A mansidão de Deus, não das vítimas,
Seria o que havíamos colhido das cinzas da história.
Um sopro de destruições e as feridas sem sutura:
Tudo isso era demasiado humano
Para pertencer a Deus, para O dizer.
Na Sua casa, Ele permanecia
Enrolado sobre si mesmo, criança aterrorizada
Que só pode esperar, impotente, a violência
Que cairá em breve sobre Si.
E o remorso dos humanos, onde estará
Esse dispêndio, essa dor atenuada?
Pensei que a mansidão era só ausência, depois.
Que as vítimas eram os mansos,
Cordeiros narcotizados para o abate, balindo o desespero,
Chorando o só pressentido, a orfandade dos anónimos.
A lâmina desceria inapelável
Sobre a cabeça dos mansos,
Porque Deus era só mutismo, erro sem correcção,
Fogo de devorações, hálito da metáfora demoníaca.
Um outro legado vem ter comigo, hoje.
Deus é expropriado da salvação por profissionais,
Luciferinos algozes, funcionários zelosos da condenação.
De todos os lados, as almas, se de almas se trata, são laceradas.
Deus é humilhado sem deixar de salvar os que pode.
LUÍS QUINTAIS
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