Pasárgada
Fars, Irão
Que queres que te diga?Não estamos velhos, se isso te consola.Mas também já soa mais a conversa.Uns passos fora e as paisagensjá nos arreganham os dentes.Entre fósforos apagados e calcanhares de aquiles,eriçaram-se flores na carcaça do animalque ia levar-nos daqui.Baixou uma névoa não sei de onde,e ando há semanas fodidocom os correios que já não asseguramserviço de e para Pasárgada.Ouve o que te digo: esta coisada realidadeestá a meter água por todos os ladose quem não se mandar agorajá não sai.Qual poesia, qual caralho!Depois de bater tudo, de ver os magrelasdos cães a guerrearem por côdeasentre os sacos de lixo da morte,o que te digo é: nem faças as malas.Onde quer que a gente venhaa fincar a bandeira dos ossos,o passado só irá atrapalhar.Diogo Vaz Pintoin, De Aurora para os Cegos da Noite
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