sábado, 22 de agosto de 2020

Epílogo







Não sei o que me recordará,
se as páginas de um livro,
se um beijo nos seios de gelo da esfinge,
se as inumeráveis fontes de onde brotavam
as lágrimas,
queimando o rosto,
descendo,
não sei se o meu nome se escreverá no 
silêncio branco das lápides,
rodeadas de aflições e ciprestes,
não pergunto o que querem de mim,
o que fizeram de mim,
e não há súplica que ecoe nos templos,
onde a minha garganta contém um soluço
ou um grito,
não há arte que enalteça todas as minhas
rugas,
toda a mágoa destes braços inertes,
abertos, implorando perdão.


José Agostinho Baptista





Deus e a Filosofia






KANT
(1724-1804)

Immanuel Kant, filósofo prussiano, disse que não há nada mais repugnante do que ver alguém ajoelhado a rezar a Deus.
Nós não queremos ser crianças. Queremos ser adultos, e tomar as nossas próprias decisões.
Abandonemos o infantário e entremos no mundo dos adultos, onde podemos, de uma vez por todas, deixar os deuses para trás.
O que ele não conseguia suportar era a serviência a uma autoridade superior.
O grande objectivo de Kant era dotar a metafísica de um fundamento sólido.
Metafísica vem do grego, e significa o que foi escrito depois da Física. E na altura, a Física era uma compilação de textos de Aristóteles sobre a Natureza. Na sua origem, a metafísica não era um assunto. Apenas os escritos que surgiram depois dos textos da Física de Aristóteles.
Kant usou a palavra Metafísica para designar um corpo de verdades necessárias e universais, não derivadas da experiência inatas à mente humana. Essas verdades existiam tanto na Física como na Moral.
Os seres humanos são agentes morais e racionais, possuem autonomia, capacidade de determinar  e decidir os seus próprios caminhos, de agir segundo princípios que eles próprios determinam, e é nisso que reside a sua dignidade. Libertos das grilhetas da religião e da superstição, evoluindo através da Educação e do Conhecimento.
Disse que, no Ser Humano, há uma predisposição para o Mal, e que apenas a Graça Divina poderá remediar a situação. Mas, nega qualquer genuína experiência de graça. Temos que ter esperança  na sua existência mas, nunca a iremos experienciar, nunca teremos nenhuma experiência de Deus.
Encontramos a nossa dignidade fazendo o que está certo sem esperar nada em troca.
E assim, contribuímos para a Ordem Moral do Universo.






KIERKEGAARD
(1813-1855)

Soren Kierkegaard, filósofo dinamarquês, rejeitou a metafísica especulativa e dizia que a fé religiosa é algo que requer um compromisso absoluto sem questionar. A fé em Deus não se baseia na quantidade de provas recolhidas de que ele responde às nossas súplicas. É uma incerteza objectiva adquirida num processo de interiorização.
Distingue a Verdade Objectiva, que é a correspondência de crenças e factos, da Verdade Subjectiva, que é a verdade do que é existir enquanto pessoa individual, finita, emocional, em evolução ou decadência.
Sabermos a verdade sobre nós mesmos é extremamente difícil.
Descobrir motivos, desejos, ideais e atitudes que se encontram profundamente ocultos. E o processo pelo qual são descobertos, muda a pessoa que somos. A observação e a forma como observamos, molda o que observamos e o que somos.
Uma pessoa com auto-conhecimento é completamente diferente da que vive na ignorância de si mesmo. Por isso, o processo que nos faz saber o que somos muda completamente o que somos. Este tipo de conhecimento, de subjectividade, é um conhecimento criativo, e não apenas descritivo. E é emocional, porque o que descobrimos quando entramos dentro de nós próprios, são reacções e respostas que expressam, escondem e perturbam o meu Ser mais íntimo, a minha interioridade, que com toda a certeza que chocam, horrorizam e me sobressaltam. É preciso a aprender a lidar com o nosso lado mais oculto. E os resultados dessa aprendizagem determinarão a minha forma de ser no futuro.
A condição humana é de medo e ansiedade perante o conhecimento dos nossos desejos, ódios, temor da morte inevitável.
Conseguir compreender isto, é conseguir conhecer a minha própria individualidade pessoal, a minha subjectividade.
A fé em Deus é uma questão de probabilidades e especulação apenas.






SARTRE
(1905-1980)

Para Jean-Paul Sartre, foi um alívio libertar-se de Deus.
Deus era o vigilante oculto, sempre a observar o que fazemos, e seria sempre impossível escapar ao olhar de censura do todo-poderoso. Deus, o Grande Ditador, aquele que estabelece o que temos de ser, como devemos pensar e como devemos agir. Toda a nossa vida não passa de uma viagem sobre carris dos quais nunca conseguimos escapar.
Sartre, só depois de se livrar de Deus, pode ser realmente livre.
Só poderemos ser verdadeiramente livres, quando formos capazes de nos tornarmos naquilo que escolhermos, libertos das convenções da religião, da fé, e sobretudo de Deus, que é o supremo moralista burguês.
A Existência precede a Essência.
Não existe um ideal que devemos seguir, estabelecido na mente divina.
Podemos ser aquilo que escolhermos.
Cabe-nos a nós darmos significado à vida. Da forma que fizer mais sentido para nós.
Para Sartre, conhecermo-nos a nós próprios, é sabermos que, na verdade, não estamos agrilhoados às convenções sociais nem às crenças religiosas ou metafísicas.
Esse conhecimento transforma a vida, ao assumirmos total responsabilidade por aquilo que somos.
Sartre era muito perspicaz e verdadeiro.
Falar em Deus é repressivo, e é usado para obter poder social sobre os outros. É uma forma de manipulação social. Assim como serve para disfarçar as nossas próprias neuroses. Mas, isto só funciona com quem acredita no poder destruidor de Deus e dele tem medo.
Nunca funcionará com pessoas que sentem que não existe uma obrigação objectiva a pesar sobre elas, a constranger as escolhas das suas vidas.
Esta crença generalizada é Má Fé. É uma fuga às responsabilidades.
E a crença é sempre prejudicial, reprime desejos, restringe escolhas, reduz as pessoas a autómatos. Faz um retrato da vida segundo o qual o indivíduo é dominado por um Big Brother sobrenatural, que nos faz sentir culpados para nos poder dar o seu perdão. Mas, sempre nos seus termos, que exigem uma entrega total.
Para nos tornarmos verdadeiramente humanos, temos que eliminar esta imagem.

