Temos andado a tratar do nosso espírito - ou alma, ou o que preferirem chamar-lhe - um pouco como quem trata das unhas dos pés, do cabelo, da gordura a mais na barriga, das rugas, dos pêlos e por aí fora.
A par dos inúmeros institutos de estética que proliferaram um pouco por toda a parte nos últimos anos, onde vamos cuidar da nossa imagem exterior para ficarmos 'lindinhos' por fora, houve também a proliferação dos 'centros anímicos' - onde vamos tratar da beleza interior, para ficarmos 'lindinhos' por dentro.
A oferta é para todos os gostos, todos os géneros e todas as bolsas e contempla um sem fim de técnicas, experiências, vivências e posições.
Do yoga às massagens, dos tratamentos de reiki às regressões a vidas passadas, dos retiros de silêncio às curas xamânicas, das leituras da aura ao alinhamento dos chakras, das meditações aos círculos de cura, das consultas e cursos de astrologia às palestras sobre os mais variados assuntos, das canalizações ao transe assistido, dos livros de auto-ajuda aos 'manuais de instruções' dos gurus, nunca, como nesta dita 'nova era' nos esforçámos tanto por ser (parecer?) 'lindinhos' por dentro.
Mas, afinal, lindos por dentro nós sempre fomos... ou não?
Lindos e... feios!
E é aí que reside o engodo da 'espiritualidade lindinha'.
Ao prometer-nos mundos e fundos para a alma, exactamente da mesma forma e na mesma medida que a indústria estética promete fundos e mundos para o corpo, o resultado, na maior parte das vezes, é a vivência de uma espiritualidade plástica, asséptica e aquém dos resultados que, neste momento, o universo nos pede para, realmente, ascendermos e elevarmos a humanidade à raça dos anjos.
E isso, pese embora a importância e a influência que cursos, palestras, retiros, livros, encontros, massagens, cristais e etc. e etc. e etc. poderão ter... isso não chega!
E não há ninguém neste mundo, a não ser cada um, em silêncio e consigo, quem poderá encontrar a 'receita' para que o seu espírito se manifeste neste tumulto em que transformámos a Terra.
Ainda no outro dia, pasmei perante uma 'lista de regras para a nova era' que vi por aí.
Fiquei que tempos a tentar perceber o que era que me incomodava naquilo.
Pode ser uma mera questão de conceitos, mas 'lista' e 'regras' não condizem de todo com o que entendo por 'nova era'.
A Era de Aquário, acredito, será uma manifestação de excepções - e as velhas 'listas de regras' um vício caduco da Era de Peixes, em que tentámos impor uns aos outros as nossas meias verdades.
Acredito, então, que manifestar a excepção - e o ser excepcional - que cada um de nós É, deixando os 'supostos', as 'regras' e o 'by the book' de lado é a única forma de fazer emergir a espiritualidade de que todos somos dotados.
Diz o António que a 'espiritualidade lindinha' tem os dias contados e eu estou de acordo.
Chega de andar a brincar aos iluminados, exibindo 'egos' que estão tão bem trabalhados que já quase nem damos por eles, curriculos que não têm fim de tanto que já andámos de um lado para o outro a acumular conhecimentos e cursos, asas que - para já - ainda não estão tão abertas como as dos anjos e que apenas nos deixam voar baixinho e em círculos.
A 'espiritualidade lindinha' tem os dias contados porque, primeiro, é necessário sentir, assumir, aceitar, que somos lindos e... feios!
E que a luz que emanamos não brilharia se não fossem as sombras, que todos somos também.
Inês de Barros Baptista
Susana, será?
ResponderEliminarEu concordo na íntegra com o que diz a Inês de Barros Baptista. O discurso da Nova Era já começa a ser cansativo para mim. A vida não é só luz, só paz e amor...também é Sombra, feridas por curar, emoções que se polarizam...
ResponderEliminarPara mim é muito mais importante e eficaz, em termos de evolução pessoal, o processo de auto-cura, de auto-análise.
E pontualmente, recorrer a terapeutas credíveis, que não prometem a felicidade à custa da inacção, e da ilusão.
Isto virou um negócio...
A Espiritualidade para mim é um caminho solitário...que se faz com a ajuda pontual de terapias que promovem a auto-cura...com o único fim que é a evolução humana.
Esta é a forma como sinto e vivo a minha Espiritualidade, visto que não tenho religião.
Por isso partilhei o texto.
Mas, depende muito da experiência de vida de cada um, das necessidades espirituais de cada um...
Cada pessoa é um Universo!
É perfeitamente natural que para algumas pessoas, não seja nada assim...e que sintam de outra forma.
Muito Grata pela visita, Cláudia!