e era noite
o espaço por mim habitado
lugar onde imaginava
os encontros do apóstolo com
“os que jaziam
na região sombria da morte”
e era noite
o tempo que me cobria quando
na mente ecoavam as palavras
que me tinham dito um dia:
“entra apenas. permanece até ao fim.
e sai mudado.”
e era noite
e eu buscava uma porta
passagem
para esse outro lugar
onde aprenderia a pegar no fogo
sem me queimar
e era noite
quando em meu peito repousaste a cabeça
teus longos cabelos
se espraiando em meu colo
caindo por trás do pescoço que
abandonaras nos meus braços
e era noite
quando mergulhei na luz do teu olhar
e cometendo uma heresia
disse: “eu sei que não sou digno
que entres na minha morada
mas diz uma palavra e serei salvo”
e era noite
quando dois rubros lábios
me revelaram com três sílabas
a porta nimbada de ternura que buscava
e resgatado ao deserto
assim me entregaste de novo à vida.
Rui Amaral Mendes
in, Frágil
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