   


sexta-feira, 21 de agosto de 2020

EMOÇÕES






“Não existe o bom ou o mau,
É o pensamento que os faz assim”
William Shakespeare



Emoções:
Alegria, tristeza, esperança, desespero, paixão, saudade, ganhar, perder, etc…

Coisas que não existiriam sem emoções:
  • Rock and Roll
  • Poesia
  • Guerras
  • Futebol
  • Arte
  • Etc…

Podíamos aqui continuar a enumerar todos os aspectos bons e maus, feios e bonitos, maravilhosos, surpreendentes e enriquecedores da vida humana.
Nunca existiríamos sem emoções.
Nunca sorriríamos.
E nem sequer nos importaríamos.

O QUE SÃO AS EMOÇÕES
O cérebro faz neuropeptídeos, chamados endorfinas.
As endorfinas são os nossos opiáceos gerados internamente.
Estes neuropeptídeos e os seus receptores são moléculas da emoção.
Tudo o que sentimos, todas as emoções, produzem um químico específico, ou um conjunto de químicos, que lhe correspondem. Estes químicos, ou neuropeptídeos, ou moléculas da emoção, são cadeias de aminoácidos, feitos de proteínas e são produzidos pelo hipotálamo.

“O hipotálamo, é como uma mini-fábrica, e é um local que produz certos químicos que correspondem a certas emoções que sentimos.
As emoções são a química que reforça uma experiência neurológica.
Lembramo-nos das coisas que são mais fortes e emocionais, e é assim que deve ser.”
Joe Dispenza

Toda a emoção tem um químico associado, e é a absorção desse químico no nosso corpo pelas células que dá origem à sensação dessa emoção. 
As endorfinas são o prazer básico.
E nós fomos desenhados para ter prazer.
Somos viciados em prazer, e o nosso cérebro está feito de maneira a registar o prazer e a procura-lo. E esse é o objectivo final, encontrar o prazer e evitar a dor.
É isso que conduz a evolução humana.

A ligação destas Moléculas da Emoção ao que percepcionamos e sentimos é muito directa.
Nós prestamos atenção ao que é importante, o que tem mais significado para nós, e tudo isso é transportado quimicamente de forma muito rápida ao corpo dessas Moléculas da Emoção.
O processo é:
MEMÓRIA – EMOÇÕES – RESPOSTA
Primeiro há o reconhecimento do estímulo.
Depois, a aplicação do seu significado ou interpretação.
Depois, dizer ao hipotálamo para largar neuropeptídeos na corrente sanguínea.
E finalmente, aí está a sensação. 

A nossa avaliação de TUDO tem que ver com as nossas experiências anteriores e com as nossas emoções. 

Tudo tem influencia emocional. 
E por essa razão, 
não vemos o mundo objectivamente. 


“Analisamos cada situação para determinar se é familiar, e essa sensação familiar torna-se então um significado através do qual prevemos um evento futuro. Descartamos ou rejeitamos tudo o que não tenha um sentimento porque não o conseguimos associar a um sentimento.
Quando re-experimentamos continuamente as mesmas emoções sem nunca construir sobre elas, somos apanhados no mesmo padrão de Estímulo/Resposta. ”
Joe Dispenza

PROBLEMA DAS EMOÇÕES
Em vez de realmente avaliar uma nova experiência a partir de uma perspectiva fresca, temos a tendência de presumir que é uma experiência que já tivemos. E este atalho Estímulo/Resposta é uma armadilha. Quando os mesmos eventos químicos se repetem vezes sem conta, o resultado é uma história emocional cumulativa. Esta história tem padrões identificáveis e respostas previsíveis que ficam cravadas e enraizadas nos nossos cérebros.
Isto significa que os nossos Padrões e Respostas se repetem sem que tenhamos de pensar neles. 
O Estímulo/Resposta passa a ser automático.
Mecanismo de Atalho de Sobrevivência torna-se uma armadilha sempre nas mesmas coisas.
Outra armadilha são as Emoções Escondidas, Enterradas ou Reprimidas.

As nossas emoções ajudam-nos a sobreviver ao dar-nos uma referência relâmpago que completa o puzzle antes mesmo de ter as peças. 
As Emoções dão-nos uma experiência genuína de estar vivo, sentir, amar, odiar, viver.
Sem as emoções, a vida seria um grande aborrecimento.
São o que dá cor à vida!

Mas elas proporcionam muito mais do que a mera sobrevivência.
Contribuem para a evolução constante.
Não evolução no sentido físico, mas sim no sentido não-físico, espiritual.

“Não tenho uma definição científica para Alma, mas o que posso dizer é que é um Registo de TODAS as experiências que possuímos emocionalmente. E as coisas que não possuímos emocionalmente, continuamos a re-experimentar nesta realidade, em todas as outras realidades, nesta vida, em todas as outras vidas. Assim não evoluímos. Se continuamos a sentir as mesmas emoções e nunca transformamos essa emoção numa sabedoria nunca evoluímos sentimentalmente. Não temos inspiração. Não temos mais ambições ou desejos do que o produto dos químicos no nosso corpo físico que nos mantém a viver o nosso destino genético.
Uma pessoa pode superar o destino genético, superar o feedback do corpo, superar o ambiente, superar a sua propensão emocional. 
Se quiser evoluir enquanto pessoa, escolha uma limitação acerca de si próprio e aja conscientemente  para alterar as suas propensões. Irá ganhar Sabedoria!”
Joe Dispenza

A irritação, a dor, leva-nos a mudar.
Tal como o grão de areia na ostra que cria a pérola.
As emoções agradáveis e felizes não são irritantes.
São as outras emoções, as reprimidas, sofridas, que se tornam sabedoria.
Aquela compreensão maior da vida e do que somos.

Quando foi a última vez que teve um Êxtase Superior?
Não um orgasmo sexual, um prazer físico, sensação de poder…
Mas sim aquelas experiências mais elevadas.
  • Um novo entendimento profundo; 
  • Um “Ah-Ah” revelador;
  • Uma experiência da consciência cósmica, da ligação fundamental e íntima com a Fonte;
  • É raro chagarmos a estas Dimensões porque a maior parte do tempo a humanidade está paralisada nos prazeres do sexo, sobrevivência e poder. E a forma de sair dessa prisão é pegar nas emoções mais densas e levá-las à Sabedoria.
  • Retirar-se para a Sabedoria!
  • Lidar directamente com o factor irritante até ser uma pérola.

Toda a nossa Evolução está ligada às emoções, durante toda a nossa vida.
É inevitável.
Então, como as usamos?
Estamos a desenvolvê-las em quê?
Estamos a transformarmo-nos em quê?

