segunda-feira, 2 de maio de 2022

A indisponibilidade emocional limitada dos pais

 

Jana Sterbak




Ao direcionarmos nossas acusações aos nossos pais, uma parte de nós, inconsciente, ouve isso como uma auto-acusação. Agimos como uma doença auto-imune, sobrecarregando o sistema. Em consequência, nos tornamos menos aptos para a vida e enfrentamos mais dificuldades.
Esse movimento, de brigar com a nossa raiz, traz consequências para nossa vida. 

De certa forma, isso é claro: 
brigamos com algo que faz parte de nós, emocionalmente e geneticamente.

Por causa de envolvimentos com membros de sua família de origem, com parceiros anteriores ou devido a vivências traumáticas pessoais, os pais muitas vezes não estão livres para dedicar-se aos filhos. Estes percebem que algo não está em ordem em sua relação com os pais.

Então ficam inseguros, têm a sensação de que não podem confiar e via de regra, buscam inicialmente em si mesmos a causa da perturbação do seu relacionamento.

Como filhos, o melhor lugar é o da gratidão pela oportunidade da vida que veio através dos nossos pais. Ao se permitirem serem pais, eles permitem a nossa existência.

E assim temos a chance de experimentar este mundo, ainda que com suas dores e contradições, é um lugar onde também podemos experimentar os prazeres, as conquistas e o crescimento.

Não temos escolha no que toca a nossos pais e à história da família a que somos vinculados, e também estamos subordinados às forças ordenadoras da consciência coletiva desse sistema. 
Contudo, por meio da atitude que adotamos diante das pessoas que nos pertencem, em face de sua vida e de seu destino, temos uma influência sobre como permanecemos presos nesses laços ou então, vinculados a eles de modo positivo, livres, dentro de nossas possibilidades e, num grau maior, autodeterminados. 

Seguramente cada indivíduo recebeu algo de seus pais e também sente que algo lhe falta da parte deles. Entretanto, está ao alcance de cada um aquilo a que pode conectar-se. 
Quando ele consegue olhar para o que recebeu, sente que recebeu uma dádiva e que depois também terá algo para dar aos outros. 

Enquanto permanece reivindicando e fixado no que deixou de receber, provavelmente se sente enganado pela vida e pelos pais. Então sente-se mal e carente, e posteriormente não estará disposto ou não terá condições para se doar aos outros. 

Estar em sintonia com os pais significa 
assumir o que se recebeu e, 
renunciar ao que não se pôde receber. 

Isso é uma autêntica renúncia, pois ninguém pode substituir os pais. 
O pai não pode substituir a mãe, a mãe não pode substituir o pai, os pais adotivos ou de criação não podem substituir os pais biológicos. 

Nem mesmo os companheiros de vida podem preencher essas necessidades, e muitos filhos sofrem com as projeções inconscientes de seus pais quando são forçados a substituí-los.


Stephan Hausner



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