Um veio para aqui, o outro foi
para além, e aí estão, pendurados, a estrebuchar
como folhas nos ramos. Coisa estranha,
ninguém é já capaz de ser alegre.
Todos desesperam, e abertamente o dizem,
como se fosse uma evidência
não estar já seguro de si mesmo.
Os olhos olham e os ouvidos escutam
como antes, mas o dom, a esperança
a que se chama génio, já a perderam,
há uma espécie de azedume sempre à espreita,
a leveza que há em nós já não se anima,
e a pesadez ficou mais pesada. Tempos houve
em que eram diferentes. Hoje
já ninguém cai em desconsolo
como os felizes de outrora, que
transformavam a desgraça em contentamento;
estrebucham, estremecem como folhas,
prisioneiros da sua mediocridade,
imóveis, pendurados dos ramos.
Já ninguém reconhece os seus erros.
O seu único erro é não saberem errar.
Robert Walser
in, Estou Só e Fora do Mundo: 50 Poemas
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