quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

A Náusea


"Algo me aconteceu, não posso continuar duvidando. 
Veio como uma doença, não como uma certeza ordinária nem como uma evidência. 
Instalou- se pouco a pouco, eu me senti estranho, algo incomodado, nada mais (…). 
E agora cresce." 
in,“A náusea”, p. 17

Jean- Paul Sartre ( Paris, 21/06/1905 – Paris, 15/ 04/ 1980) existencialista e marxista- humanista (correntes de pensamento que também sou simpatizante) marido da filósofa Simone de Beauvoir.




Não sabemos se Sartre escreveu “A náusea” sob o efeito de algum alucinogéno, mas o facto é que o livro é impressionante. Impressiona por causa das perfeitas descrições do personagem Antoine Roquentin passando mal, são vertiginosas. Roquentin, um escritor de 30 anos, depois de viajar muito pelo mundo, decide morar na cidade (imaginária) de Bouville, de repente começa a sentir- se estranho e começa a agir, a mudar de hábitos e pensamentos por causa do que sente. Vê as pessoas deformadas, tem vertigens, a sua percepção da realidade e das pessoas muda. É um homem solitário, seus únicos interlocutores são Anny, sua ex- namorada, uma zeladora com a qual mantém relações sexuais e o Autodidata, que é um personagem sem nome próprio, mas sabemos que é um leitor ávido, ele lê pela ordem alfabética dos autores na biblioteca da cidade; homossexual e pederasta; Roquentin o vê-o a tocar meninos na biblioteca, acabou aí a amizade e o Autodidata foi expulso da biblioteca.

Com os sentimentos à flor- da- pele, Roquentin passa a vivenciar sensações físicas que mudarão o sentido da sua vida. É o Existencialismo de Sartre gritando, pedindo a liberdade do “ser”. O homem só é homem com o seu conjunto de emoções, com as suas idiossincrasias, a vida só tem sentido assim.

Nunca senti como hoje a impressão de carecer de dimensões secretas, de estar limitado no meu corpo, aos pensamentos leves que sobem como bolhas. Construo as minhas recordações com o presente. Em vão trato de alcançar o passado: não posso escapar. (p. 62)

Sartre fala sobre uma verdade curiosa: a vida é menos interessante que a ficção. O dia a dia mata a aventura, além de tudo ser muito parecido, sem novidades. Quando a pessoa vive, não acontece nada. A decoração muda, o povo entra e sai, e isso é tudo. Nunca há começos. Os dias se sucedem aos dias sem tom nem som, numa soma interminável e monótona. Mas ao contar a vida é diferente, tudo muda; (p. 71) Todas as dificuldades dos personagens “parecem ser mais preciosas que as nossas, estão douradas pela luz das paixões futuras.” (p. 72) E pelo fim. Sabemos qual será o fim da história, controlamos o futuro.

“A Náusea”, que primeiro foi chamado de “Melancolia”, foi o primeiro romance filosófico de Sartre, começou a escrevê- lo em 1931 com 26 anos, a versão definitiva saiu em 1938.



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