sexta-feira, 30 de abril de 2021

Memoriam Memoriae


Esat Ferruh Gürsel





Da nem sempre sublime variedade do Mundo, 
da não rara amargura, 
do remorso, 
de tudo, 

dia a dia te nutres, dia a dia te envolves! 

Dia a dia te expandes - tão grande que és o vulto 
sobreposto por vezes à linha do horizonte...
Dia a dia no dia te enforcamos, 
                                                    e à noite 
apareces de novo no trópico do sono. 

Dia a dia, no vento. Dia a dia, no tronco. 

Tens na carne incorpórea, de memória, mil corpos, 
e concentras nos olhos, aglutinantes, glaucos 
- de um verde que não é de esperança nem de escarro, 
mas de lago, de lodo, de limo delinquente -, 
a saudade e o desprezo do Mundo que te foge, 

dia a dia no mármore, dia a dia no vento.


David Mourão-Ferreira
in, ‘Memoriam Memoriae’






Quem Eu Sou?




Para a mulher estar em equilíbrio consigo, é necessário que ela resgate em primeiro momento a sua essência, e pergunte à si:


 Quem Eu Sou? 


Se não for possível responder a essa pergunta para si mesma, é um grande sinal que a mulher está desconectada de todo o seu poder criativo e gerador mas principalmente, da sua essência.

Precisamos despertar a consciência do auto-conhecimento, é necessário sabermos quem somos, sabermos o que gostamos, sabermos os nossos valores e os nossos ideais, que por muitas vezes devido a bagagem que vamos colocando na nossa cesta de carga, vamos deixando de lado quem somos para vivermos pelo que querem que sejamos.

Nossos valores são a chave de abertura para a nossa felicidade.
Quando conseguimos honrar a nossa verdade, conseguimos nos respeitar e não admitimos estar em situações que enfraquecem a nossa essência.
Ao entrarmos em contacto com o nosso lado intuitivo, resgatamos dentro de nós uma parcela do que ficou perdido e escondido. Resgatamos quem somos, e começamos a saber o que precisamos para nos curar e para nos fortalecer. 

É necessário para toda a mulher entrar em contacto com o seu lado fêmea, aquele lado que faz dela um ser saudável, sábio e intuitivo, que honra quem ela é, da forma como ela é. É esse lado que permite que a mulher se desvincule de padrões impostos e viva o que ela deseja, e principalmente o que ela sabe.
Isso é o que fortalece a sua psique como mulher, mãe e amante.

A Natureza Feminina é cíclica e com isso, devemos lembrar que os nossos dias são um ciclo de morte e renascimento, que faz com que entremos em contacto com a nossa sombra e com a nossa luz.
Quando nos desconectamos desse lado fêmea, não encontramos o caminho de volta que nos faz ver novamente a luz, e nos escondemos dentro do nosso casulo que nos aprisiona e nos causa medo.

Ao nos conectarmos com a partícula da Grande Mãe que reside na nossa essência feminina, assim como uma lagarta que faz a sua transformação para a borboleta, saímos do nosso casulo e vemos que podemos voar... 
Mas para isso, é preciso coragem de fazer a pergunta para nós mesmas:
Quem Eu Sou?
E estarmos preparadas para muitas vezes ver que, não somos absolutamente nada do que achávamos que éramos...


Carol Shanti




terça-feira, 27 de abril de 2021

Aprendizagem


Benoit Courti 




Do mesmo modo
que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.

Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor
se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão

que a vida só consome
o que a alimenta.


Ferreira Gullar
in, “Na Vertigem do Dia”





O corpo físico é apenas energia condensada por tempo determinado





Não se esqueça de que seu corpo físico é apenas energia condensada por tempo determinado, que se transforma a cada minuto. Quando esse tempo acabar, ele voltará ao estado anterior. Seus elementos irão formar novos corpos, de acordo com as leis da vida, enquanto você continuará com seu corpo astral, sua trajetória natural de evolução.
Não é maravilhoso?
A vida é perfeita e bela!
Viver é a oportunidade de aprender a perceber a luz.
Quem percebe se ilumina, e quem está iluminado vive em paz.



Zíbia Gasparetto




sábado, 24 de abril de 2021

Traduzir-se


Ali Gandomi





Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou morte —
será arte?


Ferreira Gullar
in, “Na Vertigem do Dia” 





E se Obama fosse africano?







A nossa tentação é quase sempre maniqueísta. A visão simples que separa os “bons” dos “maus” é sempre a mais imediata. Quanto menos entendemos, mais julgamos.

A cilada maior é acreditarmos que as armadilhas estão sempre fora de nós, num mundo que temos por cruel e desumano. Ora, por muito que nos custe, nós somos também esse mundo. E as armadilhas que pensávamos exteriores residem profundamente dentro de nós. Quebrar as armadilhas do mundo é, antes de mais, quebrar o mundo de armadilhas em que se converteu o nosso próprio olhar. Precisamos de passar um programa antivírus pelo nosso hardware mental. 
Escolhi falar dessas ratoeiras interiores que nos convertem em nómadas deambulando entre ecos e sombras.

