quarta-feira, 7 de março de 2018

Percepção Vigilante


Olho - zoom




Percepção, observação, atenção, vigilância, posição do observador... 
Estas palavras denotam as mesmas coisas.
Ser vigilante significa viver conscientemente ao longo do dia, da semana, do ano, ou para toda a vida. É uma constante percebermos nossa situação, nossas sensações, pensamentos e ações.

Por exemplo, enquanto eu caminho pela rua posso perceber o ar a minha volta, pássaros cantando, outras pessoas, meus pensamentos, minha respiração, meu corpo, meus passos. Quando me alimento, sei o que estou mordendo e deglutindo. Quando corro, posso sentir minha respiração e o caminho por onde corro e onde meus pés pisam.
Alguém pode dizer : “Eu também sei que estou indo a uma loja ou para o trabalho e sei o que estou fazendo”. Entretanto, não é tão simples assim.
Quantas vezes já lhe aconteceu de ter trancado a porta e retornado para certificar-se que a havia realmente trancado? Naquele momento, você estava pensando em algo completamente diferente e não estava percebendo tudo o que estava fazendo.
Quantas vezes você procurou por alguma coisa da qual não se lembrava onde havia deixado? Isso não acontece se a pessoa for uma pessoa vigilante, pois uma pessoa vigilante sabe que ela está virando a chave ao trancar a porta. Então esta pessoa não precisa procurar pela chave porque ela está consciente de onde a guardou.

Vigilância é atenção permanente.
Quando estamos vigilantes, não nos fundimos com as coisas. Estamos em uma posição de observador.


A MENTE
Nossa mente trabalha por si própria, sem nosso controle. Você não acredita nisso? O que você faz quando vai a algum lugar, ou quando senta em seu carro? Você fala consigo mesmo. Todo o tempo, durante todo o dia, toda a vida, antes de dormir; e pela manhã imediatamente após acordar, você entra novamente no mesmo carrossel. O resultado é que você acaba não aceitando uma opinião diferente da sua e muda a engrenagem para a forma estereotipada. A mente de uma pessoa assim imediatamente condena ideias diferentes, música, estilo de vida, comida, ou um programa de TV. “Eu não gosto desta música”, diz alguém sem sequer ouvi-la. A mente interfere imediatamente e a pessoa definitivamente condena qualquer coisa que não corresponda à sua convicção.

Continuamos pensando sobre o passado; justificamos nossos atos e procuramos por alguém que nos apoie em nossas justificativas. Isso porém não colocará nossos atos sob uma luz melhor. Somente nos sentimos bem quando alguém concorda conosco e nos defende. Já escutei muitas vezes: “Eu lhe disse para não interferir. E então, imagine, começou a gritar comigo”. E queremos que nosso ouvinte nos diga que fizemos o certo. Nós frequentemente escutamos a nós mesmos e nossa mente é nossa confidente e justificadora.


PENSAMENTO E PERCEPÇÃO
“Pessoas comuns percebem tão pouco que acabam esquecendo que existe uma diferença entre o pensar e o perceber. Esqueceram-se a ponto de acharem que aquilo que pensam é o que percebem. Projetam seus pensamentos a uma realidade externa e assim, continuamente, afastam-se da realidade, substituindo-as por seus pensamentos”.
Victor Sanchez

Pensar não é perceber.
O pensamento humano é focado no mundo externo de onde extrai situações encontradas individualmente e então continuamente as revê, anexando-se novamente a elas. Além do mais, a mente muda a realidade experimentada e pára de perceber o mundo como é, substituindo-o por seus próprios pensamentos. Ainda conversamos conosco sobre nossa vida, quer seja sobre o que fizemos, justificando nossas atitudes, sentindo-nos ofendidos, ou quer criando nossas preocupações. Pensar é parte do nosso ego. Mantemos nossas ideias sobre nós mesmos e sobre este mundo sempre moldadas pelo nosso pensamento.