Paixão, amor divino, sensação de união com tudo, felicidade, experiências místicas…
Tudo são emoções, que geram neuropeptídeos que inundam o corpo e alteram a consciência propriamente dita. 

“Uma compreensão profunda, que não tenha que ver com o corpo (sexo, sobrevivência e poder) pode religar o cérebro de tal forma que pode provocar mudanças enormes no Ser Humano, e o mundo não será mais o mesmo.
É algo muito real, no sentido em que acontece algo neurológico.
Afecta-nos. Afecta os nossos corpos. Afecta as nossa mentes e a forma como em última análise respondemos a isso, como trazemos essa informação às nossas vidas, afecta os nossos comportamentos e muda-nos enquanto pessoas. É mais do que óbvio que tem consequências muito reais para nós enquanto Seres Humanos.”
Andrew Newberg

Emoções Novas!
Todas as nossas emoções foram um dia novas.
E a razão pela qual as continuamos a revisitar é por serem tão deliciosas.
A força da evolução é a possibilidade de um conjunto novo de emoções.
Ainda mais cativantes, mais inspiradoras.
Despir as camadas de memórias e hábitos e interagir com um mundo que é agora uma revelação explosiva. 

“ Um dia, estava a tratar de coisas relacionadas com a animação do documentário deste livro, e um dos animadores disse-me que nunca ia conseguir fazer aquilo que queria. E eu respondi que as pessoas me estão sempre a dizer que o que não posso fazer, e que isso começou no liceu. Andei para trás no tempo e a fazer uma lista de todos os “não podes” e de repente tive consciência de que se tratava de uma Emoção Repetida. 
Apercebi-me que há décadas que  criava esta situação. Porquê? 
Para depois poder ter a emoção “Eu disse-te! Sou mais esperto do que tu! Vai à merda!”
Usei isso como motivação para poder ser melhor do que os outros. E era a minha insegurança que estava na origem. 
Eu estava a projectar (a criar inconscientemente ) a minha dúvida.
Em vez de todo aquele drama e baixa satisfação e motivação, eu podia simplesmente criar.
Já passaram três anos, e nunca mais ninguém me disse o que não posso fazer.”
William Arntz

  
  

in, Afinal O Que Sabemos Nós?






NÃO HÁ OUTRO CAMINHO






Os poemas podem ser desolados 
como uma carta devolvida, 
por abrir. A sua verdadeira consequência
raramente nos é revelada. Quando, 
a meio de uma tarde indistinta, ou então 
à noite, depois dos trabalhos do dia, 
a poesia acomete o pensamento, nós 
ficamos de repente mais separados 
das coisas, mais sozinhos com as nossas 
obsessões. E não sabemos quem poderá 
acolher-nos nessa estranha, intranquila 
condição. Haverá quem nos diga, no fim 
de tudo: eu conheço-te e senti a tua falta? 
Não sabemos. Mas escrevemos, ainda 
assim. Regressamos a essa solidão 
com que esperamos merecer, imagine-se, 
a companhia de outra solidão. Escrevemos, 
regressamos. Não há outro caminho. 


Rui Pires Cabral
in, Morada





quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Máquina






Nem sombra de fantasma dentro da máquina.
Ser apenas máquina.
Uma máquina de ler.
Uma máquina de dar de comer aos filhos.
Uma máquina de escrever sem qwerty ou azert,
irreconhecível, mas uma máquina em todo o caso.
Uma máquina de foder.
Uma máquina de beber.
Uma máquina sem erro maquínico.
Uma máquina sem improvável intenção,
melancolia, elegia, meta-representação mortal
e desabrida.
Uma máquina que se finasse depois, sem dor,
de pura obsolescência.
Uma máquina sem dor nem tédio.
Uma máquina sem estados de alma.
Uma máquina sem alma.



 LUÍS QUINTAIS





The love of your fate







Nietzsche was the one who did the job for me.
At a certain moment in his life, the idea came to him of what he called “the love of your fate.”
Whatever your fate is, whatever the hell happens, you say, “This is what I need.” 
It may look like a wreck, but go at it as though it were an opportunity, a challenge.
If you bring love to that moment—not discouragement—you will find the strength is there.
Any disaster that you can survive is an improvement in your character, your stature, and your life. 
What a privilege!
This is when the spontaneity of your own nature will have a chance to flow.

Then, when looking back at your life, you will see that the moments which seemed to be great failures followed by wreckage were the incidents that shaped the life you have now. 
You’ll see that this is really true.
Nothing can happen to you that is not positive.
Even though it looks and feels at the moment like a negative crisis, it is not.
The crisis throws you back, and when you are required to exhibit strength, it comes.



Joseph Campbell






terça-feira, 18 de agosto de 2020

AS FAKE NEWS DO AMOR






"Quando existe amor, a relação se torna fácil.".

Nunca. É sempre um desafio, mesmo entre pessoas experientes e bem resolvidas. A maturidade ajuda, é verdade, mas supor que exista uma relação em que um não queira esganar o outro de vez em quando é acreditar muito em conto de fadas. Aliás, os contos de fadas só mostram o idílio pré-nupcial, nunca revelam as discordâncias, as concessões e a exaustão daquela parte chamada "felizes para sempre".

"Para sempre?"

Aos que conseguem se divertir e evoluir juntos por 40 anos, por 50 anos ou mais, meu respeito e minha admiração, mas a persistência pode ter motivos menos nobres, como preguiça, medo, preservação de patrimônio, manutenção do status social. "Duração" não é um valor em si. Quando temos coragem de encerrar um ciclo e nos abrimos para novos começos é que podemos de fato ir mais longe. Dois, três, quatro grandes amores durante a vida? Frivolidade nenhuma. Bendita oportunidade de expandir nosso autoconhecimento.

"Só relações sérias e firmes é que importam."

Todas as relações que nos emocionam de alguma forma e que aprimoram a arte da convivência amorosa são "sérias", incluindo as breves, soltas, leves, que não fazem a gente sentir que está arrastando uma bola de chumbo acorrentada aos pés.

"É num relacionamento que encontramos palavras de incentivo e carinho."

E é também onde somos mais atacados e criticados - intimidade demais dá nisso: bullying conjugal. O amor é para os fortes.

"O melhor de uma relação amorosa: sexo à vontade, quando quiser."

Você deve ser jovem, aproveite. Eu, que também já fui meio tarada, ultimamente ando a fim de lançar a campanha "Conchinha é o novo sexo". Meu namorado discorda 100%.

"É impossível ser feliz sozinho."