Uma das primeiras armadilhas interiores é aquilo que chamamos de “realidade”. 
Falo, é claro, da ideia de realidade que actua como a grande fiscalizadora do nosso pensamento. O maior desafio é sermos capazes de não ficar aprisionados nesse recinto que uns chamam de “razão”, outros de “bom-senso”. A realidade é uma construção social e é, frequentemente, demasiado real para ser verdadeira. Nós não temos sempre que a levar tão a sério.
Quando Ho Chi Minh saiu da prisão e lhe perguntaram como conseguiu escrever versos tão cheios de ternura numa prisão tão desumana ele respondeu: “Eu desvalorizei as paredes”. Essa lição se converteu num lema da minha conduta. Ho Chi Minh ensinou a si próprio a ler para além dos muros da prisão. Ensinar a ler é sempre ensinar a transpor o imediato. É ensinar a escolher entre sentidos visíveis e invisíveis. É ensinar a pensar no sentido original da palavra “pensar” que significava “curar” ou “tratar” um ferimento. Temos de repensar o mundo no sentido terapêutico de o salvar de doenças de que padece. Uma das prescrições médicas é mantermos a habilidade da transcendência, recusando ficar pelo que é imediatamente perceptível. Isso implica a aplicação de um medicamento chamado inquietação crítica. Significa fazermos com a nossa vida quotidiana aquilo que fizemos aqui que é deixar entrar a luz da poesia na casa do pensamento.


A mais perigosa armadilha é aquela que possui a aparência de uma ferramenta de emancipação. 
Uma dessas ciladas é a ideia de que nós, seres humanos, possuímos uma identidade essencial: somos o que somos porque estamos geneticamente programados. Ser-se mulher, homem, branco, negro, velho ou criança, ser-se doente ou infeliz, tudo isso surge como condição inscrita no ADN. Essas categorias parecem provir apenas da Natureza. A nossa existência resultaria, assim, apenas de uma leitura de um código de bases e nucleótidos.
Esta biologização da identidade é uma capciosa armadilha. 
Simone de Beauvoir disse: a verdadeira natureza humana é não ter natureza nenhuma. Com isso ela combatia a ideia estereotipada da identidade. Aquilo que somos não é o simples cumprir de um destino programado nos cromossomas, mas a realização de um ser que se constrói em trocas com os outros e com a realidade envolvente.

A imensa felicidade que a escrita me deu foi a de poder viajar por entre categorias existenciais. Na realidade, de pouco vale a leitura se ela não nos fizer transitar de vidas. 
De pouco vale escrever ou ler se não nos deixarmos dissolver por outras identidades e não reacordarmos em outros corpos, outras vozes.

A questão não é apenas do domínio de técnicas de decifração do alfabeto. Trata-se, sim, de possuirmos instrumentos para sermos felizes. E o segredo é estar disponível para que outras lógicas nos habitem, é visitarmos e sermos visitados por outras sensibilidades. É fácil sermos tolerantes com os que são diferentes. É um pouco mais difícil sermos solidários com os outros. 
Difícil é sermos outros, difícil mesmo é sermos os outros.

Uma terceira armadilha é pensar que a sabedoria tem residência exclusiva no universo da escrita. 
É olhar a oralidade como um sinal de menoridade. Com alguma condescendência, é usual pensar a oralidade como património tradicional que deve ser preservado. O culto de uma sabedoria livresca pode contrariar o propósito da cultura e do livro que é o da descoberta da alteridade.

Certa vez, um menino de rua em Maputo veio-me devolver um livro que ele vira nas mãos de uma estudante à saída da escola. Notando a minha fotografia na capa, esse menino acreditou que a estudante me tinha roubado o livro. Me comoveu esse menino que atravessou a cidade para me devolver algo que, no entender dele, me pertencia. Mas o que ele me entregava era mais do que um objecto. Ele me entregava a inquietação profunda, a interrogação: a quem pertence realmente um livro? Ele é nosso porque o adquirimos, sim. O livro deve ser objecto e mercadoria para chegar às nossas mãos. Mas só somos donos desse objecto quando ele deixa de ser objecto e deixa de ser mercadoria. O livro só cumpre o seu destino quando transitamos de leitores para produtores do texto, quando tomamos posse dele como seus co-autores.

A mais importante linha divisória em Moçambique não é tanto a fronteira que separa analfabetos e alfabetizados, mas a fronteira entre a lógica da escrita e a lógica da oralidade. A absoluta maioria dos 20 milhões de moçambicanos vive e funciona num tipo de racionalidade que tem pouco a ver com o universo urbano. Mas em Moçambique, como no resto do mundo, a lógica da escrita instalou-se com absoluta hegemonia. Nesses casos, pressupostos filosóficos do mundo rural correm o risco de ser excluídos e extintos. Algumas das ideias que venho defendendo nesta comunicação estão claramente presentes na epistemologia da ruralidade africana. A concepção relacional da identidade, inscrita no provérbio: “Eu sou os outros”; a ideia de que a felicidade se alcança não por domínio mas por harmonias; a ideia de um tempo circular; o sentimento de gerir o mundo em diálogo com os mortos: todos estes conceitos constam da rica cosmogonia rural africana. É evidente que não se pode romantizar esse mundo não urbanizado. Ele necessita de enfrentar o confronto com a modernidade. O desafio seria alfabetizar sem que a riqueza da oralidade fosse eliminada. O desafio seria ensinar a escrita a conversar com a oralidade.

Falamos em ler e pensamos apenas nos livros, nos textos escritos. O senso comum diz que lemos apenas palavras. Mas a ideia de leitura aplica-se a um vasto universo. Nós lemos emoções nos rostos, lemos os sinais climáticos nas nuvens, lemos o chão, lemos o Mundo, lemos a Vida. Tudo pode ser página. Depende apenas da intenção de descoberta do nosso olhar. Queixamo-nos de que as pessoas não lêem livros. Mas o deficit de leitura é muito mais geral. 
Não sabemos ler o mundo, não lemos os outros.

