados às convenções sociais nem às crenças religiosas ou metafísicas.
Esse conhecimento transforma a vida, ao assumirmos total responsabilidade por aquilo que somos.
Sartre era muito perspicaz e verdadeiro.
Falar em Deus é repressivo, e é usado para obter poder social sobre os outros. É uma forma de manipulação social. Assim como serve para disfarçar as nossas próprias neuroses. Mas, isto só funciona com quem acredita no poder destruidor de Deus e dele tem medo.
Nunca funcionará com pessoas que sentem que não existe uma obrigação objectiva a pesar sobre elas, a constranger as escolhas das suas vidas.
Esta crença generalizada é Má Fé. É uma fuga às responsabilidades.
E a crença é sempre prejudicial, reprime desejos, restringe escolhas, reduz as pessoas a autómatos. Faz um retrato da vida segundo o qual o indivíduo é dominado por um Big Brother sobrenatural, que nos faz sentir culpados para nos poder dar o seu perdão. Mas, sempre nos seus termos, que exigem uma entrega total.
Para nos tornarmos verdadeiramente humanos, temos que eliminar esta imagem.

   


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