João Gilberto era um gênio, mas este romantismo às vezes confunde as pessoas. Muita gente ainda acredita que é preciso formar um casal a qualquer custo. Fundamental é mesmo o amor? Sim, mas só nos casos em que o amor é melhor do que a nossa solidão. Se não for, não é preciso se conformar com qualquer coisa.

"O amor é o lugar em que você pode ser absolutamente sincero."

Aconselhar, pedir, chorar, se abrir? Pode. Confidenciar seus traumas infantis? Que fofo. Pode. Dar uma opinião franca sobre os parentes um do outro, meter a colher sobre a educação dos enteados? Não pire. Narrar as fantasias eróticas que costuma ter com o garçom da churrascaria? Se você é do tipo que produz provas contra si mesmo, vá em frente. Falar tudo, tudo, tudo o que você pensa sobre sua alma gêmea, a fim de demonstrar a ela sua atenção plena?
Acredite: ela prefere sua desatenção prudente e educada.


Um brinde ao fascinante amor de verdade, 
que não é menos amor, 
é apenas um amor mais generoso e eficaz. 
E alma gêmea não existe, 
também é boato.




Martha Medeiros





Sei Quem é Minha Rainha







Deslizo para fora da tua casa
Pelas ruas de chuva, e acredito
Que cada transeunte com que me cruzo
Vê brilhar nos meus olhos
A alma radiosa e redimida.

Quero ao caminhar, a todo o custo
Esconder da multidão, a minha alegria,
Levo-a à pressa para minha casa;
Fecho-a no mais fundo das noites
Como um cofre dourado.

Depois retiro da sombra,
Peça após peça, os seus tesouros
E já não sei para onde olhar;
Pois cada recanto do meu quarto
Está repleto, repleto de ouro.

É uma riqueza infinita
Como nunca a noite viu
Nem o orvalho humedeceu;
E que nunca uma noiva
Por amor, recebeu

São ricos diademas
Em que as pedras são estrelas.
Ninguém o sabe. Estou,
Entre os meus tesouros como um rei,
E sei quem é minha rainha.

Rainer Maria Rilke



E o sol, depois desta nova furiosa tempestade, entra em vagas tão ricas que se julgaria verdadeiramente ver uma felicidade em autêntico ouro em cada recanto do meu quarto.
Sou rico e livre e revejo em sonhos, a plenos pulmões, cada segundo da tarde. Já não tenho nenhum desejo de sair hoje.
Quero sonhar leves sonhos e enfeitar o meu quarto com o seu brilho como se fossem as grinaldas de um acolhimento.
Quero carregar na minha noite a bênção das tuas mãos nas minhas mãos e nos meus cabelos. Não desejo falar a ninguém para não desperdiçar o eco das tuas palavras que tremula como um esmalte sobre as minhas e as faz soar mais ternas; e, depois do sol-posto, não quero ver nenhuma lâmpada para poder iluminar com o fogo dos teus olhos mil fogueiras secretas...
Quero elevar-me em ti como a oração da criança no júbilo sonoro da manhã, ou a girândola entre os astros solitários.

Recuso os sonhos que te ignoram e os desejos que não possas despertar.
Não quero fazer um gesto que não te louve, nem cuidar uma flor que não te enfeite; não quero saudar as aves que ignorem o caminho da tua janela, nem beber em ribeiros que não tenham acolhido o teu reflexo. Não quero visitar países que os teus sonhos não tenham percorrido como taumaturgos vindos de fora, nem habitar cabanas, que não tenham abrigado o teu repouso.
Nada quero saber de quem te precedeu em meus dias, nem dos seres que aí permanecem. Para esses, se o merecerem, e porque sou demasiado feliz para ser ingrato, deporei no seu túmulo, ao passar, murcha recordação. Mas a linguagem com que eles me falam agora é a das pedras tumulares e, quando pronunciam uma palavra, só sinto nos dedos frias letras mortas.
Desejarei que esses mortos estejam felizes; porque eles me desiludiram, compreenderam-me mal e trataram-me mal — e, por esse longo caminho de dor, me conduziram a ti.

Agora, eu quero ser tu.
E o meu coração arde diante da graça, como a luz eterna diante de Maria.
Tu.


Rainer Maria Rilke
in,  'Carta a Lou Andreas-Salomé, 9 de Junho de 1897'





domingo, 16 de agosto de 2020

Dois tipos de saber





Um erudito perguntou a um sábio como as coisas individuais se integram num todo, e qual é a diferença entre conhecer muitas coisas e conhecer a plenitude:

O sábio respondeu:
“O que está muito disperso se converte num todo quando se dispõe em torno de um centro e, assim centrado, atua. Pois só através de um centro o múltiplo se torna essencial e real, e sua plenitude nos aparece então como simples e até modesta, como uma força tranquila que visa ao imediato e fica na base, e próxima daquilo que ela sustenta.
Assim, para experimentar ou comunicar uma plenitude, não preciso conhecer, dizer, ter, fazer todas as coisas individualmente.
Quem entra numa cidade atravessa um único portal. Quem bate um sino uma vez faz ressoar em uníssono muitos outros sons, e quem colhe a maçã madura não precisa investigar a sua origem: ele a toma na mão e come."

“Quem busca a verdade" — objetou o erudito — , “precisa também conhecer as particularidades."

Mas o sábio contestou:
 “Só sobre as verdades velhas é que sabemos muitas coisas; a verdade que nos faz progredir é ousada e nova, pois oculta o seu fim, como a semente oculta a árvore. Assim, quem hesita em agir, querendo saber mais do que o próximo passo lhe permite, deixa escapar o que atua.
Ele toma a moeda pela mercadoria e de uma árvore faz lenha.”

O erudito achou que isso era apenas uma parte da resposta e pediu ao sábio que explicasse um pouco mais. Mas ele recusou com um gesto, pois a plenitude começa como um barril de mosto, doce e turvo, que precisa fermentar bastante até tornar -se límpido.
Quem tenta bebê -lo, em vez de prová -lo, facilmente cambaleia.



Bert Hellinger




Homage to Soren Kierkegaard






I was already an old man when I was born.
Small with a curved back, he dragged his leg when walking
the streets of Copenhagen. "Little Kierkegaard,”
they called him. Some meant it kindly. The more one suffers
the more one acquires a sense of the comic.
His hair rose in waves six inches above his head.
Save me, O God, from ever becoming sure.
What good is faith if it is not irrational?

Christianity requires a conviction of sin.
As a boy tending sheep on the frozen heath,
his starving father cursed God for his cruelty.
His fortunes changed. He grew rich and married well.
His father knew these blessings were God's punishment.
All would be stripped away. His beautiful wife died,
then five of his children. Crippled Soren survived.
The self-consuming sickness unto death is despair.