Vale a pena ler livros ou ler a Vida quando o acto de ler nos converte num sujeito de uma narrativa, isto é, quando nos tornamos personagens. 
Mais do que saber ler, será que sabemos, ainda hoje, contar histórias? 
Ou sabemos simplesmente escutar histórias onde nos parece reinar apenas silêncio?

Lembrei aqui o episódio do menino de rua porque tudo começa aí, na infância
A infância não é um tempo, não é uma idade, uma colecção de memórias. 
A infância é quando ainda não é demasiado tarde. 
É quando estamos disponíveis para nos surpreendermos, para nos deixarmos encantar. Quase tudo se adquire nesse tempo em que aprendemos o próprio sentimento do Tempo.

A verdade é que mantemos uma relação com a criança como se ela fosse uma menoridade, uma falta, um estado precário. Mas a infância não é apenas um estágio para a maturidade. É uma janela que, fechada ou aberta, permanece viva dentro de nós.

Recordo-me de que a guerra tinha deflagrado no meu país e o meu pai me levava a passear por antigas vias-férreas à procura de minérios brilhantes que tombavam dos comboios. Em redor, havia um mundo que se desmoronava mas ali estava um homem ensinando o seu filho a catar brilhos entre as poeiras do chão. Essa foi uma primeira lição de poesia. Uma lição de leitura do chão que todos os dias pisava. Meu pai me sugeria uma espécie de intimidade entre o chão e o olhar. E ali estava uma cura para uma ferida que eu não saberei nunca localizar em mim, uma espécie de memória de alguém que viveu em mim e fechou atrás de si um cortinado de brumas.

Pois eu vivo praticando a lição de leitura do meu pai que promove o chão em página. E estou aplicando o ensinamento de Ho Chi Minh que despromove a prisão em possibilidade de página. Deste modo aprendendo algo que sei que nunca chegarei a saber.

Enquanto escrevia o meu romance O último voo do flamingo viajei pelo litoral do sul de Moçambique à procura de mitos e lendas sobre o mar. Mas tal não aconteceu. Dificilmente havia histórias ou lendas. O imaginário destes povos pertencia invariavelmente à terra firme. Apesar de habitarem o litoral, os seus sonhos moravam longe do oceano.

Aos poucos fui entendendo — aquelas zonas costeiras eram habitadas por gente que chegou recentemente à beira-mar. São agricultores-pastores que foram sendo empurrados para o litoral. A sua cultura é a da imensidão da savana interior. Em suas línguas não existem palavras próprias para designar barco. O pequeno barquinho toma o nome a partir do inglês — bôte. O navio grande é chamado de xitimela xa mati (literalmente, “o comboio da água”). O próprio oceano é chamado de “lugar grande”. Pescar diz-se “matar o peixe”. Deitar a rede é “peneirar a água”.

As armadilhas de pesca são construídas à semelhança daquelas usadas na caça. Os territórios de colecta de mariscos na praia são parcelados e sujeitos a pousio, exactamente como se faz nos terrenos agrícolas. Ao contrário do que sucede no centro e no norte de Moçambique, estes povos pescam sem serem pescadores. São lavradores que também colhem no mar. O seu assunto continua sendo a semente e o fruto. Os seus sonhos moram em terra e os deuses viajam pela chuva.

Nós estamos todos como esses povos que desconheciam a relação com o mar. 
O chamado “progresso” nos empurrou para uma fronteira que é recente, e olhamos o horizonte como se fosse um abismo sem fim. Não sabemos dar nome às coisas e não sabemos sonhar neste tempo que nos cabe como nosso. Os nossos deuses dificilmente têm moradia no actual mundo.

Mas é exactamente nesse espaço de fronteira que estamos aprendendo a ser criaturas de fronteira, costureiros de diferenças e viajantes de caminhos que atravessam não outras terras mas outras gentes. 
A poesia de Gullar deu mote a este encontro. 
O poeta Gullar defende que a poesia tem por missão desafiar o impossível e dizer o indizível. 
O que o poeta faz é mais do que dar nome às coisas. 
O que ele faz é converter as coisas em aparência pura. 
O que o poeta faz é iluminar as coisas.



Mia Couto
in, e Se Obama Fosse Africano






terça-feira, 20 de abril de 2021

Súplica Final


 






Senhor: não peço mais que silêncio, 
o silêncio das noites de planície como enevoadas águas, 
o silêncio dos montes quando a tarde acabou e as pedras 
se afiam na friagem que é azul-celeste, 
o silêncio do sol encarquilhando as folhas, 
e o do vento na areia depois de ter passado, 
o silêncio das ondas ao longe espumejando tranquilas, 
o silêncio das mãos e o dos olhos, 
e o das aves negras que pairam nas alturas 
de um céu silencioso e límpido. Não peço 
mais que silêncio. O silêncio das ideias que deslizam no 
teto escorregadio da memória silente. 
E o silêncio dos sonhos coloridos, e o dos outros 
a preto e branco imagens desejadas 
que não pensei que desejava e esqueço 
ao querer lembrá-las. E o silêncio 
dos sexos que se possuem sem uma palavra. 
E o do amor também, tão silencioso esse, 
que não sei quem amo. 

Não peço mais. Afasta 
de mim o estrondo: não o das cidades, 
ou dos homens, das águas, do que estala 
na memória ou penumbra das salas desertas. 
Afasta de mim o estrondo com que a vida 
se acabará contigo, num rasgar de súbito 
em que ficarei inerte e silencioso. O estrondo 
em que não ouvirei mais nada. O estrondo 
em que não mexerei um dedo. O estrondo 
em que serei desfeito. O estrondo 
em que de olhos abertos 
alguém mos fechará. 

