terça-feira, 13 de dezembro de 2011
UM MUNDO COM DEZ PESSOAS
De tanto se falar em crise, na Global, na Europeia e na nacional, deparei comigo a pensar nas frases repetitivas que, de tanto ouvir em debates políticos, opiniões de comentadores, desabafos de empresários e simples conversas de café, me ficaram no ouvido e na mente.
Da “falta de confiança dos mercados” ao “hoje o dia começou com perdas na bolsa de Lisboa” ou ainda ao “é necessário a Europa repensar o sistema de financiamento aos seus membros”, ou então, “os políticos são uns corruptos” ao “os bancos é que têm culpa” até “os especuladores é que ganham com isto”, terminando na mais conhecida e actual “a culpa é dos alemães”, tudo serve para justificar a crise e tentar desvendar a tal solução milagrosa.
Ora muito bem, eu, um aldeão puro e genuíno, não consigo entender estas coisas à primeira e, neste caso, nem à segunda, diga-se, pelo que comecei a pensar e a repensar e, tal e qual fazia o meu saudoso avô, a contar pelos dedos chegando à seguinte conclusão, a minha: a culpa é nossa, de Portugal e dos portugueses e o problema não está nos mercados financeiros mas sim nos mercados produtivos.
Não acredita? Imagine então que vivia numa sociedade de 10 Pessoas, apenas 10. Uma semeava cereais. Outra cultivava batatas e hortícolas. Outra tratava dos animais. Outra fazia fumeiros para terem carnes todo o ano. Outra cuidava dos poços e das águas para o regadio. Outra era responsável pelo linho e por elaborar o vestuário. Outra pelas madeiras para as necessidades e também móveis. Outra pelas obras e manutenção. Outra pela pesca. Outra educava as crianças e cuidava dos idosos.
Tudo corria bem e os produtos eram trocados entre si, naturalmente.
Um dia decidiram que, como sempre que adoeciam tinham de ir à aldeia vizinha porque lá havia um médico, daqueles dez um foi estudar medicina e tornou-se o médico da aldeia. E ficaram 9 a produzir e um a prestar serviços de saúde. O médico disse que tinham que adoptar uma moeda porque precisava de ir comprar medicamentos e que só com dinheiro era possível, pelo que a aldeia começou a usar moeda. Uns dias mais tarde com as receitas, as moedas e outros hábitos, decidiram que todos tinham de aprender a escrever e que um deles tinha de ir tirar o curso de professor. Ficaram então 8 a produzir e dois a prestar serviços de saúde e educação. Mas entretanto precisaram de resolver problemas e um formou-se em direito, ficando 7 a produzir. E como os papeis já eram tantos resolveram transformar um em secretário, ficando 6 a produzir. Um outro achou que tinha ali uma oportunidade de ser enfermeiro para ajudar o médico, ficando 5 a produzir. Outro ainda entendeu que fazia falta um polícia para ajuizar o comportamento da aldeia, pelo que ficaram 4 a produzir. Depois, com tanto dinheiro a circular decidiram que tinham de ter um banqueiro, e lá ficaram apenas 3 a produzir. Como o médico gostava de roupa cara, o advogado de uns bons sapatos e o banqueiro de uma boa gravata, um deles decidiu que abrir uma boutique de luxo é que era, ficando dois na produção.
Destes dois um ficou velho e o outro abriu um lar para a terceira idade.
E mais tarde os mercados desapareceram e as pessoas voltaram à terra.
Paulo Costa
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