"Sou um tipo que se apaixona com facilidade.
Também desanimo, verdade seja dita, com idêntica facilidade.
Volúvel, acusa a minha mãe. Talvez.
O que me atrai numa mulher é o que não sei sobre ela.
Algumas mulheres usam o silêncio como quem veste uma burca.
Um homem fica a imaginar o existe por detrás daquele silêncio pesado e escuro e sem frestas, que mal deixa adivinhar a forma do pensamento. Imaginar já é amar.
Há, depois, as mulheres que falam, mas com uma voz de tal forma sedutora, levemente rouca e ao mesmo tempo luminosa, que é como se não falassem, pois nós, os homens, apenas conseguimos reparar na voz, e não naquilo que elas dizem.
'Como podes apaixonar-te por alguém que não conheces?!', aborrece-se a minha mãe.
Precisamente, digo-lhe, ninguém se apaixona por um conhecido.
O que eu acho, aliás, é que a paixão termina no momento em que se conhece o outro. [...] Evidentemente, existem depois aquelas mulheres que nos seduzem pelo brilho do pensamento. [...] As mulheres que pensam são as mais perigosas."
José Eduardo Agualusa
in, "As Mulheres de Meu Pai"
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