What the age needs is not a genius but a martyr.
Soren fell in love, proposed, then broke the engagement.
No one, he thought, could bear his presence daily.
My sorrow is my castle. His books were read
but ridiculed. Cartoons mocked his deformities
His private journals fill seven thousand pages.
You could read them all, he claimed, and still not know him.
He who explains this riddle explains my life.

When everyone is Christian, Christianity
does not exist. The crowd is untruth. Remember
we stand alone before God in fear and trembling.
At forty-two he collapsed on his daily walk.
Dying he seemed radiant. His skin had become
almost transparent. He refused communion
from the established church. His grave has no headstone.
Now with God's help I shall at last become myself.


Dana Gioia





sexta-feira, 14 de agosto de 2020

The hero’s journey

               





In narratology and comparative mythology, the monomyth, or the hero's journey, is the common template of a broad category of tales and lore that involves a hero who goes on an adventure, and in a decisive crisis wins a victory, and then comes home changed or transformed. 

Various scholars have introduced theories on hero myth narratives, including Edward Burnett Tylor, Otto Rank, and Lord Raglan. Eventually hero myth pattern studies were popularized by Joseph Campbell, who was influenced by Carl Jung's view of myth.
In his 1949 work The Hero with a Thousand Faces, Campbell described the basic narrative pattern as follows:

A hero ventures forth from the world of common day into a region of supernatural wonder: fabulous forces are there encountered and a decisive victory is won: the hero comes back from this mysterious adventure with the power to bestow boons on his fellow man.

Otto Rank and Lord Raglan describe hero narrative patterns in terms of Freudian psychoanalysis and ritualistic senses. Campbell deconstructs and compares religions in terms of the monomyth.






Campbell borrowed the word monomyth from James Joyce's Finnegans Wake (1939). Campbell was a notable scholar of Joyce's work and in A Skeleton Key to Finnegans Wake (1944) co-authored the seminal analysis of Joyce's final novel. Campbell's singular the monomyth implies that the "hero's journey" is the ultimate narrative archetype, but the term monomyth has occasionally been used more generally, as a term for a mythological archetype or a supposed mytheme that re-occurs throughout the world's cultures. Omry Ronen referred to Vyacheslav Ivanov's treatment of Dionysus as an "avatar of Christ" (1904) as "Ivanov's monomyth".

The phrase "the hero's journey", used in reference to Campbell's monomyth, first entered into popular discourse through two documentaries. The first, released in 1987, The Hero's Journey: The World of Joseph Campbell, was accompanied by a 1990 companion book, The Hero's Journey: Joseph Campbell on His Life and Work (with Phil Cousineau and Stuart Brown, eds.). The second was Bill Moyers's series of seminal interviews with Campbell, released in 1988 as the documentary (and companion book) The Power of Myth. Cousineau in the introduction to the revised edition of The Hero's Journey wrote "the monomyth is in effect a metamyth, a philosophical reading of the unity of mankind's spiritual history, the Story behind the story".





Campbell describes 17 stages of the monomyth. 
Not all monomyths necessarily contain all 17 stages explicitly; some myths may focus on only one of the stages, while others may deal with the stages in a somewhat different order. In the terminology of Claude Lévi-Strauss, the stages are the individual mythemes which are "bundled" or assembled into the structure of the monomyth.

The 17 stages may be organized in a number of ways, including division into three "acts" or sections:


  • Departure (also Separation),
  • Initiation (sometimes subdivided into IIA. Descent and IIB. Initiation) and
  • Return.


In the departure part of the narrative, the hero or protagonist lives in the ordinary world and receives a call to go on an adventure. The hero is reluctant to follow the call, but is helped by a mentor figure.

The initiation section begins with the hero then traversing the threshold to an unknown or "special world", where he faces tasks or trials, either alone or with the assistance of helpers.
The hero eventually reaches "the innermost cave" or the central crisis of his adventure, where he must undergo "the ordeal" where he overcomes the main obstacle or enemy, undergoing "apotheosis" and gaining his reward (a treasure or "elixir").

The hero must then return to the ordinary world with his reward. He may be pursued by the guardians of the special world, or he may be reluctant to return, and may be rescued or forced to return by intervention from the outside.
In the return section, the hero again traverses the threshold between the worlds, returning to the ordinary world with the treasure or elixir he gained, which he may now use for the benefit of his fellow man. The hero himself is transformed by the adventure and gains wisdom or spiritual power over both worlds.

Campbell's approach has been very widely received in narratology, mythography and psychotherapy, especially since the 1980s, and a number of variant summaries of the basic structure have been published. The general structure of Campbell's exposition has been noted before and described in similar terms in comparative mythology of the 19th and early 20th century, notably by Russian folklorist Vladimir Propp who divided the structure of Russian folk tales into 31 "functions".







The belly of the whale
Can be viewed as a symbolic death and rebirth in Jungian analysis.
In The Empire Strikes Back, Han Solo and Princess Leia take shelter in a cave which turns out to be the belly of a giant space slug. While there, they begin to exhibit their repressed romantic feelings; this is cross-cut with Darth Vader emerging from a clamshell-like mediation chamber and subsequently being depicted for the first time as a slave to the Emperor rather than the Empire's master.

The Road of Trials
The road of trials is a series of tests that the hero must undergo to begin the transformation. Often the hero fails one or more of these tests, which often occur in threes. Eventually the hero will overcome these trials and move on to the next step. Campbell explains that once having traversed the threshold, the hero moves in a dream landscape of curiously fluid, ambiguous forms, where he must survive a succession of trials. This is a favorite phase of the myth-adventure. It has produced a world literature of miraculous tests and ordeals. The hero is covertly aided by the advice, amulets, and secret agents of the supernatural helper whom he met before his entrance into this region. Or it may be that he here discovers for the first time that there is a benign power everywhere supporting him in his superhuman passage.
The original departure into the land of trials represented only the beginning of the long and really perilous path of initiatory conquests and moments of illumination. Dragons have now to be slain and surprising barriers passed—again, again, and again. Meanwhile there will be a multitude of preliminary victories, unsustainable ecstasies and momentary glimpses of the wonderful land.
In The Empire Strikes Back, the heroes are imperiled by ice monsters, Imperial forces, and an asteroid field before their journeys progress.