Senhor: não peço mais do que o silêncio do mundo, 
o silêncio dos astros, o silêncio das coisas 
que outros homens fizeram, e o das coisas 
que eu próprio fiz. E o teu silêncio 
de senhor que foi. Não peço mais. 
Não é nada o que peço. Dá-me 
o silêncio. Dá-me o que não fui: 
silêncio (porque calei tanto): 
o que não sou (pois que calo tanto): 
o que hei de ser (já que falar não adianta): 
silêncio. 

Senhor: não peço mais.


Jorge de Sena 
in, peregrinato ad loca infecta






O apego e o processo de maturidade





O apego é um dos venenos do mundo, dizem os budistas.

O apego acontece como uma resistência à vida, ao próprio processo de encarnação ou nascimento, à tentativa de ficar preso a algo que nos adia o amadurecimento, a capacidade de amadurecermos e nos empoderarmos da nossa história de maneira a assumir a responsabilidade pelas escolhas que fomos e vamos fazendo ao longo da nossa viagem.

O apego é a prisão a algo ou alguém que nos transmite segurança, amor e proteção na ilusão de que vai haver sempre alguém responsável que irá  tomar conta de nós. É um estado semelhante ao que o feto sente dentro do útero; alguém está a tomar conta e a proporcionar o necessário para a sobrevivência do bebé. Do ponto de vista do bebé, a postura é de passividade, espera,  irresponsabilidade, imaturidade, incapacidade de autonomia total.

Em vez de acompanhar os movimentos de evolução, de responsabilidade e de autonomia, a energia do apego tem o movimento oposto tentando recriar a dependência e a permanente busca de algo ou alguém que seja o provedor de amor, alimento, segurança e proteção. 

Porque idade não é sinal de maturidade, não é raro encontrarmos adultos que inconscientemente resistiram toda a vida ao processo de emancipação e maturidade emocional e vivem "apegados" a algo ou alguém a quem disfarçadamente vão buscar o que precisam.  
Amor, segurança, alimento, proteção.

  • O marido que casa em busca da "mãe". 
  • A mulher que casa em busca do "pai" ou que acha graça o marido ser mais um "filho".
  • A mulher que se anula a favor do papel de mãe e que se apega exageradamente aos filhos.
  • A pessoa que nutre todos à sua volta em busca de recriar a dependência/apego 
  • O adulto que não amadurece e que se comporta como a eterna criança achando sempre que todos à sua volta lhe devem algo a que tem direito.

E quando não são pessoas, será o dinheiro a fazer o papel da segurança, a comida a fazer o papel do alimento e conforto, o sexo a substituir o amor.

O processo de maturidade obedece a uma sequência.
Primeiro como crianças aprendemos a pedir e a receber para mais tarde sermos capazes de dar e proporcionar. Se resistimos à sequência saudável, ficamos presos à necessidade de receber, por vezes a vida toda e tornamo-nos incapazes de dar. Mais cedo ou mais tarde, a vida virá propor o equilíbrio proporcionando maneiras de curar estas resistências e desequilíbrios.


Ficam algumas pistas de como a vida nos vem convidar a sarar estas histórias:

- Ausência de amor na infância
- Mãe emocionalmente indisponível
- Abandono, rejeição, solidão
- Falta de "colo"
- Frieza emocional de quem a rodeia
- Assumir responsabilidades muito cedo
- Sentimento de ser empurrad@ para o mundo
- Medo de não ser capaz



Estas infâncias difíceis escondem a intenção de cura, consciência e equilíbrio destes apegos que podem não só durar uma vida inteira como vazar para vidas futuras. Ou seja, se a "doença" nos leva a agarrarmo-nos a alguém e a recriar a dependência e apegos, então iremos escolher uma vida onde os mesmos sejam difíceis para não dizer impossíveis de serem recriados, tal como vimos na lista acima.
Do ponto de vista do espírito, esses acordos de desapego são então actos de amor combinados que irão permitir que o processo de emancipação aconteça.
Do ponto de vista do ego, iremos sofrer e projectar a nossa dor nos "maus" que não nos deram amor".

O apego acontece quando o processo de maturidade emocional não se faz, seja por resistência da criança pelo seu apego à mãe, seja pelo apego da própria mãe que boicota a autonomia da criança, mantendo-a na situação de dependência e promovendo o apego.

Idealmente o processo de maturidade emocional começa aquando do nascimento onde o cordão umbilical é cortado, assinalando nesse pequeno ritual, o começo da viagem de emancipação desse novo ser.

Num mundo perfeito, o papel da mãe ou de quem esteja a substituir/ajudar, é então o de acolher o novo ser e aos poucos ir promovendo a sua autonomia, a sua independência e a capacidade do novo ser funcionar sozinho.

Mas este não é um mundo perfeito.
Caso fosse teríamos mães e pais e filhos perfeitos e não haveria sofrimento no mundo.
O convite da viagem na Terra é a vivência da dualidade onde cada um de nós possui o livre arbítrio para a experienciar à sua maneira. 

Logo, embora o processo de maturidade seja a proposta ideal, cada um de nós irá experienciá-lo de várias maneiras, seja a resistência ao mesmo seja pelo contrário, feito cedo demais, fenómeno que podemos observar em certas crianças que se revelam muito maduras desde cedo. E embora lhes achemos muita graça e sejam de facto mais fáceis de lidar, não quer isso dizer que sejam emocionalmente mais saudáveis.
Ou seja, podem estar a fazer uma compensação de várias vidas de apegos.

