Sou pedaço de vida
deitado na Sombra
de uma multidão
sou força vencida
mergulhada e perdida
em desilusão
sou dor viciada
em choro e pranto
sem poder fugir
sou no sofrimento
o espelho do tempo
sem nunca o medir
Sou um rosto secreto
e incompreendido
na palavra sim
sou um resto de gente
vergado ao silêncio
não se riam de mim
sou povo enjeitado
em nudez de encanto
carrego minha cruz
sou um fado pesado
sou compasso trinado
sou canto sem luz
Se digo o que sinto
e minto no que sou
não o faço por querer
não me disfarço
nem me escondo
no falso sentido
do que acabo por ser
se me dou e desfaço
se luto esquecido
e vivo insatisfeito
sou no cinzento tristeza
verbo conjugado
pretérito imperfeito
Sou um rio parado
sem margens sem leito
sem fundo sem foz
Uma barca sem remos
sem redes sem leme
sem velas sem nós
Sou tarde poema
de versos sem rima
lenta de se pôr
sou por entre o nevoeiro
o que desaparece
e se apaga de cor
Sou um resto de gente
o que sobra do início
o que falta para o fim
vergado ao silêncio
não se riam mais de mim
João Jacinto
in, (Re)cantos da Lua
Sem comentários:
Enviar um comentário