The Meeting with the Goddess
This is where the hero gains items given to him that will help him in the future. Campbell proposes that
The ultimate adventure, when all the barriers and ogres have been overcome, is commonly represented as a mystical marriage of the triumphant hero-soul with the Queen Goddess of the World. This is the crisis at the nadir, the zenith, or at the uttermost edge of the earth, at the central point of the cosmos, in the tabernacle of the temple, or within the darkness of the deepest chamber of the heart.
The meeting with the goddess (who is incarnate in every woman) is the final test of the talent of the hero to win the boon of love (charity: amor fati), which is life itself enjoyed as the encasement of eternity.
And when the adventurer, in this context, is not a youth but a maid, she is the one who, by her qualities, her beauty, or her yearning, is fit to become the consort of an immortal. Then the heavenly husband descends to her and conducts her to his bed—whether she will or not. And if she has shunned him, the scales fall from her eyes; if she has sought him, her desire finds its peace.
In The Fellowship of the Ring, Frodo meets the royal Galadriel, who shows him a vision of the future.

Woman as the Temptress
In this step, the hero faces those temptations, often of a physical or pleasurable nature, that may lead him to abandon or stray from his quest, which does not necessarily have to be represented by a woman. Woman is a metaphor for the physical or material temptations of life, since the hero-knight was often tempted by lust from his spiritual journey. Campbell relates that the crux of the curious difficulty lies in the fact that our conscious views of what life ought to be seldom correspond to what life really is. Generally we refuse to admit within ourselves, or within our friends, the fullness of that pushing, self-protective, malodorous, carnivorous, lecherous fever which is the very nature of the organic cell. Rather, we tend to perfume, whitewash, and reinterpret; meanwhile imagining that all the flies in the ointment, all the hairs in the soup, are the faults of some unpleasant someone else. But when it suddenly dawns on us, or is forced to our attention that everything we think or do is necessarily tainted with the odor of the flesh, then, not uncommonly, there is experienced a moment of revulsion: life, the acts of life, the organs of life, woman in particular as the great symbol of life, become intolerable to the pure, the pure, pure soul. The seeker of the life beyond life must press beyond [the woman], surpass the temptations of her call, and soar to the immaculate ether beyond.
In Star Wars, Luke is beguiled by Leia despite her being his sister.
In the Odyssey, Calypso tempts Odysseus to stay on the island rather than continuing his journey.

Atonement with the Father/Abyss
In this step the hero must confront and be initiated by whatever holds the ultimate power in his life. In many myths and stories this is the father, or a father figure who has life and death power. This is the center point of the journey. All the previous steps have been moving into this place, all that follow will move out from it. Although this step is most frequently symbolized by an encounter with a male entity, it does not have to be a male; just someone or thing with incredible power. Per Campbell, Atonement consists in no more than the abandonment of that self-generated double monster—the dragon thought to be God (superego) and the dragon thought to be Sin (repressed id). But this requires an abandonment of the attachment to ego itself, and that is what is difficult. One must have a faith that the father is merciful, and then a reliance on that mercy. Therewith, the center of belief is transferred outside of the bedeviling god's tight scaly ring, and the dreadful ogres dissolve. It is in this ordeal that the hero may derive hope and assurance from the helpful female figure, by whose magic (pollen charms or power of intercession) he is protected through all the frightening experiences of the father's ego-shattering initiation. For if it is impossible to trust the terrifying father-face, then one's faith must be centered elsewhere (Spider Woman, Blessed Mother); and with that reliance for support, one endures the crisis—only to find, in the end, that the father and mother reflect each other, and are in essence the same.
Campbell later expounds:
The problem of the hero going to meet the father is to open his soul beyond terror to such a degree that he will be ripe to understand how the sickening and insane tragedies of this vast and ruthless cosmos are completely validated in the majesty of Being. The hero transcends life with its peculiar blind spot and for a moment rises to a glimpse of the source. He beholds the face of the father, understands—and the two are atoned.
In The Empire Strikes Back, Luke discovers that Darth Vader is his father and subsequently escapes by falling into a chute beneath him.

Apotheosis
This is the point of realization in which a greater understanding is achieved. Armed with this new knowledge and perception, the hero is resolved and ready for the more difficult part of the adventure. Campbell discloses that those who know, not only that the Everlasting lies in them, but that what they, and all things, really are is the Everlasting, dwell in the groves of the wish-fulfilling trees, drink the brew of immortality, and listen everywhere to the unheard music of eternal concord.
In The Two Towers, Gandalf dies after fighting the Balrog and Saruman, and is subsequently resurrected in a new form.
Sherlock Holmes has an 'aha' moment whenever he has unraveled a particular criminal case.

The Ultimate Boon
The ultimate boon is the achievement of the goal of the quest. It is what the hero went on the journey to get. All the previous steps serve to prepare and purify the hero for this step, since in many myths the boon is something transcendent like the elixir of life itself, or a plant that supplies immortality, or the holy grail. Campbell confers that the gods and goddesses then are to be understood as embodiments and custodians of the elixir of Imperishable Being but not themselves the Ultimate in its primary state.
What the hero seeks through his intercourse with them is therefore not finally themselves, but their grace, i.e., the power of their sustaining substance. This miraculous energy-substance and this alone is the Imperishable; the names and forms of the deities who everywhere embody, dispense, and represent it come and go. This is the miraculous energy of the thunderbolts of Zeus, Yahweh, and the Supreme Buddha, the fertility of the rain of Viracocha, the virtue announced by the bell rung in the Mass at the consecration, and the light of the ultimate illumination of the saint and sage. Its guardians dare release it only to the duly proven.
This stage is represented by the One Ring being destroyed in The Return of the King and the Death Star being destroyed in Star Wars.
In Indiana Jones and the Last Crusade, the eponymous hero and his father find and drink holy water from the Holy Grail, which grants everlasting life.

Refusal of the Return
Having found bliss and enlightenment in the other world, the hero may not want to return to the ordinary world to bestow the boon onto his fellow man. Campbell continues:
When the hero-quest has been accomplished, through penetration to the source, or through the grace of some male or female, human or animal personification, the adventurer still must return with his life-transmuting trophy. The full round, the norm of the monomyth, requires that the hero shall now begin the labor of bringing the runes of wisdom, the Golden Fleece, or his sleeping princess, back into the kingdom of humanity, where the boon may redound to the renewing of the community, the nation, the planet, or the ten thousand worlds. But the responsibility has been frequently refused.
Even Gautama Buddha, after his triumph, doubted whether the message of realization could be communicated, and saints are reported to have died while in the supernal ecstasy. Numerous indeed are the heroes fabled to have taken up residence forever in the blessed isle of the unaging Goddess of Immortal Being.
After destroying the ring, Frodo is so exhausted he wants to give up and die rather than make the return journey.
Sherlock Holmes tends to overstay his welcome at the scene of the crime.