Embora seja um tema e um processo comum a todos nós, pois todos temos como proposta a viagem de maturidade emocional, tenho observado que está inconsciente em muitas pessoas. Não são difíceis de encontrar os que vivem pela vida fora como se tivessem 4 anos, cobrando, pedindo, fazendo birras, esperando e exigindo de quem os rodeia a mesma atenção e disponibilidade que tem a mãe para com o recém nascido. E porque são movimentos inconscientes, facilmente resvalamos nos seus desequilíbrios, e nos perdemos numa qualquer fonte de apego, colocando em causa o nosso processo de maturidade e evolução pessoal e espiritual.

O processo de emancipação convida a todos nós à libertação gradual de qualquer tipo de apego ou dependência.
Pede-nos autonomia, maturidade, capacidade de assumirmos o nosso caminho pessoal confiando que temos em nós os recursos suficientes para ir navegando pela vida.
Pede que identifiquemos onde é que ainda vivemos infantilmente na forma de pedir, exigir e esperar e aprendamos a ser o adulto capaz de se auto-sustentar sozinho.
Será desta autonomia que iremos então estar preparados para criar relacionamentos maduros e de qualidade. Relacionamentos onde o respeito pela individualidade e proposta pessoal de cada um é uma prioridade. Relacionamentos livres de exigências, cobranças e jogos psicológicos que mais não são do que repetições das birras infantis.

O ritual do corte do cordão umbilical assinala a nossa chegada à Terra e o início do processo de emancipação. Algures no tempo, é suposto a mãe entregar a criança à Mãe Terra que a irá sustentar e servir de apoio para percorrer o seu caminho. O pai deverá religá-la ao Pai Céu a quem irá buscar orientação e os sinais de como percorrer o caminho e cumprir a sua viagem.
O processo de maturidade não implica perder ou deixar pessoas para trás. Implica apenas libertarmo-nos de dependências interiores que temos que nos fazem acreditar que nos são essenciais quando na verdade não são...

Para as identificares, procura na tua vida onde os termos "preciso, dependo, faz-me falta, é-me essencial, não vivo sem, X é o meu pilar, etc" possam estar a esconder apegos inconscientes. 

Por mais que os amemos e queiramos que estejam sempre por perto, podemos e devemos trabalhar dentro de nós a consciência de que somos seres individuais, com histórias únicas, caminhos únicos preparados interiormente para os trilhar sozinhos.



Libertemos então o apego, 
e abençoemos 
e desfrutemos sim 
da sua companhia, 
mas em estado de liberdade, 
pois é dessa liberdade 
que nasce o verdadeiro amor.




VERA LUZ




domingo, 18 de abril de 2021

“CÂNTICO NEGRO”


 Fran García 




Cago na juventude e na contestação 
e também me cago em Jean-Luc Godard. 
Minha alma é um gabinete secreto 
e murado à prova de som 
e de Mao-Tsé-Tung. Pelas paredes 
nem uma só gravura de Lichtenstein 
ou Warhol. Nas prateleiras 
entre livros bafientos e descoloridos 
não encontrareis decerto os nomes 
de Marcuse e Cohn-Bendit. Nebulosos 
volumes de qualquer filósofo 
maldito, vários poetas graves 
e solenes, recrutados entre chineses 
do período T'ang, isabelinos, 
arcaicos, renascentistas, protonotários
- esses abundam. De pop apenas 
o saltar da rolha na garrafa 
de verdasco. Porque eu teimo, 
recuso e não alinho. Sou só. 
Não parcialmente, mas rigorosamente 
só, anomalia desértica em plena leiva. 
Não entro na forma, não acerto o passo, 
não submeto a dureza agreste do que escrevo 
ao sabor da maioria. Prefiro as minorias. 
De alguns. De poucos. De um só se necessário 
for. Tenho esperança porém; um dia 
compreendereis o significado profundo da minha 
originalidade: I am really the Underground. 


Rui Knopfli
in “Mangas verdes com sal“




Não invadir a vida dos outros





Diante de certos factos, a pretexto de fazer "o que é certo" ou "a justiça", invadimos a intimidade dos outros imaginando como as coisas teriam sido. Nesta fantasia, criamos ligações com pessoas, atraímos problemas desnecessários, colocamos em risco nosso bem-estar...
Contudo, a magia da vida, ignorando nossos desacertos, vai aos poucos revelando aspectos daqueles factos, muito diferente do que havíamos imaginado, fazendo-nos perceber a precariedade do nosso julgamento, ensinando-nos a não invadir a vida dos outros - a não invadir os outros - e a respeitar a "verdade de cada um" - se for possível.
Zíbia Gasparetto




sexta-feira, 16 de abril de 2021

FLUVIOGRAFIA


 






Não se trata de viagem
com itinerário.
A espuma decifrada oculta ainda
um leito que jamais
renunciará
ao seu insuspeito modo de amar:
sugar lentamente
os dedos incautos
com que atestamos a frieza das águas.
Tudo o que esperámos
terminou cilindrado
sob o sigiloso motim
das horas reais,
e só assim se pôde encarar a paisagem
em que de facto estávamos
e de facto fingíamos.
As viagens só são belas
para quem não as faz.
Nós, munidos de trapos e
especiosas madeiras,
estremunhados de todos os dias,
mergulhámos no tenebroso e desidêntico
vocábulo da vida: isto.


5.


Que nenhum se aflija
da pulsação tremida com que o outro
filigrana o seu coração.
Como guitarra incerta
nos fossos do silêncio,
como voz coroada
no heroísmo de falhar.
Assim, e só assim, encontraremos
a nossa religião:
sem o escândalo de a cultivarmos. 


