quarta-feira, 19 de outubro de 2011
ACABOU-SE O FIM
Foi ontem apresentado o Orçamento de Estado 2012. Uma desgraça, uma violência, uma catástrofe.
Acabaram-se as deduções fiscais, acabaram-se os subsídio de Natal e de férias para muita gente, acabaram-se as isenções em taxas moderadoras e IMI’s e muitos outros benefícios e direitos.
Para mim, acabaram-se também outras coisas.
Acabou-se a conversa da treta. Acabou-se o veneno. Acabou-se o vir para o facebook falar mal do Vítor Gaspar, do Passos Coelho, do Sócrates e dos que lá estiveram antes deles. Acabou-se a conversa de café “pois é, isto está mal...”. Acabou-se a mania de opinar sobre a Economia e sobre as decisões tomadas, achando que sei mais que quem lá está – não sei. Acabou-se a conversa sobre a troika, o FMI, o BCE e a UE, como se na realidade soubesse do que estou a falar – quantos já leram de facto o memorando? E dos que o leram, quantos o entenderam? Acabou-se a mania da perseguição e de achar que é sempre tudo feito com o intuito de nos virem ao bolso. Acabou-se o prazer mórbido de encontrar conforto na ideia de que estamos todos mal e não sou só eu. Acabou-se o complexo dos “velhos do Restelo”, que não foram eles que nos levaram a dobrar o Cabo das Tormentas e a baptizá-lo Cabo da Boa Esperança. Acabou-se de vez a ideia parva de sair deste país e de ir para outro melhor – não há outro melhor que este, esta é a minha pátria e precisa de mim agora, e eu vou contribuir com todas as minhas forças para a levantar da lama. Não lhe virarei as costas. Acabou-se o cinzentismo e o discurso miserabilista de que não há luz ao fundo do túnel – há sempre, ela não vem é ter connosco. Acabou-se a revolta contra os que fazem mal, vinda de quem nem sequer tenta fazer bem. Acabou-se a indignação por não ter dinheiro para comprar um par de calças ou ir de férias para fora. Acabou-se o dedo acusador contra “os vigaristas do costume” e nas costas deles evitar pedir factura para pagar menos. Acabou-se a errada esperança de um dia poder abrir um negociozito com recurso a subsídios. Acabou-se a imoralidade de achar que tenho direito a tudo, apenas porque os meus pais também tiveram.
Chega. Chegou a minha hora.
Vou continuar a trabalhar para produzir e cumprir o meu papel no tecido económico, contribuindo com boa parte do meu vencimento para ajudar a pagar o que os que não podem, não pagam.
Vou deixar de me focar em tudo o que está mal – e se há muita coisa que está mal! – e começar a motivar-me com o que está bem.
Vou começar a ser parte activa nas mudanças que quero ver implementadas. Filiei-me num partido político e vou fazer ouvir a minha voz – podem ter a certeza!
Vou acordar todos os dias e vou pensar no que vou fazer hoje para que amanhã seja melhor.
Vou ser mais consciente nas minhas escolhas e nas minhas compras. Vou tentar comprar sempre Made in Portugal, mesmo que esteja habituado a outros produtos ou outras marcas. Mesmo que seja um pouco mais caro, se puder pagar, compro. Fruta? Portuguesa e da época. Legumes, idem. Combustível? Nacional. Água, cerveja vinho, café, tudo português, que são dos melhores do mundo. E vou tentar fazer as minhas compras mais no pequeno comércio local que nas grandes superfícies.
Férias ou escapadinhas, se as houver, é cá dentro, que Portugal é (mesmo) um país que vale por mil.
Vou gastar menos em coisas supérfluas e mostrar aos meus filhos que é assim que deve ser. Vou educá-los de maneira a não caírem nos mesmos erros da minha geração e das anteriores. Esse será o meu legado e o melhor que todos podemos fazer. Estamos a desperdiçar o presente. Asseguremos o futuro.
Bem sei que infelizmente há milhares de pessoas numa situação muito pior que a minha, que tenho (por enquanto) emprego e casa. Há situações desesperantes, de famílias inteiras sem nada, sem rendimentos, sem casa, sem dinheiro para por comida num prato. E pior, já tiveram tudo isso. Sinto-me um afortunado e um privilegiado, mas não me sinto mal por isso.
Quem ainda tem tudo, tem a obrigação moral de se sentir grato por isso e de ajudar estes portugueses a saírem desta situação. Trabalhando, com optimismo e sentido de união. Estamos todos no mesmo barco. Somos todos portugueses, unidos por uma visão maior que nos levou a descobrir o Mundo. Historicamente, já mostrámos do que somos capazes.
Por mim, o fim acaba aqui. Este barco não vai ao fundo.
Richard Warrell
Oeiras, 18 Outubro 2011
PS -Parafraseado livremente o grande Al Pacino (a partir dos 3m35s):
"Ou nos erguemos agora como nação, ou morremos como indivíduos."
http://www.youtube.com/watch?v=gdtQrSnEPCM
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