The Magic Flight
Sometimes the hero must escape with the boon, if it is something that the gods have been jealously guarding. It can be just as adventurous and dangerous returning from the journey as it was to go on it. Campbell reveals that if the hero in his triumph wins the blessing of the goddess or the god and is then explicitly commissioned to return to the world with some elixir for the restoration of society, the final stage of his adventure is supported by all the powers of his supernatural patron. On the other hand, if the trophy has been attained against the opposition of its guardian, or if the hero's wish to return to the world has been resented by the gods or demons, then the last stage of the mythological round becomes a lively, often comical, pursuit. This flight may be complicated by marvels of magical obstruction and evasion.
Frodo and his companion are rescued by giant eagles.
Sherlock Holmes is immediately returned by the author to 221B Baker Street after solving the crime, with the intermediate journey typically going unmentioned.

Rescue from Without
Just as the hero may need guides and assistants to set out on the quest, often he must have powerful guides and rescuers to bring them back to everyday life, especially if the person has been wounded or weakened by the experience. Campbell elucidates:
The hero may have to be brought back from his supernatural adventure by assistance from without. That is to say, the world may have to come and get him. For the bliss of the deep abode is not lightly abandoned in favor of the self-scattering of the wakened state. "Who having cast off the world," we read [in the Upanishads], "would desire to return again? He would be only there." And yet, in so far as one is alive, life will call. Society is jealous of those who remain away from it, and will come knocking at the door. If the hero—like Muchukunda—is unwilling, the disturber suffers an ugly shock; but on the other hand, if the summoned one is only delayed—sealed in by the beatitude of the state of perfect being (which resembles death)—an apparent rescue is effected, and the adventurer returns.
When Frodo is tempted to keep the One Ring rather than destroy it at Mount Doom, Gollum takes it from him, unwittingly ensuring its destruction.
At the end of the original Star Wars film, Han Solo returns in the Millennium Falcon to defend Luke so he can destroy the Death Star.

The Crossing of the Return Threshold
Campbell says in The Hero with a Thousand Faces that "The returning hero, to complete his adventure, must survive the impact of the world." The trick in returning is to retain the wisdom gained on the quest, to integrate that wisdom into a human life, and then maybe figure out how to share the wisdom with the rest of the world. Earlier in the book, Campbell says:
Many failures attest to the difficulties of this life-affirmative threshold. The first problem of the returning hero is to accept as real, after an experience of the soul-satisfying vision of fulfillment, the passing joys and sorrows, banalities and noisy obscenities of life.
Why re-enter such a world? 
Why attempt to make plausible, or even interesting, to men and women consumed with passion, the experience of transcendental bliss? 
As dreams that were momentous by night may seem simply silly in the light of day, so the poet and the prophet can discover themselves playing the idiot before a jury of sober eyes. The easy thing is to commit the whole community to the devil and retire again into the heavenly rock dwelling, close the door, and make it fast. But if some spiritual obstetrician has drawn the shimenawa across the retreat, then the work of representing eternity in time, and perceiving in time eternity, cannot be avoided.
In the penultimate chapter of The Lord of the Rings, the hobbits confront and must defeat Saruman in the Shire before things can return to normal.

Master of the Two Worlds
For a human hero, it may mean achieving a balance between the material and spiritual. The person has become comfortable and competent in both the inner and outer worlds. Campbell demonstrates that Freedom to pass back and forth across the world division, from the perspective of the apparitions of time to that of the causal deep and back—not contaminating the principles of the one with those of the other, yet permitting the mind to know the one by virtue of the other—is the talent of the master.
The Cosmic Dancer, declares Nietzsche, does not rest heavily in a single spot, but gaily, lightly, turns and leaps from one position to another. It is possible to speak from only one point at a time, but that does not invalidate the insights of the rest. The individual, through prolonged psychological disciplines, gives up completely all attachment to his personal limitations, idiosyncrasies, hopes and fears, no longer resists the self-annihilation that is prerequisite to rebirth in the realization of truth, and so becomes ripe, at last, for the great at-one-ment. His personal ambitions being totally dissolved, he no longer tries to live but willingly relaxes to whatever may come to pass in him; he becomes, that is to say, an anonymity.
By the time of Return of the Jedi, Luke has become a Jedi knight. Former Jedi knight Anakin Skywalker sheds his alter ego as the Sith lord Darth Vader when he throws down the Emperor, and, moreover, returns as a Force spirit after his death.

Freedom to Live
In this step, mastery leads to freedom from the fear of death, which in turn is the freedom to live. This is sometimes referred to as living in the moment, neither anticipating the future nor regretting the past. Campbell declares:
The hero is the champion of things becoming, not of things become, because he is. "Before Abraham was, I AM." He does not mistake apparent changelessness in time for the permanence of Being, nor is he fearful of the next moment (or of the "other thing"), as destroying the permanent with its change. Quoting Ovid's Metamorphoses:
"Nothing retains its own form; but Nature, the greater renewer, ever makes up forms from forms. Be sure that nothing perishes in the whole universe; it does but vary and renew its form."
Thus the next moment is permitted to come to pass.
In The Return of the King, the peaceful resolution is illustrated by the hobbits prospering in their homeland, while Gandalf and Frodo sail to the Undying Lands—the latter because his wound from the Nazgûl will never heal naturally.
According to Inverse, the end of Star Wars: The Rise of Skywalker sees Rey "bury the past" and reject "any power her grandfather held over her".






O monomito (às vezes chamado de "Jornada do Herói") é um conceito de jornada cíclica presente em mitos, de acordo com o antropólogo Joseph Campbell.

Campbell e outros académicos, tais como Erich Neumann, descrevem as narrativas de Gautama Buddha, Moisés e Cristo em termos do monomito e Campbell afirma que mitos clássicos de muitas culturas seguem esse padrão básico.

A ideia de monomito em Campbell explica sua ubiquidade por meio de uma mescla entre o conceito junguiano de arquétipos, forças inconscientes da concepção freudiana, e a estruturação dos ritos de passagem por Arnold van Gennep.
Este padrão da "jornada do herói" ainda é influente entre artistas e intelectuais mundo afora, o que pode indicar a utilidade contínua e a influência ubíqua dos trabalhos de Campbell (e assim como evidência sobre a importância e validade dos modelos psicológicos freudiano e especialmente junguiano).

Está dividido em três seções: 
Partida (às vezes chamada Separação),
Iniciação e
Retorno.