7.


Perdoas o medo como
quem se abstrai de uma agulha.
O soro flui pelos teus olhos
fechados,
ainda que reluzam,
absorve-se no teu sangue como 
um panfleto siciliano,
não viste,
não ouviste,
sanaste dentro de ti o cancro
que lentamente te soprará - dente de leão -
os cabelos. 


17.


Cambaleando pelo alcatrão que choveu,
o bêbado soletra
ao descaso os lábios confiscados pelo torpor.
As malhas da memória
distendem-se, abrindo túneis
por onde sopra o hálito feroz
do que subsiste adiado
e agora o semáforo parece
intermitir-lhe o aceno
de um quarto mais escuro, um álcool sem amanhã.
Ninguém nunca
adormeceu a sentir os pés. 



Vasco Gato
in, A Fábrica






NA HORA CERTA





Já se falou que um romance, para vingar, precisa acontecer entre pessoas que tenham muitas afinidades.
Outros defendem que os temperamentos é que têm que combinar. 
Outros, ainda, dizem que não pode haver tanta diferença de idade, ou situação financeira discrepante. Amor à distância? Ele em Rondônia e você em Floripa? É dar muito crédito ao cupido, melhor esquecer e procurar algo mais perto do seu quintal.

Falam, falam, falam. E quanto mais se fala, menos escutamos.
Mergulhamos fundo em relações caóticas, o que quase todas são, pois dificilmente dois seres humanos se reconhecerão como almas gémeas, esse troço que dizem que existe, mas que aqui nunca bateu a campainha.

O jeito é virarmos experts no gerenciamento do caos.
E lá vamos nós amar, sofrer, viver em êxtase, viver aos prantos, apaixonados e desapaixonados, tontos pelos altos e baixos dos nossos desejos, os explícitos e os secretos. 
É isso ou sair do jogo, resignando-se à única relação que pode durar para sempre: você com sua (bendita ou maldita) solidão.

Todo esse preâmbulo não é para desanimar ninguém.
Sou da turma que diz: vá! Tenta com o bonitão e com o feioso, com o surfista e com o tiozão, com o socialista e com o neoliberal (quer tentar com a bancada evangélica, sorte aí). Vá ao encontro dos seus iguais, e também diga sim para os que você pressente que, após duas semanas, nunca mais. O amor pode estar escondido onde você nunca imaginou encontrá-lo, então use as ferramentas que te deram e boa sorte na extração. Não conheço outra aventura na vida mais educadora e mais estimulante – muitas vezes, mais frustrante também, mas qual é a alternativa?

Desistir de amar não é uma alternativa, é apenas uma estratégia para se proteger de futuras decepções. 
O amor dá certo até quando dá errado, pelo simples fato de ter acontecido.
Mas se você pleiteia a eternidade conjugal, lembre que ficha corrida ("inteligente, bonito, divertido") não garante nada. O sucesso depende apenas de algo que em bom português se chama timing: surgir na hora certa.

Os dois se encontram quando programaram os mesmos filmes para assistir até o fim dos dias. 
Os dois se encontram quando têm problemas parecidos que nunca serão resolvidos e tudo bem. 
Os dois se encontram quando a libido continua tão valorizada quanto o cérebro. 
Os dois se encontram quando ambos já abriram mão de suas idealizações, mas ainda gostam de conversar sobre elas.


Esses dois abençoados estão aptos para o amor eterno pela simples razão de terem se conhecido quando desejavam a mesma coisa da vida.
Querer o mesmo é que dá match.



Martha Medeiros





quarta-feira, 14 de abril de 2021

The Layers


 
Patrick Odorizzi







I have walked through many lives,
some of them my own,
and I am not who I was,
though some principle of being
abides, from which I struggle
not to stray.
When I look behind,
as I am compelled to look
before I can gather strength
to proceed on my journey,
I see the milestones dwindling
toward the horizon
and the slow fires trailing
from the abandoned camp-sites,
over which scavenger angels
wheel on heavy wings.
Oh, I have made myself a tribe
out of my true affections,
and my tribe is scattered!
How shall the heart be reconciled
to its feast of losses?
In a rising wind
the manic dust of my friends,
those who fell along the way,
bitterly stings my face.
Yet I turn, I turn,
exulting somewhat,
with my will intact to go
wherever I need to go,
and every stone on the road
precious to me.
In my darkest night,
when the moon was covered
and I roamed through wreckage,
a nimbus-clouded voice
directed me:
“Live in the layers,
not on the litter.”
Though I lack the art
to decipher it,
no doubt the next chapter
in my book of transformations
is already written.
I am not done with my changes.


Stanley Kunitz
in, The Collected Poems of Stanley Kunitz





JÁ PESQUISARAM REALMENTE?






Já pesquisaram fora dos media main stream (facebook, youtube, televisões e jornais incluídos - ou melhor, excluídos ;-)),

JÁ PESQUISARAM REALMENTE  sobre os testes PCR em que se baseiam para fazer um diagnóstico de "pandemia"?

já pesquisaram o que são as injecções de mRNA a que estão a chamar vacinas, mas que nem protegem de infecção, nem evitam a transmissão, mas mais grave: que NINGUÉM SABE BEM O QUE SÃO NEM O QUE FAZEM a médio e longo prazo?

