quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Um livro de carne





Eu sou um homem no vácuo 
Um surdo um cego um mudo 
Sobre um imenso pedestal de silêncio negro 

Nada mais do que este olvido sem limites 
Este absoluto de um zero repetido 
A solidão íntegra e sem falhas

Não há nódoa que caia sobre o dia é pura a noite

Por vezes pego nas tuas sandálias
E vou ter contigo

Por vezes visto o teu vestido e os teus seios
Sou eu que os trago como o teu ventre no meu

Vejo-me então sob o poder da tua máscara
E reconheço-me enfim


Paul Éluard




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