A Partida lida com o herói aspirando à sua jornada;
a Iniciação contém as várias aventuras do herói ao longo de seu caminho;
e o Retorno é o momento em que o herói volta a casa com o conhecimento e os poderes que adquiriu ao longo da jornada.

Isto foi estabelecido por Joseph Campbell na primeira parte de O Herói de Mil Faces, intitulada "A Aventura do Herói". A tese do autor é de que todos os mitos seguem essa estrutura em algum grau. Para citar vários exemplos, as histórias de Prometeu, Osíris, Buda e Jesus Cristo todas seguem este paradigma quase exatamente, enquanto a Odisseia apresenta repetições frequentes da Iniciação, o conto da Gata Borralheira (Cinderela) segue esta estrutura um tanto mais livremente.



Os 12 Estágios da Jornada do Herói - "The Writer's Journey" (Christopher Vogler):

  1. Mundo Comum - O mundo normal do herói antes da história começar.
  2. O Chamado da Aventura - Um problema se apresenta ao herói: um desafio ou a aventura.
  3. Reticência do Herói ou Recusa do Chamado - O herói recusa ou demora a aceitar o desafio ou aventura, geralmente porque tem medo.
  4. Encontro com o mentor ou Ajuda Sobrenatural - O herói encontra um mentor que o faz aceitar o chamado e o informa e treina para a sua aventura.
  5. Cruzamento do Primeiro Portal - O herói abandona o mundo comum para entrar no mundo especial ou mágico.
  6. Provações, aliados e inimigos ou A Barriga da Baleia - O herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial.
  7. Aproximação - O herói tem êxitos durante as provações
  8. Provação difícil ou traumática - A maior crise da aventura, de vida ou morte.
  9. Recompensa - O herói enfrentou a morte, se sobrepõe ao seu medo e agora ganha uma recompensa (o elixir).
  10. O Caminho de Volta - O herói deve voltar para o mundo comum.
  11. Ressurreição do Herói - Outro teste no qual o herói enfrenta a morte, e deve usar tudo o que foi aprendido.
  12. Regresso com o Elixir - O herói volta para casa com o "elixir", e o usa para ajudar todos no mundo comum.





Os Estágios da Aventura do Herói - "O Herói de Mil Faces" (Joseph Campbell)

  • Partida, separação
  1. Chamado à aventura
  2. Recusa do Chamado
  3. Ajuda Sobrenatural
  4. Travessia do Primeiro Limiar
  5. Barriga da baleia
  • Descida, Iniciação, Penetração
  1. Estrada de Provas
  2. Encontro com a Deusa
  3. A Mulher como Tentação
  4. Sintonia com o Pai
  5. Apoteose
  6. A Grande Conquista
  • Retorno
  1. Recusa do Retorno
  2. Voo Mágico
  3. Resgate Interior
  4. Travessia do Limiar
  5. Senhor de Dois Mundos
  6. Liberdade para Viver









quinta-feira, 13 de agosto de 2020

A inutilidade de tudo






durante meses vi amanhecer quando as aves brancas 
chegavam em silêncio. 

quantas madrugadas surgiram quando as luzes se apagavam 
no porto 
quantas gerações de poetas obscuros se sentaram nessas 
pedras cinzentas! 

eu sempre amei os continentes longínquos 
lugares estrangeiros e puros, a extrema desolação das 
aldeias adormecidas, a nostalgia dos dias atlânticos. 

mas já a minha vida fixara a mudança dos ventos 

o ciclo das estações 
a rigorosa inutilidade de tudo. 

foi nesse tempo de meditação que li rilke e eliot e 
sobretudo 
os viajantes do cognac e da morfina. 

incessantemente procurei um sentido para os dias e para 
as noites 
interroguei-me sobre as civilizações antigas 
entreguei-me a surpreendentes ofícios. 

eu guardara a desmedida fascinação dos planaltos 
a clara alegria de algumas cidades marítimas 
velhas canções do mundo     imensas revoluções. 

durante meses vi amanhecer quando as luzes se apagavam 
no porto 
e as aves brancas chegavam em silêncio; 

incessantemente procurei um sentido para os dias e para 
as noites 
interroguei-me sobre as civilizações antigas, 
entreguei-me a surpreendentes ofícios, 

a rigorosa inutilidade de tudo.


José Agostinho Baptista





Pensar Portugal







Nós somos um país de «elites», de indivíduos isolados que de repente se põem a ser gente.
Nós somos um país de «heróis» à Carlyle, de excepções, de singularidades, que têm tomado às costas o fardo da nossa história.
Nós não temos sequer núcleos de grandes homens. Temos só, de longe em longe, um original que se levanta sobre a canalhada e toma à sua conta os destinos do país.
A canalhada cobre-os de insultos e de escárnio, como é da sua condição de canalha. Mas depois de mortos, põe-os ao peito por jactância ou simplesmente ignora que tenham existido.

Nós não somos um país de vocações comuns, de consciência comum. A que fomos tendo foi-nos dada por empréstimo dos grandes homens para a ocasião.
Os nossos populistas é que dizem que não. Mas foi.

A independência foi Afonso Henriques, mas sem patriotismo que ainda não existia.
Aljubarrota foi Nuno Álvares.
Os descobrimentos foi o Infante, mas porque o negócio era bom.
O Iluminismo foi Verney e alguns outros, para ser deles todos só Pombal.
O liberalismo foi Mouzinho e a França.
A reacção foi Salazar.
O comunismo é o Cunhal.
Quanto à sarrabulhada é que é uma data deles.

Entre os originais e a colectividade há o vazio.
O segredo da nossa História está em que o povo não existe. Mas existindo os outros por ele, a História vai-se fazendo mais ou menos a horas.
Mas quando ele existe pelos outros, é o caos e o sarrabulho.
Não há por aí um original para servir?


 Vergílio Ferreira 
 in, Conta-Corrente 2




quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Tu És A Terra





Tu és a terra em que pouso.
Macia, suave, terna, e dura o quanto baste
a que teus braços como tua pernas
tenham de amor a força que me abraça.

És também pedra qual a terra às vezes
contra que nas arestas me lacero e firo,
mas de musgo coberta refrescando
as próprias chagas de existir contigo.

E sombra de árvores, e flores e frutos,
rendidos a meu gesto e meu sabor.
E uma água cristalina e murmurante
que me segreda só de amor no mundo.

És a terra em que pouso. Não paisagem,
não Madre Terra nem raptada ninfa
de bosques e montanhas. Terra humana
em que me pouso inteiro e para sempre.



Jorge de Sena