(além dos milhares de casos de "efeitos imediatos" reportados em todo o mundo em sequência da vacina?)

já sabem que perguntas são importantes que toda a gente saiba responder antes de estar em condições de dar um Consentimento Informado à "vacinação" (que é, em rigor, uma experiência e nós somos os guinea-pigs?)

já pesquisaram o que dizem os cristãos acerca da "marca da besta"?

já pesquisaram o que é eugenia?

já pesquisaram como foi que se deu o Holocausto da 2ª guerra mundial? e como começou?

já se aperceberam que a Humanidade está a ser PROFUNDAMENTE testada, e não é com o PCR,

que o PCR está descredibilizado e já foi denunciado como fraude,

etc. etc. etc.?

QUEM É QUE AQUI RECONHECE QUE 

ESTÁ A ACONTECER ALGO DE PROFUNDAMENTE ERRADO

E que quando dermos - colectivamente - por isso já será demasiado tarde?

já pesquisaram o que dizem alguns dos cientistas convenientemente silenciados pelos canais mainstream (incluindo youtube, facebook, insta, jornais, televisões, etc.?)

como por exemplo (para não evocar os há já muito rotulados de "conspiracionistas", e para me cingir a médicos com conhecimento profundo destes assuntos)

Rashid Buttar

Sherri Tenpenny

Carrie Madej

VanDen Bosche

...?

queres uma sugestão que pode ser a mais importante destes tempo?

pesquisa tudo o que puderes sobre isto. Principalmente, se ainda estás a considerar ser "vacinado":

podes estar a escolher o que nem sequer imaginas que estás a escolher,

em nome de uma vida de conveniência, conformismo, submissão, e muito provavelmente - doença e morte prematura?

- e não, não é de Covid, porque esse não mata mais do que 0,3%  -

agora, as "vacinas" já mataram, só em números "oficiais", milhares de pessoas.

e vão matar muito mais, principalmente se não ACORDARMOS - 

e sabes o que é mais preocupante?

é que "isto" está tudo tão bem *engendrado, que quando as vacinas, no prazo estimado por estes cientistas, virólogos, imunologistas, etc. de 6 semanas depois da 2ª "dose", começarem a "funcionar" e a provocar MUITAS mais mortes,

"eles" vão dizer que é de uma "nova variante" e ter a justificação perfeita para AUMENTAREM as medidas de restrição, vigilância e controlo.

Tu põe-te a pau: já há legislação que permite ir a casa das pessoas buscá-las, e às crianças retira-las dos pais,

está a formar-se um novo Holocausto, e nós?

nós, desejosos de tomar a vacina para "regressar" à "normalidade"

- enquanto somos conduzidos - encurralados - como gado para o matadouro

(é só 15 dias, é só para achatar a curva, é só para ser bom cidadão, é só para salvar os avós, é só até ao verão, é só 2 metros, é só uma pica, espera, são duas, espera, daqui a 3 meses outra)

e TU TENS DE DECIDIR

se vais vibrar na Luz ou no medo,

ser um Ser Humano ou um rato,

sendo que hoje em dia

as recompensas são só para quem for rato;

mas a Vida 

será de quem lutar por ela,

em nome até dos outros - os que não só não lutam, como ainda agridem quem os defende.

... como o cão do Agostinho da Silva, que protegeu as ovelhas contra o ataque dos lobos sem que estas alguma vez se dessem conta.


Nuno Michaels



A única salvação do que é diferente é ser diferente até ao fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos. 
 Agostinho da Silva
in,  'Diário de Alcestes'





segunda-feira, 12 de abril de 2021

A sala







A sala tem uma cadeira
e a cadeira antecipa
a espera.
Alguém se sentará aí,
esperando
a imóvel noite.
O seu olhar será profundo
sob as máscaras
que roubará ao rosto,
película a película,
pele a pele.

Tanta coisa dependerá
dessa intransparente
notícia
da realidade
declinada e mortal,
dessa mudez
de linguagem e recolhimento.



LUÍS QUINTAIS





Tudo é igual numa coisa: ser diferente







De sementes idênticas nascem árvores diferentes, um casal pode ter filhos totalmente diferentes, o sol aquece e conforta uns mas pode causar cancro a outros, uma noz nutre ou mata, uma dúvida a uns perturba a outros motiva a estudar os mistérios da vida, um livro a uns ensina e a outros envaidece...
E é na diferença e na impermanência que jaz o mistério da vida.

O movimento é essencial à vida. Uma água estagnada torna-se suja, com odor desagradável e pode provocar doenças.

Somos constituídos por cerca de 70% de água, logo se a água tem de estar em movimento, também nós temos de estar em movimento: o corpo, as emoções, na criação, nos ciclos da vida.

O movimento, o deixar fluir, aceitando a diferença e impermanência, e confiando na Grande Compulsão, Inteligência Pura, Deus, Universo ou qualquer outro nome que ressoe em cada um de nós, é que leva a este estado de simplesmente sermos e nos "curarmos", libertando-nos do que não faz parte da nossa essência. 

Olhemo-nos ao espelho, simbolicamente, “sem maquilhagem” nem julgamento do que vemos, aceitando todas as nossas imperfeições e sem comparações: “our uniqueness”.

Quando já não precisamos de algo, quando não procuramos no mundo exterior e simplesmente somos quem somos, completos em nós e não separados da nossa essência e fazendo as escolhas certas individualmente, é que realmente a Vida em nós acontece.

E assim experienciamos a maravilha de simplesmente ser, estando presentes em cada momento, vivendo-o pelo que realmente é, e não pelo que poderia ou deveria ser.

Tornamo-nos canais de energia que influenciam o todo 
e a nossa diferença e movimento 
permitem a criação e evolução 
da Humanidade e do Universo.

Quando simplesmente somos, a frequência individual pura transforma e eleva quer o nosso Ser, quer o Todo.