Na percepção vigilante ou na meditação, uma pessoa volta-se para seu próprio interior, sua consciência. Esta pessoa pode ver a realidade externa sem limitar-se a ela ou identificar-se com ela. A meditação ocorre em qualquer lugar e em qualquer momento. Então por que deveria estar restrita a determinado momento do dia, posição do corpo e com os olhos fechados?


O MOMENTO PRESENTE
Passado, Presente e Futuro – isto é o tempo.
Vivemos em um mundo que não é estável. O cronómetro nunca pára. Algumas pessoas adivinham o futuro, outras pensam sobre seu passado e avaliam suas ações pensando todo o tempo: “Será que eu devo fazer isso?”, “Eu não deveria ter ido lá”, “Eu deveria ter contado a ele”, “o que pensei sobre isso”, “Ontem eu estava no jardim”.
Todos os pensamentos estão concentrados no passado ou no futuro, não permitindo que nossa mente se foque no presente. 
Entretanto, o presente é o único momento que podemos influenciar.

Existe um grande segredo neste pequenino, tão curto momento, entretanto.
Por que devemos lidar com nossos atos do passado e por que devemos justificá-los? Eles não podem ser mudados; somente podemos aprender com eles. E o futuro? Tampouco nos pertence. Poderemos não estar mais aqui no próximo segundo. As preocupações diárias que as pessoas criam são inúteis, porque amanhã poderá ser completamente diferente.
Então vocês dizem a si mesmos que se preocuparam tanto, mas a situação acabou sendo diferente e que suas preocupações de ontem foram mesmo inúteis. E o Presente? É imperceptível pela mente. Quando a mente começa a lidar com ele, já é Passado. 
Você consegue compreender?
Ah, agora entendo... Agora, neste instante, ISTO!
Agora e o que? ISTO – mas já se foi...
O Presente é sempre novo.


PARA QUE SERVE AFINAL?
Assim, você reconhecerá a você mesmo, seus pensamentos, atitudes; descobrirá suas rotinas e ganhará conhecimento a partir dos hábitos de outras pessoas. Você se libertará de seus preconceitos e falsos caminhos, porque você poderá enxergar. Você terá habilidade para enxergar o lado interior das pessoas; perceberá suas fraquezas e intenções. Não desperdiçará suas energias e não ficará preocupado ou zangado. Permanecerá em paz e tranqüilo. Nada poderá tirar seu equilíbrio.
Ao transferir a vigilância para o seu sono, você poderá entrar no limiar dos sonhos vigilantes. Você não terá mais a impressão de ter “desperdiçado tempo” em várias situações. Começará a notar com prazer pequeninas coisas e se encantará com elas. Até mesmo uma folha caindo de uma árvore o fará feliz. Sentirá a liberdade e muitas outras coisas também.

A Vigilância tem me proporcionado mais do que quaisquer outras possíveis teorias, livros, opiniões e discussões. É a experiência do “ser” que pertence somente a você (é muito difícil colocar em palavras).


COMO COMEÇAR?
Praticá-la é realmente simples. Sinta e observe tudo a seu redor, o máximo que puder, tente focar naquilo que esteja vivenciando, percebendo, pensando, conversando, etc.

É possível começar agora mesmo: seus olhos seguem cada linha deste texto. Sinta onde você está sentado e qual a posição do seu corpo, suas mãos, sua respiração, e tudo o que está a seu redor. Sossegue seus pensamentos e esteja o mais atento possível. Leia o texto e tente percebê-lo. Enquanto escrevo estas linhas, eu percebo como meus dedos deslizam pelo teclado; como vejo o monitor, e sinto a posição do meu corpo e o som do universo ambiente.

O mais fácil (relativamente) é caminhar pela rua e tentar ser vigilante somente por um instante, mas até o momento que você se aproxime de seu destino, a somente alguns passos de distância. Você verá que não é tão simples assim. Então, torne-se consciente de pequenas atitudes como calçar os sapatos, entrar no carro, etc. Ao aproximar-se de alguém e iniciar uma conversa, tente também ser vigilante. Pronuncie as palavras claramente e sem pressa – faça-o com consciência. Você sentirá uma mudança no horizonte, ao comparar com sua conversa normal, quando você diz tantas palavras inúteis. Então você pode tentar qualquer coisa que venha a sua mente: comer vigilantemente, caminhar, ler, assistir TV, fazer compras. Você não precisa dizer: “Agora estou sentado, agora estou caminhando, agora estou respirando” – isso funciona também sem pensar, somente fazer.