Ao simplesmente sermos, é como se flutuássemos num tranquilo e morno mar turquesa, e vivêssemos em estado de “férias” permanente.

Deixamos de ser uma poça de água mal cheirosa e de ter uma imagem distorcida de quem somos, e passamos a ser parte de uma fresca cascata de água limpa que embeleza o mundo e nutre cada um de nós - sem água fresca não há vida -  e o reflexo no espelho é da Verdade de quão belos e simplesmente maravilhosamente somos.

A maravilha de simplesmente Ser!




Idalina Fernandes




 

quinta-feira, 8 de abril de 2021

Dia Transformado


Eduard Francés




Este é o dia novo. Sei-o pelo desejo 
De o transformar. Este é o dia transformado 
Pelo modo como apoio este dia no chão. 
Coloco-o na posição humilde dos meus joelhos na terra 
Abro-o com os olhos que retiro de todas as coisas quando os fixo 
Na atenção. 

E fico atento, fico deitado porque não sei crescer 
Num terreno que se levante. 
Cresço na clareira de um homem que é uma palavra 
Na sua túnica inteira 
Porque este é o sítio do dia sem horário 

Sem divisões 

E ponho-me de frente no seu lado, 
Nos seus braços abertos para me unir 
E entro pelo lado aberto e ardo - como Elias 
Em chamas subindo para o céu.


Daniel Faria




Why Most People Never Discover Their Purpose


by Choreograph
 



Living and working with purpose 
is a process of 
self-discovery-and one most of us 
never let ourselves undergo.


"The deepest form of despair is 
to choose to be another than himself." 
Soren Kierkegaard



We are lured into thinking that the purpose of life equals upward social mobility, establishing a career, accumulating wealth, competing (and winning), and holding power.

Even if we can admit to ourselves that we aren't fulfilled with success' trappings, all too often we cling to our illusions because they're all we know.

Here's what I'd like to propose: 
Maybe our purpose has nothing to do with what we do for a living. 
Maybe our purpose is really about living authentically and discovering who we really are.

Most people will never be able comprehend this perspective.

Here's why: 

You live from the outside in, not the inside out.

People are taught from a very young age to look to others for guidance. 
Social norming is an important part of childhood-you figure out how to act in relation to everyone else-but the problem begins when you extend that process to include something as personal as your life purpose.

Some have earned our trust and the ability to help us find our unique purpose. 
If that's you, consider yourself lucky!

But most people, even the well meaning, opt instead to fit us into a slot that makes more sense for them. To gain their approval, you willingly slide into the slot. 
To maintain the approval, you learn to chronically deny who you are.

In too many cases, you live the script for someone else's life.

You look for a career before you listen for a calling.

Our society has reduced success to a list of boxes to be checked: graduate from school, partner up, have kids, settle into a well-defined career path, and hang on until retirement checks can be collected.

This well-worn path pushes people in the direction of conformity, not purpose.

We're so busy avoiding self-induced fears of not being [fill in the blank] enough-smart enough, creative enough, pretty enough-that we rarely stop and ask, 

"Am I happy and fulfilled? 
And if not, how should I go about changing things?"

Finding your purpose is about listening to an inner calling. 

In "Let Your Life Speak," Parker Palmer says that we should let our life speak to us, not tell our life what we're going to do with it.

A calling is passionate and compulsive. 
It starts as an inkling ("I'd like to try that") then swells into a mandate that you just can't shake.

A calling isn't an easy path, which is why most of us never know it. 
We fear the struggle, the foolishness, the risk, and the unknown.

So we choose a career because it matches the boxes we've been told to check. 

You hate silence.

We live in a society that does not value silence. It values action.

But living without silence is dangerous. 
Without it, you end up believing that your ego-and all that it wants-is your purpose. 
If you play this scenario out, you know it doesn't end well.

Live a life where Ego is in charge and you're left with burnout-and a burning question:

"I have a great life. 
Why am I not fulfilled?"

Silence muffles the noise and creates a space for authenticity to surface. 
In silence, you can ask yourself questions about how your life and work are really going and pause to wait for the answer. 
In silence, you give the data of your life the time to converge into a few lessons.

Typically, though, before the lessons have time to sink in you're off to the next distraction. 

You don't like the dark side of yourself.

Carl Jung called it the shadow.

It's the underbelly of your personality that you'd rather others not see. 
It represents your deficiencies, your failures, and your selfish drives. 
Most of us flee before anyone has the chance to see this side.

But here's the thing: the part of you that's darkest has the most to teach you about your purpose.

If discovering your purpose is really about self-discovery, your darkness shows you where you most need to grow.

More importantly, it shows you from whom you most need to learn. 
And it's the people you like least who have the most to teach you about yourself.

But most ignore the dark side. 
Instead, you seek comfortable relationships that reinforce worn, stale images of yourself.

You devalue the unconscious mind.

In "The Social Animal," David Brooks takes aim at the bias in our culture that "the conscious mind writes the autobiography of our species."

Like Brooks, I believe our culture has a relative disdain for the unconscious mind and all that is represents-emotion, intuition, impulses, and sensitivities.

  1. To discover your purpose, you must get comfortable with the non-logical mind. 
  2. You must become accustomed to not having the answers. 
  3. You must tolerate ambiguity and get OK with struggling. 
  4. You must allow yourself to feel-deeply feel. 
  5. Thinking your way to a purposeful life will never work.

But this is a tall order for most people. 
One that they deny, scoff at, ridicule, or downright ignore.

Which is why most of us will live our lives having never known our true purpose.


 SHELLEY PREVOST