No início, é muito difícil permanecer como um observador por um longo período de tempo.
Com o tempo, será mais fácil, mesmo em situações mais duras. Com o tempo, manter a atenção será automático. E então, manter a vigilância se tornará uma parte óbvia e natural de você. Você até ficará surpreso do porquê as pessoas não observarem isto.

E agora, ao fim deste parágrafo? Você ainda está vigilante? Sente sua respiração e a posição de seu corpo?


VIGILÂNCIA E RESPIRAÇÃO
Observar sua respiração é uma das ferramentas mais poderosas que podem ser utilizadas para acalmar sua mente. Não é necessário alterar seu ritmo; você não precisa fazer nada. Entretanto, ao observar sua respiração, você a aprofunda um pouco. À medida que percebo minha respiração – inspiração e expiração – depois de um tempo sinto que esta respiração tornou-se meu purificador. Meus pensamentos tornam-se menos pesados e a atenção fica mais acurada a cada inspiração, como se uma brisa estivesse soprando dentro de mim.


VIGILÂNCIA AO CAMINHAR
Sempre estamos caminhando. Caminhamos todos os dias. Caminhamos até o banco, até o restaurante, até uma loja, até o cinema. Caminhar tornou-se uma atividade automática. Para chegarmos a algum lugar nós caminhamos, nossos passos têm sempre um destino. Muitas vezes nem sequer sabemos em quais lugares estivemos e o que vimos no percurso do nosso caminho. Nossa mente está ocupada com o pensar. Entretanto, é o caminhar que pode nos levar às mais lindas das meditações. É simples. É o suficiente apenas caminhar e olhar ao redor, permitir influenciar-se pelo ambiente, tranquilizar sua mente, aprofundar sua respiração e simplesmente ser. De repente, você percebe que gosta de caminhar. Você não precisa ter um destino certo; caminhar simplesmente pelo ato de caminhar – o mais bonito de todos. Se você está atento durante sua caminhada, você poderá sentir energia e conforto. Seus passos serão diferentes. As pessoas a sua volta também sentirão. Onde quer que você vá, sua caminhada será como uma caminhada em um bosque – uma caminhada em paz. As pessoas a sua volta dirão: “Hoje aquela pessoa está tendo um bom dia”. Entretanto, você não terá um dia melhor, todos os seus dias serão agradáveis.

Certo dia, eu experimentei caminhar sem destino. Era Outono e folhas coloridas caíam das árvores; o vento brincava comigo. Eu observava minha respiração, as cores, e as folhas pairando no ar. Depois de algum tempo, encontrei um homem. Ele parou e me perguntou: “Aonde você vai com este tempo?” “Vou caminhar no bosque”, respondi. “Mas, por que está indo para o bosque? Nesta época do ano, não há mais cogumelos para apanhar”. É uma pena pensarmos que o ato de caminhar tenha que ser feito sempre com algum propósito definido.


ALGUNS CONSELHOS
Não tente lutar com seus pensamentos. 
A luta com eles os deixará mais fortes.
Se quiser enfraquecê-los, concentre-se na sua essência interna e perceba o mundo ao seu redor sem julgá-lo. É importante começar seu dia tranquilizando seus pensamentos. Tente ser vigilante em todas as situações. Entretanto, no início, é mais fácil estar vigilante quando você está sozinho, por exemplo, durante sua caminhada e outras atividades simples.
No início, é difícil praticar a vigilância quando você conversa com outras pessoas e quando você está em situações intensas. Mais tarde, torna-se uma experiência muito bonita.
É mais fácil começar pela manhã do que tentar sustentar sua atenção no meio do dia.
Se estiver cansado, ou em uma situação maçante e tenha problemas para permanecer vigilante, mude esta situação, ou faça alguma coisa diferente.





in, Na Luz da Verdade 
Abdrushin





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